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2006-11-13
A Companhia Vale do Rio Doce (CVRD) teve lucro líquido de R$ 10,1 bilhões nos nove primeiros deste ano. Boa parte do lucro é arrecadado no Espírito Santo, mas a população capixaba paga caro: usinas de pelotização com 40 anos de uso provocam poluição que geram doenças, cujo custo do tratamento atinge R$ 65 milhões por ano, só para os moradores da Grande Vitória.

Os ganhos da Vale são crescentes. Em 2005, a empresa anunciou um lucro líquido de R$ 10,4 bilhões, 61,7% superior ao de 2004. O lucro do ano passado foi recorde, que já foi batido pelo lucro de 2006.

Um ótimo desempenho para uma empresa que foi enxugada e praticamente doada à iniciativa privada, pelo presidente Fernando Henrique Cardoso. Foi vendida em 1997 por US$ 3,338 bilhões. Um nada, pelo que valia, com a agravante de, pelo processo montado pelo governo entreguista de FHC, as ações da Vale foram parar nas mãos dos conglomerados transnacionais.

A empresa tem avidez de lucro e programa a expansão da produção em escala planetária. O que toca para a Grande Vitória é a expansão da produção de pelotas de minério de ferro. A empresa produziu 27,8 milhões de toneladas de pelotas de ferro em 2005 e quer produzir mais 11,5 milhões de toneladas, totalizando uma produção de 39,3 milhões de toneladas de pelotas de ferro por ano em Tubarão (construirá sua 8ª usina e ampliará velhas unidades).

A empresa comprou serviço da Cepemar, empresa de consultoria ambiental, para montar um programa de mentiras para a comunidade. A Vale diz que as "emissões", como chama a poluição que provoca, vão ser reduzidas mesmo com a expansão da produção em 45%.

A Vale já tem um passivo com os moradores da Grande Vitória somente na área de saúde de R$ 2,34 bilhões, pois opera há 36 anos. Há a agravante de que muitas das doenças produzidas pela poluição, como alguns tipos de câncer, não têm cura.

Apesar dos astronômicos lucros da Vale, a empresa é de total avareza. Foi obrigada a reconhecer na audiência publica para licenciamento de sua 8ª usina que alguns de seus aparelhos de controle da poluição são obsoletos e terá que fazer sua troca. É o caso de alguns precipitadores eletrostáticos.

Mas jamais procurou enclausurar as áreas de transferência de minério, uma fonte permanente de emissões. Agora, como busca licença do Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Iema) para seu projeto de expansão, anuncia que passará adotar esta medida, entre, outras que devia empregar há mais de três décadas.

A Vale responde por 20-25% dos poluentes do ar na região da Grande Vitória 264 toneladas/dia (96.360 toneladas/ano). É parceira da também transnacional CST e Belgo (essas da Arcelor - Mittal). Juntas as empresas provocam poluição que custaram a R$ 3,7 a R$ 4,4 bilhões para tratamento de saúde na Grande Vitória. Cada morador da Grande Vitória gasta R$ 100,00, por ano, para tratar as doenças causadas pela poluição.

Entre os poluentes, micropartículas de ferro, as PM2.5, que vão contaminar os pulmões, além de derivados do enxofre que, em contato com a água, produzem ácido sulfúrico. O ácido pode lesar a pele e também ser inalado. Ao todo, são 59 os tipos de poluentes, sendo 28 altamente nocivos à saúde. Os gases são os mais letais.

As doenças causadas pela CST demandam R$ 50 milhões anuais para tratamento, e a poluição da Belgo R$ 18.000.000,00 por ano para serem tratadas. Com os gastos criados pela poluição da Vale, R$ 65 milhões anuais, a média dos gastos dos moradores da Grande Vitória para buscar recuperar a saúde prejudica pela poluição varia anualmente de R$ 133 a R$ 160 milhões.

Mas os lucros da Vale são gerados ainda por suas usinas de pelotização de Ponta Ubu (pela Samarco, onde a Vale é sócia igualitária da australiana BHP Billiton em três usinas de pelotização), na divisa de Anchieta e Guarapari, no sul do Estado. Com a 3ª usina de pelotização, aumentará de 14 para 21,5 milhões toneladas a produção de pelotas de ferro em Ubu.

Mas a Vale reserva para a região de Ubu gigantescos projetos, na realidade uma nova Tubarão: além das de três usinas de pelotização (em associação com a Samarco) construirá mais quatro unidades deste tipo em Ubu. Construirá uma siderúrgica em parceria com a multinacional francesa Arcelor Brasil. A contribuição dos capixabas para o lucro da Vale será, portanto, crescente.

Para a região sul, está reservado, ainda, outros projetos poluidores, como um porto da Petrobras, que será construído em Ubu. O governo do Estado quer ainda para a região um pólo petroquímico, incluindo uma refinaria de petróleo, que serão atendidos por uma ferrovia, que ligará a Grande Vitória a Cachoeiro de Itapemirim.
(Por Ubervalter Coimbra, Século Diário, 10/11/2006)
http://www.seculodiario.com.br/arquivo/2006/novembro/10/index.asp

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