ONU estimula construção de cisternas para coleta de água da chuva no combate à seca
2006-11-14
Diante do crescente processo de degradação ambiental e do aquecimento global causado pela emissão de gases do efeito estufa, o acesso à água torna-se uma questão crucial, sobretudo, para os habitantes das áreas mais pobres, rurais ou suscetíveis a secas. Uma questão de sobrevivência que, segundo especialistas, pode ser em muitos casos solucionada com baixos investimentos.
Durante a Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas, que ocorre em Nairóbi (Quênia) até o dia 17 de novembro, a UNEP (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente) e o World Agroforestry Center (Centro Mundial de Agroflorestas) divulgaram estudo sobre os benefícios de se coletar água da chuva através da construção de cisternas.
Esse sistema vem sendo adotado no Brasil através do projeto "1 milhão de cisternas", coordenado pela ASA (Articulação do Semi-Árido), cujo objetivo é construir cisternas no semi-árido brasileiro, composto por 1.482 municípios numa área correspondente a 15,7% do território nacional, englobando 32 milhões de pessoas (cerca de 20% da população brasileira). Até o momento, a ASA informa que já foram construídas 164 mil cisternas.
O projeto brasileiro foi citado por organizações quenianas envolvidas em projetos similares no país como um caso de sucesso. O Quênia, por exemplo, possui quantidade de chuva suficiente para suprir de água uma população 6 a 7 vezes maior do que o seu total de habitantes, de 40 milhões. O mesmo ocorre no país vizinho, a Etiópia, onde 46% da população sofre de fome e apenas um quinto têm abastecimento de água.
Para Achim Steiner, diretor executivo da UNEP, é importante que organizações, governos e organismos de financiamento estimulem projetos de captação de água da chuva. "Esses projetos são capazes de melhorar sensivelmente a qualidade de vida de comunidades. Pessoas que antes precisavam caminhar quilômetros para conseguir água, passam a ter acesso em sua própria comunidade. Com isso, sobra tempo para trabalhar, aumentar sua renda e levar as crianças para a escola", ressalta Steiner.
Agnes Mosoni Loirket, líder comunitária Masai (uma das tribos do Quênia), diz que antes da cisterna muitas mulheres não podiam trabalhar. "Hoje, podemos usar o tempo que perdíamos para buscar água fazendo artesanato e melhorando a nossa vida", enfatiza Agnes, que caminhava diariamente cerca de 10 quilômetros para obter água.
A UNEP indicou também que, atualmente, 14 dos 53 países do continente africano sofrem de escassez de água e que esse número de países afetados pode dobrar até 2025. "A crise de água na África é mais um problema de falta de investimentos do que um problema crônico de escassez, como muitas pessoas acreditam", aponta o estudo da UNEP.
(Por Juliana Radler, Envolverde, 13/11/2006)
http://www.envolverde.com.br/materia.php?cod=24538&edt=1