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2006-11-13
De repente, o que não passava de uma discussão científica ou de uma previsão catastrófica de ambientalistas saltou para a ordem do dia. O cenário traçado pelo relatório do economista Nicholas Stern sobre as alterações climáticas, divulgado há duas semanas, não só põe em causa a viabilidade do planeta como traduz em custos económicos os estragos causados à natureza ao longo das últimas décadas.

Este cenário catastrófico não traz boas notícias também para Portugal, um dos países europeus que deverão ser mais afectados pelo aquecimento global. E perante este contexto, os especialistas do ambiente ouvidos pelo DN são claros. Apontam, por um lado, a questão da ineficiência energética e, por outro, a degradação dos recursos naturais e da biodiversidade como os grandes problemas e desafios do País. E alertam que os seus efeitos nefastos no território já se manifestam nos dias de hoje, tendendo a acentuar-se no futuro. As soluções estão identificadas e traçadas há muito mas tardam em chegar.

Como explica a bióloga Helena Freitas, "os recursos naturais são a base da sustentabilidade ecológica e sem ela não há sustentabilidade económica e social". A sua dilapidação equivale à destruição dos sistemas que suportam a vida: a água, o solo, a floresta, as fontes de energia, criando situações irreversíveis, acrescenta ainda a ex-presidente da Liga para a Protecção da Natureza. "Sem eles, não ficam assegurados os ciclos hidrológicos e o equilíbrio dos ecossistemas." Ou seja, põe-se em causa a sobrevivência dos solos, os recursos alimentares, a continuidade de actividades económicas como a agricultura, a pesca ou o turismo e, em última instância, "a própria segurança das populações."

Parar a destruição da natureza
A ideia de que o desaparecimento de espécies e habitats se resume à extinção de animais e plantas sem importância não pode ser mais de-sajustada, alerta Hélder Spínola, da Quercus. "A perda do equilíbrio dos ecossistemas tem consequências gravíssimas. Os exemplos estão à vista." Quando as construções ocupam zonas protegidas e espaços naturais, leitos de rios ou a orla costeira, o solo deixa de ser permeável, de ser fértil, de se regenerar. Cheias, incêndios florestais, secas graves ou aluimentos de terra são consequências óbvias que já começaram a ser sentidas. E o território fica cada vez mais à mercê das catástrofes naturais.

Quando estes problemas se associam a casos de poluição, a situação pode tonar-se irreversível. Aquíferos contaminados ou salinizados, solos degradados onde não cresce sequer uma erva, cinzas que restam dos incêndios e são arrastadas encosta abaixo para reservas de abastecimento de água fundamentais, como a albufeira de Castelo do Bode.

Evitar a erosão da orla costeira
No litoral assiste-se a uma combinação explosiva de problemas, alerta Soromenho Marques. "Aí conjugam-se todas as ameaças, desde o aumento de erosão e a provável subida do nível do mar devido às alterações climáticas, até à pressão sobre solos protegidos tanto pela Reserva Ecológica como pela Reserva Agrícola dentro e fora das áreas protegidas." E aí o que está em causa não é só a perda de biodiversidade mas a "capacidade de produção agrícola".

Aliado ao desordenamento do território que povoa não apenas a orla costeira está o crescimento desenfreado das áreas metropolitanas, afirma Luísa Schmidt, socióloga. Arrastando uma mão-cheia de agravantes: mais poluição sonora e atmosférica, mais consumo de energia, mais problemas de saneamento e tratamento dos resíduos, entre outros.

Apostar na eficiência energética
As previsões do aquecimento global agudizam estes problemas e fazem adivinhar uma maior frequência de fenómenos extremos. Por isso, cá, como no resto do mundo, a solução passa por diminuir as emissões de gases poluentes. Objectivo que só é possível de assegurar com a redução da dependência dos combustíveis fósseis, explicam os especialistas que colocam a questão da energia como outra das mais prementes.

A batalha trava-se em duas frentes: por um lado, é urgente inverter a ineficiência energética de um país que gasta muito mais do que o necessário e com uma dependência energética do estrangeiro de mais de 85%; por outro, apostar em força nas fontes de energia renovável que atenuem a dependência do petróleo, acrescenta Hélder Spínola.

Mas não investir nesta vertente não significa apenas pagar uma factura cada vez mais elevada, seja pelo incumprimento das metas do Protocolo de Quioto seja pelos combustíveis fósseis, cada vez mais adquiridos a peso de ouro. Passar ao lado deste problema e ignorar os alertas é, acima de tudo, hipotecar o futuro.
(Por Rita Carvalho, Sapo, 12/11/2006)
http://dn.sapo.pt/2006/11/12/sociedade/portugal_seculo_adia_solucoes_ambien.html

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