Há três meses no comando da subsidiária brasileira da americana Monsanto, o espanhol Alfonso Alba Ordóñez declara-se desapontado com o funcionamento da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio), responsável pela avaliação de organismos geneticamente modificados (OGM) no país. "Faz um ano que a CTNBio funciona e nada foi aprovado. Algo deve estar acontecendo que não está conforme".
Em entrevista ao Valor, o executivo diz que a Lei de Biossegurança "é boa", mas recomenda mudança no processo interno do colegiado. "É um mecanismo complexo, um processo que não é simples com a [necessidade da] votação de dois terços. É um processo muito demorado e algo deve mudar". Pela lei, publicada em março de 2005, são necessários os votos de dois terços dos membros da CTNBio para garantir a liberação comercial de novos transgênicos.
Alba, que comandou a filial argentina da companhia por três anos, condiciona novos investimentos da Monsanto no país à aprovação de novos transgênicos. "As possibilidades de aquisição estão abertas, mas a CTNBio não flui. Novos investimentos estão ligados à novas aprovações", disse. "Temos opções para crescer no Brasil. Mas, por enquanto, há muitas dúvidas". Segundo ele, a empresa planeja novos negócios à medida que avancem as aprovações pela CTNBio. A Monsanto aguarda o sinal verde da comissão para a liberação comercial de dois tipos de milho e de um algodão transgênico. Também estão na fila um milho da Syngenta e tipos de algodão e arroz da Bayer CropScience, além de uma vacina da Schering-Plough.
Para Alba, tem sido "saudável" para a Monsanto a maior concorrência com outras empresas de biotecnologia. "A Monsanto estava só apanhando, apanhando e as outras só pesquisando", diz. "A CTNBio demorou e, agora, a concorrência está chegando". Ele admite que a exclusividade da Monsanto na soja transgênica "gerava medo" na sociedade "por estar na mão de uma empresa". "Agora, tira um pouco do foco", conclui.
Envolvido com as negociações para o pagamento de royalties na Argentina, o executivo informa que a empresa avalia suspender a cobrança dos valores dos produtores na hora de vender a safra às tradings. Segundo ele, à medida em que houver um aumento nas vendas de sementes certificadas, será possível rever a política. "Quando o produtor decidir usar a tecnologia certificada, podemos discutir a retirada da cobrança de royalties na outra ponta". A recente redução dos royalties anunciada pela empresa no Brasil gerou perdas "significativas" para a companhia. Mas será compensada no futuro. "Foi algo significativo no balanço. Mas dará um incentivo para o futuro ao expandir tecnologia e estimular vendas futuras", afirma.
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Valor Econômico, 14/11/2006)