Empresas brasileiras podem lucrar com venda de créditos de carbono, diz especialista
2006-11-14
O gerente de projetos da Novagerar Ecoenergia, Ricardo Borges, afirmou que o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), que regula o chamado mercado de carbono no âmbito do Tratado de Quioto, é uma possibilidade real de lucro para as empresas brasileiras.
A Novagerar Ecoenergia foi criada pela empresa S.A. Paulista a partir do projeto Novagerar, o primeiro do mundo a ser registrado pelo Conselho Executivo do MDL, na Alemanha, há dois anos.
Em 2007, a canalização e queima do biogás resultante da decomposição do lixo orgânico na Central de Tratamento de Resíduos de Nova Iguaçu (RJ) começará a emitir créditos de carbono – tecnicamente chamados de Reduções Certificadas de Emissão (RCEs).
Segundo Borges, a previsão é que o projeto emita 210 mil toneladas de carbono equivalente no próximo ano – o que dá um ganho estimado de 1,1 milhão de euros. Isso cobriria o investimento da S.A. Paulista no projeto, que foi de cerca de US$ 1 milhão.
“Até 2012 [quando termina o primeiro período de compromisso do Protocolo de Quioto] devemos evitar o envio de 3 milhões de toneladas de carbono equivalente para a atmosfera”, disse o gerente. “Esses créditos foram vendidos antecipadamente para a Holanda, por intermédio do Fundo de Carbono do Banco Mundial. Vamos receber por eles cerca de 13,25 milhões de euros”.
A Novagerar Ecoenergia tem outros oito projetos de MDL em processo de registro. Borges afirmou que eles estão sendo desenvolvidos com diversas fontes de financiamento: recursos da própria empresa, parcerais com empreiteiras nacionais e com financiamento do Fundo de Carbono do Banco Mundial.
“Há projetos em aterros sanitários em Recife e Petrolina (PE) e em São Gonçalo (RJ). Também pretendemos construir uma pequena central hidrelétrica no Mato Grosso”, acrescentou. “Hoje há várias empresas entrando no mercado justamente para buscar essa fatia do comércio de créditos de carbono. É um negócio muito longo, cheio de incertezas e bastante risco, mas é uma oportunidade concreta”.
O pesquisador Marcelo Rocha - membro do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada da Escola Superior de Agricultura Luís de Queiroz e da Organização não-governamental Instituto de Pesquisas Ecológicas (Ipê) - discorda.
Na avaliação dele, que é especialista em mercado de carbono, o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo não existe para gerar lucro, apenas serve para reduzir o custo de projetos de desenvolvimento sustentável.
“A expectativa de ganho econômico em relação aos projetos de carbono estão superestimadas. É preciso baixá-las e aumentar as expectativas social e ambiental”, ponderou o pesquisador, na reportagem publicada no último dia 7 pela Agência Brasil.
(Por Thaís Brianezi, Agência Brasil, 13/11/2006)
http://www.agenciabrasil.gov.br/noticias/2006/11/13/materia.2006-11-13.1487281861/view