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2006-11-16
Benefício para o comércio de exportação e prejuízo para o meio ambiente, principalmente, para as praias de Del Cifre, Milagres, Bairro Novo, Casa Caiada e Rio Doce, em Olinda. Esse é o saldo da construção do Porto do Recife, no ano de 1913. Uma das poucas informações existentes sobre a obra é assinada pelo engenheiro Domingos de Sá Ferraz, que alertou sobre os perigos da construção do “molhe de Olinda”. Ele vislumbrou que o aterro para as obras do porto poderiam desviar as águas do mar sobre Olinda. Fato que foi comprovado nas décadas seguintes.

A estrutura marítima com raiz em terra, é prejudicial ao meio ambiente porque altera o fluxo das correntes e das areias arrastadas, imprimindo velocidade exagerada contra a área mais ao norte da construção, relativa à cidade de Olinda. De acordo com a coordenadora do projeto Monitoramento Ambiental Integrado do Litoral Pernambucano, Núbia Guerra, a construção do Porto do Recife contribuiu com a erosão marinha na praia dos Milagres.

“Com o passar do tempo foram localizados outros pontos erosivos na cidade”, avalia. A pesquisadora explica, ainda, que os fatores naturais também ajudam no avanço do mar. Esse é um fenômeno que acontece em todo o mundo.

A história do Porto do Recife está ligada ao desenvolvimento da economia e da cultura do Estado. Durante três séculos, o local foi ponto de troca de mercadorias e abastecimento do Piauí, Ceará, Paraíba, Alagoas e Sergipe. Episódios históricos marcaram a vida social do porto. O primeiro vapor a atracar na plataforma foi o paquete São Paulo, que pertenceu ao Loyde Brasileiro. Por medidas de proteção e preservação ambiental, os depósitos do porto foram transferidos para o atual complexo industrial de Suape, no cabo de Santo Agostinho.

Força das águas castiga Olinda
Os primeiros avanços do mar em direção a praias do litoral pernambucano datam de 1925, em Olinda, Região Metropolitana do Recife. Desde a década de 20 a maré se aproxima cada vez mais à costa e, aos poucos, destrói ruas e quarteirões inteiros. Famílias perdem os lares, comerciantes reclamam da falta de um lugar fixo para trabalhar, moradores ficam assustados e a administração local procura solucionar o problema. Na terceira e última reportagem da série O mar não pede licença, a Folha de Pernambuco vistoria as praias da cidade patrimônio da humanidade.

O mar da cidade de Olinda já aportou caravelas de grandes navegações e foi palco para guerras históricas, durante os períodos da expansão marítima européia e da ocupação holandesa, respectivamente. Narrador de histórias seculares, hoje, o mar esconde restos de habitações e, principalmente, está cada vez mais próximo a faixa de terra que ainda resta em alguns pontos ao longo da orla marítima. “Há muitos anos eram três ruas onde hoje tem água. O mar chega devagar e toma conta de tudo”, relata o aposentado, Geraldo Cabral, morador de Olinda desde o ano de 1936, sobre o contínuo avanço na praia dos milagres.

Em todo o trecho de orla olindense, é possível observar os paredões de pedras - construídos em caráter de emergência -, e longos diques semi-submersos, que tem como intenção conter o avanço do mar. Na praia Del Chifre, além da erosão marinha, os moradores sofrem com a falta da atenção do poder público. “Eu jogava futebol onde está ocupado pelo mar. Agora, aqui está uma sujeira. A prefeitura não olha pela praia. E já que o mar está invadindo destrói tudo rápido”, diz o ex-marinheiro Nilton Cruz.

Os comerciantes das praias também se sentem lesados e pedem providências a administração local. De acordo com barraqueiro Manoel Ares Filho, que trabalha há oito anos na praia dos Milagres, o mar está avançando muito rápido e o espaço para a instalação da barraca é cada vez menor. “Antes os negociantes pagavam uma taxa de R$ 14,90 para a manutenção da praia, mas nada era feito, então nós paramos de pagar. Estamos nos organizando para falar com a prefeita e tentar resolver essa questão”, explica.

Alguns quilômetros a frente da praia dos Milagres, está localizado Bairro Novo. Com o calçadão reformado recentemente, a área parece confortável e atrai banhistas de toda a cidade. Entretanto, o mar apresenta sinais de avanço e os moradores arriscam palpites. “A obra está linda, mas eu acho que em dois anos estará tudo destruído. Fazer reforma aqui é como rasgar dinheiro”, afirma o barraqueiro Fernando Medeiros.

A diretora de Meio Ambiente, Maria Lúcia de Oliveira, Secretaria de Planejamento, Transporte e Meio Ambiente, explica que em decorrência do convênio de estudo ambiental integrado entre a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e quatro municípios da Região Metropolitana - Paulista, Recife e Jaboatão dos Guararapes, não é possível realizar um projeto. “A pesquisa em conjunto vai ajudar na manutenção e prevenção contra o avanço do mar”, afirma.

Na praia do Janga, em Paulista, o mar está ainda mais próximo a faixa de areia. Em todo o percurso da beira-mar apenas cerca de 50 metros de terra separam a maré das casas. Muitas residências estão com placas de venda ou aluguel, o que demonstra o medo dos moradores com a proximidade das águas. A proteção de pedras é flexível e recebe infiltrações. Mesmo com a maré baixa, para entrar no mar, os banhistas têm que descer por escadarias precárias e improvisadas em meio aos sedimentos dispostos próximo a maré.
(Folha de Pernambuco, 14/11/2006)
http://www.folhape.com.br/

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