Cerca de 10,5 mil empregos diretos, 2,1 milhões de toneladas de
celulose por ano, 60 indústrias integradas à produção em maior ou
menor escala. Esses números são uma mostra do que os gaúchos poderão
acompanhar a partir de 2011 em Guaíba, com a implantação da nova
fábrica da Aracruz Celulose no Estado.
Maior complexo industrial de produção da mercadoria no mundo, a
unidade da empresa no município de Aracruz, no Espírito Santo, deve
perder, porém, em modernidade para a que deve começar a ser erguida
na cidade vizinha da Capital no fim de 2008.
- Vamos aplicar tudo que aprendemos aqui e o que não aplicamos ainda
na fábrica de Guaíba. Vai ser mais moderna do que as três que temos
aqui (no Espírito Santo), que são integradas. O último projeto tem que
ser o melhor - afirma o diretor da Aracruz Celulose, Walter Lidio
Nunes.
A modernidade a que Nunes se refere diz respeito a tecnologias novas
em políticas ambientais, de produção e de automatização.
- Teremos muitas melhorias no que tange ao ambiente, com redução no
consumo de água na fábrica e redução de odores e de emissões, com
sistema de gases atualizado - explica.
Logística incluirá uso de terminais fluviais
Berço da Aracruz no Brasil, o complexo localizado em Barra do Riacho,
no Espírito Santo, fica a um quilômetro e meio do mar, onde um porto
na frente da fábrica, o Portocel, serve de porta de exportação de 98%
da produção da empresa. A base florestal de 330 mil hectares - 116
mil de preservação - se espalha pelo Espírito Santo, sul da Bahia, um
pouco de Minas Gerais e do norte do Rio.
A matéria-prima vai até a fábrica por três modais logísticos:
rodoviário, ferroviário e marítimo, por meio de barcaças. O trem com
madeira chega a entrar dentro do complexo da fábrica. No Rio Grande
do Sul, a implantação da nova fábrica também deve alterar a logística
já existente.
- A logística será tratada de forma totalmente inovadora. Não vamos
usar só o modal rodoviário para levar a madeira até a fábrica. Vamos
aproveitar o Jacuí e criar terminais fluviais em Cachoeira do Sul e
Rio Pardo para dar maior competitividade no transporte por barcaças. O
projeto já está em andamento e deve reduzir a emissão de poluentes -
comenta, acrescentando que, no porto de Rio Grande, haverá um terminal
exclusivo para o embarque da celulose, que será 100% exportada para a
Ásia.
Nunes comenta que o projeto da nova unidade de Guaíba encontra-se
agora em fase de compras de terra para a expansão da base florestal.
Dos 100 mil hectares para o plantio de eucalipto no Estado, 30 mil
já foram adquiridos e cerca de 600 empregos gerados. Quanto à fábrica,
a expectativa é de que no próximo ano o projeto de engenharia seja
efetuado e as obras, iniciadas no fim de 2008.
- Tudo vai depender do mercado - avisa Nunes, levando em consideração
a previsão de que a fábrica entre em operações em 2011.
Faça a comparação
A Aracruz no Espírito Santo
Produção: 2,1 milhões de toneladas por ano
Empregos: 10,5 mil entre próprios e terceirizados
Base florestal: 330 mil hectares (214 mil de plantio e 116 mil de
preservação)
Pólo industrial: 60 indústrias integradas à produção em maior ou menor
escala
A atual unidade de Guaíba
Produção: 430 mil toneladas por ano
Empregos: 950 na unidade e 1,2 mil na base florestal (próprios e de
terceirizados permanentes)
Base florestal: 47,9 mil hectares de floresta e 16,6 mil hectares de
preservação
A nova unidade de Guaíba*
Produção: 3 milhão de toneladas por ano
Empregos: 12,5 mil durante a construção, 250 na área industrial e mil
na área florestal
Base florestal: 100 mil hectares** (área de plantio de eucalipto) e 55
mil hectares destinados à preservação
* Início de produção previsto para 2011
** 30% pelo menos virão de produtores associados
Confira os outros dois projetos do setor no Rio Grande do Sul:
VCP - Votorantim Celulose e Papel
> Está em fase de licenciamento socioambiental para a instalação de
uma fábrica na Metade Sul, com início das obras previsto para entre
2009 e 2011.
> O local exato ainda não está decidido, mas será no eixo Rio Grande, Pelotas e Arroio Grande.
> O investimento, incluindo a base florestal, é estimado em US$ 1,3 bilhão, com a geração de 4
mil postos de trabalho.
Stora Enso
> Em fase de estudos de localização, uma unidade industrial está
prevista para sair do papel a partir de 2013.
> Até agora a empresa adquiriu 45 mil hectares no Rio Grande do Sul e
investiu R$ 100 milhões.
> A compra de terras continua. O objetivo da empresa é ter uma base
florestal de 100 mil hectares, investindo US$ 400 milhões para isso.
> No ano que vem, a empresa sueco-finlandesa espera obter o
licenciamento ambiental para o projeto florestal. O investimento
previsto na fábrica é de US$ 900 milhões.
Pólo florestal gaúcho receberá US$ 4 bilhões
Se a Aracruz Celulose deve ao município sua marca, a cidade de
Aracruz (ES) também tem dívidas com a fábrica instalada para produzir
celulose em 1978, na localidade de Barra do Riacho. Quando as
primeiras florestas de eucalipto começaram a ser plantadas no local,
no início dos anos 70, não havia estradas, nem empresas na região. A
população era estritamente rural.
- Não tínhamos infra-estrutura aqui. Depois que a Aracruz se instalou,
não só foram gerados milhares de empregos, também indústrias de
fornecedores se instalaram. O pólo florestal gaúcho tem maior
potencial industrial. Porque já há infra-estrutura e porque não é só
uma indústria, são três - diz Walter Lidio Nunes, diretor da Aracruz
Celulose, referindo-se aos projetos da Votorantim Celulose e Papel e
da Stora Enso.
Nunes lembra que serão quase US$ 4 bilhões em investimentos nas três
fábricas das três empresas com a produção de mais de 3 milhões de
toneladas de celulose por ano com potencial de atrair outros
investimentos.
- A gente sabe porque falam (empresários de outros setores
complementares) com a gente. E já colocamos isso para a nova
governadora (Yeda Crusius). Dissemos que o Estado tem papel
importante para fazer desse pólo industrial de base florestal o maior
projeto de investimento do Rio Grande do Sul - afirma.
Empresário vê necessidade de criar cadeia produtiva
Nunes defende que a governadora e seu governo não lide só com as três
empresas, mas veja como um pólo industrial, incluindo as fábricas de
madeira e MDF, as indústrias de máquinas, a indústria metalmecânica e
química. Enfim, toda a cadeia:
- É preciso atrair empresas que complementem a cadeia. No Espírito
Santo, isso aconteceu. Um exemplo é a indústria que completa a
montagem de harvesters (tipo sofisticado de trator de colheita) aqui.
Não estou teorizando. Estou falando como quem assistiu a todo esse
crescimento e vê que pode se repetir com muito mais força no Rio Grande
do Sul.
Enquanto a empresa tenta provar, no Rio Grande do Sul, que o projeto é
viável do ponto de vista ambiental, no Espírito Santo, ainda enfrenta
uma disputa com índios por terras. Nos meses de outubro e novembro
cerca de 200 mil árvores foram incendiadas numa área de 170 hectares
de florestas de eucalipto e mata nativa na região. O prejuízo é
estimado em R$ 2,5 milhões.
(Por Tatiana Cruz,
Zero
Hora, 11/11/2006)