"Sergipe não pode impedir a transposição", diz governador
2006-11-10
Em entrevista concedida à imprensa, logo após a visita de cortesia feita ao presidente da Assembléia Legislativa, deputado estadual reeleito Antônio Passos (PFL), no final da manhã de ontem, o governador eleito Marcelo Déda (PT) afirmou que se o projeto de transposição de parte das águas do rio São Francisco para o Nordeste Setentrional sair do papel, será uma decisão de inteira responsabilidade do presidente da República reeleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Déda também afirmou que o Estado de Sergipe não tem poderes para impedir ou permitir que a transposição seja feita, mas que tem espaço para contestar e debater as decisões do governo federal.
Quando questionado se gostaria de ser lembrado pelas gerações futuras como o responsável histórico pela morte do rio São Francisco, Déda disse que "pelo que eu saiba, não fui eleito presidente da República. Tem alguma licitação pelo governo do Estado sob o meu comando ou sob a minha intervenção a respeito da transposição? A transposição é uma decisão do governo da República. Quem será responsável pelas suas conseqüências é um cidadão pernambucano, de 62 anos, e que responde pelo nome de Luiz Inácio Lula da Silva, que é o presidente da República. É ele quem preside o país e que pode tomar decisões sobre obras como essa. O governo de Sergipe nem tem influência para permiti-la ou proibi-la. Tem influência, sim, para discutir e mobilizar um debate nacional a respeito do tema, que é exatamente o que eu estou fazendo", disse.
"O presidente Lula torce pelo Vasco e eu para o Flamengo. O presidente Lula defende a transposição e eu sou contra a obra. Geraldo Alckmin (PSDB) também defendia a transposição e nem por isso os seus aliados deixaram de contestar a obra. São divergências naturais e democráticas. Até porque, como governador de Sergipe, eu não tenho que expressar apenas as posições do PT ou do presidente Lula, mas sim dos sergipanos. Mas com responsabilidade, para não transformar uma questão que tem relevância num problema que deteriore as relações da Unidade Federativa com o governo da União. Caso contrário, Sergipe terá um duplo prejuízo: um eventual projeto no rio São Francisco e a quebra nas linhas de diálogo com o governo federal", completou o governador eleito.
Marcelo Déda disse ainda que "o governador sabe o que quer, sabe lutar pelo o que quer e, sobretudo, é um homem que tem no respeito um instrumento fundamental da sua vida política e pessoal. Toda a imprensa nacional está destacando a minha posição contrária à transposição. Essa questão da transposição não é uma briga de esquina, mas as posições do presidente da República e de um governador estadual."
"São três governadores contrários a esta obra: eu, Aécio Neves (PSDB/MG) e Téo Vilela (PSDB/AL); já os outros seis defendem a transposição. O meu papel é lutar para que a posição seja levada em consideração. É uma discussão que acontecerá nos fóruns adequados. Não li em nenhum jornal do sul do País que afirme que, com as vitórias do PT na Bahia e em Sergipe, a transposição está mais próxima de acontecer. Eu li exatamente o contrário, ou seja, que eu tenho me rebelado contra a posição do governo federal", afirmou.
(Por Habacuque Villacorte, Correio de Sergipe, 09/11/2006)
http://www.correiodesergipe.com.br/lernoticia.php?noticia=18832