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2006-11-13
Cerca de 10,5 mil empregos diretos, 2,1 milhões de toneladas de celulose por ano, 60 indústrias integradas à produção em maior ou menor escala. Esses números são uma mostra do que os gaúchos poderão acompanhar a partir de 2011 em Guaíba, com a implantação da nova fábrica da Aracruz Celulose no Estado.

Maior complexo industrial de produção da mercadoria no mundo, a unidade da empresa no município de Aracruz, no Espírito Santo, deve perder, porém, em modernidade para a que deve começar a ser erguida na cidade vizinha da Capital no fim de 2008.

- Vamos aplicar tudo que aprendemos aqui e o que não aplicamos ainda na fábrica de Guaíba. Vai ser mais moderna do que as três que temos aqui (no Espírito Santo), que são integradas. O último projeto tem que ser o melhor - afirma o diretor da Aracruz Celulose, Walter Lidio Nunes.

A modernidade a que Nunes se refere diz respeito a tecnologias novas em políticas ambientais, de produção e de automatização.

- Teremos muitas melhorias no que tange ao ambiente, com redução no consumo de água na fábrica e redução de odores e de emissões, com sistema de gases atualizado - explica.

Logística incluirá uso de terminais fluviais
Berço da Aracruz no Brasil, o complexo localizado em Barra do Riacho, no Espírito Santo, fica a um quilômetro e meio do mar, onde um porto na frente da fábrica, o Portocel, serve de porta de exportação de 98% da produção da empresa. A base florestal de 330 mil hectares - 116 mil de preservação - se espalha pelo Espírito Santo, sul da Bahia, um pouco de Minas Gerais e do norte do Rio.

A matéria-prima vai até a fábrica por três modais logísticos: rodoviário, ferroviário e marítimo, por meio de barcaças. O trem com madeira chega a entrar dentro do complexo da fábrica. No Rio Grande do Sul, a implantação da nova fábrica também deve alterar a logística já existente.

- A logística será tratada de forma totalmente inovadora. Não vamos usar só o modal rodoviário para levar a madeira até a fábrica. Vamos aproveitar o Jacuí e criar terminais fluviais em Cachoeira do Sul e Rio Pardo para dar maior competitividade no transporte por barcaças. O projeto já está em andamento e deve reduzir a emissão de poluentes - comenta, acrescentando que, no porto de Rio Grande, haverá um terminal exclusivo para o embarque da celulose, que será 100% exportada para a Ásia.

Nunes comenta que o projeto da nova unidade de Guaíba encontra-se agora em fase de compras de terra para a expansão da base florestal. Dos 100 mil hectares para o plantio de eucalipto no Estado, 30 mil já foram adquiridos e cerca de 600 empregos gerados. Quanto à fábrica, a expectativa é de que no próximo ano o projeto de engenharia seja efetuado e as obras, iniciadas no fim de 2008.

- Tudo vai depender do mercado - avisa Nunes, levando em consideração a previsão de que a fábrica entre em operações em 2011.

Faça a comparação
A Aracruz no Espírito Santo
Produção: 2,1 milhões de toneladas por ano
Empregos: 10,5 mil entre próprios e terceirizados
Base florestal: 330 mil hectares (214 mil de plantio e 116 mil de preservação)
Pólo industrial: 60 indústrias integradas à produção em maior ou menor escala
A atual unidade de Guaíba
Produção: 430 mil toneladas por ano
Empregos: 950 na unidade e 1,2 mil na base florestal (próprios e de terceirizados permanentes)
Base florestal: 47,9 mil hectares de floresta e 16,6 mil hectares de preservação
A nova unidade de Guaíba*
Produção: 3 milhão de toneladas por ano
Empregos: 12,5 mil durante a construção, 250 na área industrial e mil na área florestal
Base florestal: 100 mil hectares** (área de plantio de eucalipto) e 55 mil hectares destinados à preservação
* Início de produção previsto para 2011
** 30% pelo menos virão de produtores associados
Confira os outros dois projetos do setor no Rio Grande do Sul:
VCP - Votorantim Celulose e Papel
> Está em fase de licenciamento socioambiental para a instalação de uma fábrica na Metade Sul, com início das obras previsto para entre 2009 e 2011. > O local exato ainda não está decidido, mas será no eixo Rio Grande, Pelotas e Arroio Grande. > O investimento, incluindo a base florestal, é estimado em US$ 1,3 bilhão, com a geração de 4 mil postos de trabalho.
Stora Enso
> Em fase de estudos de localização, uma unidade industrial está prevista para sair do papel a partir de 2013.
> Até agora a empresa adquiriu 45 mil hectares no Rio Grande do Sul e investiu R$ 100 milhões.
> A compra de terras continua. O objetivo da empresa é ter uma base florestal de 100 mil hectares, investindo US$ 400 milhões para isso.
> No ano que vem, a empresa sueco-finlandesa espera obter o licenciamento ambiental para o projeto florestal. O investimento previsto na fábrica é de US$ 900 milhões.

Pólo florestal gaúcho receberá US$ 4 bilhões
Se a Aracruz Celulose deve ao município sua marca, a cidade de Aracruz (ES) também tem dívidas com a fábrica instalada para produzir celulose em 1978, na localidade de Barra do Riacho. Quando as primeiras florestas de eucalipto começaram a ser plantadas no local, no início dos anos 70, não havia estradas, nem empresas na região. A população era estritamente rural.

- Não tínhamos infra-estrutura aqui. Depois que a Aracruz se instalou, não só foram gerados milhares de empregos, também indústrias de fornecedores se instalaram. O pólo florestal gaúcho tem maior potencial industrial. Porque já há infra-estrutura e porque não é só uma indústria, são três - diz Walter Lidio Nunes, diretor da Aracruz Celulose, referindo-se aos projetos da Votorantim Celulose e Papel e da Stora Enso.

Nunes lembra que serão quase US$ 4 bilhões em investimentos nas três fábricas das três empresas com a produção de mais de 3 milhões de toneladas de celulose por ano com potencial de atrair outros investimentos.

- A gente sabe porque falam (empresários de outros setores complementares) com a gente. E já colocamos isso para a nova governadora (Yeda Crusius). Dissemos que o Estado tem papel importante para fazer desse pólo industrial de base florestal o maior projeto de investimento do Rio Grande do Sul - afirma.

Empresário vê necessidade de criar cadeia produtiva
Nunes defende que a governadora e seu governo não lide só com as três empresas, mas veja como um pólo industrial, incluindo as fábricas de madeira e MDF, as indústrias de máquinas, a indústria metalmecânica e química. Enfim, toda a cadeia:

- É preciso atrair empresas que complementem a cadeia. No Espírito Santo, isso aconteceu. Um exemplo é a indústria que completa a montagem de harvesters (tipo sofisticado de trator de colheita) aqui. Não estou teorizando. Estou falando como quem assistiu a todo esse crescimento e vê que pode se repetir com muito mais força no Rio Grande do Sul.

Enquanto a empresa tenta provar, no Rio Grande do Sul, que o projeto é viável do ponto de vista ambiental, no Espírito Santo, ainda enfrenta uma disputa com índios por terras. Nos meses de outubro e novembro cerca de 200 mil árvores foram incendiadas numa área de 170 hectares de florestas de eucalipto e mata nativa na região. O prejuízo é estimado em R$ 2,5 milhões.
(Por Tatiana Cruz, Zero Hora, 11/11/2006)

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