Annan culpa "falta de liderança" pelo aquecimento global
2006-11-17
O secretário-geral das Nações Unidas Kofi Annan colocou a culpa pelo aquecimento global em "uma alarmante falta de liderança", afirmando que a população mais pobre do planeta, a qual não cria poluição, é quem sofre mais com os aumentos de temperatura.
"O impacto das mudanças climáticas recai desproporcionalmente nos países mais pobres do mundo, muitos deles aqui na África", disse Annan durante uma conferência sobre o clima. "As pessoas pobres já vivem nas fronteiras da poluição, desastre e degradação dos recursos ambientais. Para elas, adaptação é uma questão de sobrevivência".
Quando pressionado durante uma coletiva de imprensa após a conferência sobre seus comentários questionando falta de liderança, Annan negou estar falando dos Estados Unidos, maior fonte mundial de poluição e gases tóxicos ligados ao aumento das temperaturas. Os EUA são um dos poucos países que não ratificaram o protocolo de Kyoto, o primeiro tratado impondo limites para a emissão de poluentes.
"Meu discurso não foi dirigido a um indivíduo ou líder em particular", disse Annan. "Só gostaria que os líderes desse mundo mostrassem coragem, porque esse é um dos maiores desafios de nosso tempo".
Negociadores da conferência sobre o clima estão explorando maneiras de estabelecer novos limites de emissão para o período após 2012, época em que os termos do protocolo de Kyoto expirarão. Oficiais da administração Bush disseram que os Estados Unidos não possuem planos de aceitar quaisquer limites.
Enquanto isso, a delegação dos EUA negou fazer parte da falha de liderança a qual Annan endereçou. Paula J. Dobriansky, subsecretária de Estado para assuntos democráticos e globais, disse: "acreditamos que os EUA sejam líderes em suas iniciativas revolucionárias". Ela listou uma série de medidas, incluindo incentivos financeiros para empresas que reduzam suas emissões de poluição.
A conferência deste ano em Nairóbi, parcialmente por ter atraído muitos africanos, se concentrou na possibilidade de que os menos responsáveis pelas mudanças climáticas induzidas pela poluição sofram mais pelas conseqüencias de seus efeitos. A África, uma das regiões menos industrializadas do mundo, é um exemplo.
Os pastores das planícies do Quênia, por exemplo, cuja poluição total consiste basicamente das fogueiras que usam para cozinhar e dos poucos cigarros que fumam, sofrem com as cada vez mais freqüentes temporadas de seca, as quais muitos cientistas culpam, pelo menos parciamente, no aquecimento global.
(Por Jeffrey Gettleman, The New York Times, 16/11/2006)
http://ultimosegundo.ig.com.br/materias/nytimes/2594001-2594500/2594333/2594333_1.xml