Fotografias tiradas do espaço podem registrar o desmatamento em países em desenvolvimento e ser usadas, junto com incentivos monetários, para proteger as árvores e combater o aquecimento global, disseram especialistas. Alguns países em desenvolvimento, como a Papua Nova Guiné e a Bolívia, desejam que as negociações sobre o clima realizadas entre os dias 6 e 17 de novembro, em Nairóbi, discutam formas de recompensar os agricultores que não realizarem queimadas, uma das fontes dos gases do efeito estufa.
Segundo especialistas, fotografias de satélite podem ajudar a superar um dos maiores obstáculos para medidas do tipo --fixar parâmetros a partir dos quais será possível recompensar os que conseguirem brecar o processo de desmatamento. "Desde o começo dos anos 1990, as alterações nas áreas florestais podem ser mensuradas, com segurança, a partir do espaço", disse Frederic Achard, do Sistema de Observação Global Terrestre, que conta com apoio da Organização das Nações Unidas (ONU). As imagens obtidas do alto serviriam de apoio às medições realizadas no solo.
Mas, conforme especialistas, há alguns problemas, como as áreas que os satélites não conseguem fotografar --a presença de nuvens sobre a floresta Amazônica, por exemplo, costuma impedir a visão da mata-- ou as dificuldades para diferenciar entre atividades de extração sustentável e atividades que dizimam a vegetação. "É difícil conseguir imagens boas e livres de nuvens", afirmou Thomas Hausler, da empresa alemã GAF AG, que realiza a análise de dados de satélite.
"Não temos ainda o satélite perfeito", declarou Olivier Arino, da Agência Espacial Européia. Uma nova geração de satélites a ser colocada em operação a partir de 2012 melhoraria a cobertura das áreas de floresta.
NEGOCIAÇÃO DE CRÉDITOS
A maior parte dos esforços para deter o aquecimento da Terra concentra-se em medidas de controle da emissão de gases do efeito estufa gerados na queima de combustíveis fósseis por fábricas, usinas de energia e carros. O envolvimento dos esforços de preservação nesse esquema abriria novas portas e, talvez, até mesmo um mercado de créditos negociáveis.
"Se um país está realizando esforços para preservar as florestas, ele deveria ser premiado", afirmou Gisela Ulloa, coordenadora da Agência Nacional de Desenvolvimento Limpo da Bolívia. As árvores consomem gás carbônico, o principal gás do efeito estufa. E elas liberam esse gás quando morrem e apodrecem. A maior parte dos cientistas diz que a concentração cada vez maior de gases do efeito estufa na atmosfera pode tornar mais freqüentes as enchentes, as ondas de calor e as tempestades, além de elevar o nível dos oceanos.
Os países em desenvolvimento dizem que os agricultores pobres costumam vender suas árvores para madeireiras ao invés de preservá-las devido a uma falta de incentivos. As florestas, onde está metade das espécies de seres vivos encontradas na superfície da Terra, são uma fonte importante de alimentos, materiais de construção e remédios. Um total de 7,3 milhões de hectares --um Panamá inteiro-- de mata perdeu-se entre 2000 e 2005, revelaram dados da ONU.
Hausler disse que mapas integrais de satélite referentes aos anos de 1990, 2000 e 2005 haviam sido compilados para a Bolívia, com base em dados da Europa e dos EUA. Segundo Hausler, era difícil, por exemplo, encontrar dados sobre Camarões. "Ali, a coisa é um pouco mais complicada porque há muitas nuvens vindas do Atlântico."
(Por Alister Doyle,
Reuters, 10/11/2006)