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política nuclear
2006-11-16

O renascimento da indústria nuclear está intensificando e, em muitos casos, radicalizando as forças contrárias a ela. Na Alemanha, um dos principais exportadores dessa tecnologia, o movimento anti-atômico escolheu como tema para 2006/2007 a frase: "Vamos desligar nós mesmos as usinas atômicas" (Atomaustieg selber machen). O cartaz anunciando o início da campanha é até bem-humorado. Nele aparecem bonecos com ferramentas em punho correndo para o desmonte insano.

Entender essa proposta de radicalização não é dificil. Mesmo antes de assumir o poder, a coalizão que atualmente sustenta a primeira-ministra Angela Merkel já negociava o fim do programa de desligamento das usinas atômicas do país. Atualmente, a Alemanha tem 17 usinas nucleares produzindo 20% da sua eletricidade e todas elas devem ser desligadas até 2032, segundo um plano aprovado pelo parlamento no governo anterior, do social-democrata Gerhard Schroeder.

Com mais de 70% da população contrária à energia nuclear, segundo a Pesquisa de Opinião do Ministério do Meio Ambiente (BMU), de agosto de 2006, o plano de desligamento segue mantido. Mas há sinais de que uma decisão política, justificada pela ameaça da mudança climática ou pela segurança energética, possa reautorizar a construção de reatores. Toda semana aparece na grande mídia algum novo estudo, declaração ou opinião sobre a importância, a segurança, ou a conveniência das usinas atômicas (ver links no final do texto).

Coincidentemente, a capital alemã, Berlim, sediará na próxima semana a conferência internacional "Europa volta a investir em energia atômica", que reunirá especialistas e autoridades ligadas à indústria nuclear.

Público recorde
Apesar da propaganda, os alemães se mostram cada vez mais convencidos de que energia nuclear é um mau negócio. O primeiro protesto da campanha anti-atômica de 2006/2007, ocorrido no último final de semana, teve público recorde. Mais de 30 mil pessoas, acompanhadas por 800 tratores, participaram da marcha até o principal depósito de lixo nuclear do país no povoado de Gorleben, localizado no meio-norte alemão.

Pessoas de várias idades e classes sociais, vindas de toda Alemanha e Europa, estavam lá enfrentando a chuva e o frio outonal para deixar claro seu desacordo com mais um carregamento de resíduos altamente radioativos vindos da fábrica de plutônio de La Hague, na França.

Conhecido como "Castor", acrônimo inglês de "container para armazenamento e transporte de materiais radioativos", o comboio totalizava 12 contêineres de seis metros de comprimento, três metros de altura e centenas de toneladas cada um. Dentro deles, o combustível gasto dos reatores alemães, que depois de recondicionado na França, estava sendo reenviado para seu destino final.

Como o transporte do material é cercado por grande esquema segurança e sigilo (só na região havia 12 mil policiais), os protestos iniciados no sábado passado (11/11) estenderam-se até terça-feira (14/11).

"Não sabemos quando o Castor vai chegar, por isso o pessoal fica em vigília por vários dias", conta o redator publicitário Ullrich Christ,43, que saiu com a mulher de Berlim para curtir um fim de semana anti-atômico. Essa era a sua quinta manifestação em Gorleben. "Uma ótima oportunidade para conhecer pessoas interessantes, discutir assuntos políticos e aprender mais sobre diversos temas", diz ele.

Diferentes protestos
O evento acontece todos os anos desde 1995, e pode-se dividi-lo em dois tipos. O auge da concentração de pessoas neste ano aconteceu no sábado mesmo, num ambiente familiar composto por diversas atividades culturais e artísticas. De shows musicais a performances teatrais, teve um pano de fundo político-ideológico com direito a discursos e propaganda partidária.

A outra face dos protestos fica mais visível com a chegada da noite. Multiplicam-se os rostos cobertos, aumenta a movimentação policial. Uma grande fogueira é feita no meio da estrada entre o povoado e o famigerado depósito. Os incendiários, antes meia dúzia, se transformam em centenas, usando os pinheiros da margem como combustível para o fogo. Os policiais gravam tudo, o tempo todo, enquanto os bombeiros tentam chegar ao local para apagar o fogo. Sem sucesso. Os manifestantes não deixam o carro-pipa avançar. Logo chega a tropa de choque limpando a área, e o fogo, que já tinha labaredas de quatro metros, é apagado.

O público é dispersado pela noite, pelo frio e pela chuva, e segue vários rumos. As famílias da região vão para suas casas, muitos visitantes se despedem de Gorleben até o próximo ano. Mas, para alguns poucos milhares, a brincadeira só está começando. Divididos em grupos menores, eles se reúnem para discutir as táticas e estratégias a serem usadas nos próximos dias. Uns vão bloquear a estrada de acesso ao depósito, outros a estrada de ferro por onde o Castor deve chegar, sem falar nos que, ao melhor "estilo Greenpeace", escalam árvores e construções com faixas de protesto. Tudo com o objetivo de denunciar um problema que as autoridades e a mídia tentam transformar num fato isolado.

"O objetivo principal aqui não é chamar atenção contra o transporte de lixo nuclear, mas atacar a causa desse problema, que são as usinas", declara o engenheiro mecânico aposentado Frank Kuckler, 61. Morador da região há 20 anos, ele acrescenta que a questão não se restringe ao pequeno povoado, mas envolve todos os locais e países onde existem reatores atômicos. "Cada usina tem um depósito provisório de resíduos radioativos, que depois de um certo tempo precisam ser removidos para dar lugar a novos resíduos. O problema é que até hoje não há solução técnica para o lixo atômico: nem se consegue torná-lo menos perigoso, nem há garantias de que, ao colocá-lo num depósito como esse, os vazamentos serão evitados", explica Frank.

Faltam respostas
De fato, a falta de respostas para problemas do armazenamento mudou até a denominação do depósito em Gorleben. O que foi planejado em 1974 para ser um depósito final, acabou, após de uma série de estudos oficiais, sendo classificado como "depósito intermediário" (Zwischenlager).

Quer dizer, o governo alemão segue procurando um local para armazenar, pelos próximos cem mil anos, os resíduos altamente radioativos de seus reatores. E uma solução final parece não estar nem perto de ser encontrada. O atual ministro do meio ambiente, Sigmar Gabriel, enrolou-se todo ao dar uma entrevista ao jornal alemão Die Welt no início desta semana.

Começou dizendo que a decisão de prolongar o funcionamento de usinas atômicas seria tomada com base na lei. Tergiversou sobre a polêmica de um depósito final para os resíduos, atribuindo a responsabilidade de achar uma solução à coalizão do governo. Frisou que a tarefa está longe de acabar, mas admitiu que o atual depósito de Gorleben pode ser uma das opções, contrariando laudos técnicos de outras autarquias da esfera federal.

Entre os principais problemas do depósito estão riscos de infiltração e contaminação do lençol freático (a região fica às margens do rio Elba). Além disto, a formação geológica não é compacta suficiente para vedação e isolamento da radiação, pois Gorleben está assentada sobre uma rocha de sal. Isso fora os riscos de acidentes por falha humana.

Herança macabra
Situado no Estado de Niedersachsen, na divisa com outros três estados (Sachsen-Anhalt, Mecklenburg-Vorpommern e Brandenburg), Gorleben possui pouco menos de 700 habitantes. Apesar do tamanho modesto, é conhecida desde o século XIV. De povoamento originalmente eslavo, o nome Gorleben significa "montanha da herança", o que, considerando a polêmica que a consagrou mundialmente, faz parecer uma piada de mau gosto. Mais do que isto. Muitos já enxergam o depósito de resíduos radioativos como uma maldição que será eterna. "Mesmo com o desligamento das usinas atômicas, o lixo produzido por elas terá que ser escondido em algum lugar e, ao que tudo indica, será aqui", lamenta o aposentado Udo Baumer, 51, morador da cidade vizinha de Danenberg.

Variam as idades e as opiniões, mas o ceticismo local continua o mesmo. "Esses protestos não servem para nada. Também sou contra a energia atômica, mas, enquanto produzirmos lixo atômico, precisamos lidar nós mesmos com ele. Pior seria enviá-lo para outros países", opina o estudante Felix Law, 19, nascido e criado em Gorleben.

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(Por Mariano Senna, Ambiente JÁ, 16/11/2006)


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