As escadas da igreja que ficavam cobertas de água marcando o alagamento da localidade de Sarandi, em Aratiba, devido à construção da Usina Hidrelétrica de Itá, voltam a ser vistas.
Em Itá, o anel de pedras e cimento que dá base às torres da Igreja Matriz da antiga cidade também forma uma imagem insólita. É assim por toda a parte no norte do Estado, onde ficam as usinas hidrelétricas de Machadinho, Itá e Passo Fundo. Com a falta de chuvas, o nível dos lagos baixou tanto que a geração de energia foi reduzida para até 20% da capacidade.
Como as usinas operam no Sistema Interligado Nacional, não há risco momentâneo de problemas de abastecimento. Mas, para os municípios que tiveram áreas alagadas pelas barragens, não é só a paisagem que sofre modificações. Cada metro a menos de água que passa pelas turbinas das usinas, é dinheiro que não entra nos cofres dos 29 municípios do norte do Estado e do oeste de Santa Catarina.
Porém, o secretário de Energia, Minas e Comunicações, José Carlos Elmer Brack, afirmou ontem que os principais reservatórios do Estado estão em situação normal e não enfrentam dificuldades.
Conforme Brack, a escassez de chuva está concentrada na Região Sudeste. Pelos dados da secretaria, a geração própria de energia do Estado subiu da média de 30% em junho e julho para 69% em outubro.
Contudo, em Entre Rios do Sul, são seis metros abaixo do nível, deixando aparentes ilhas antes inexistentes. Em Maximiliano de Almeida, na Usina de Machadinho, o lago já baixou 10 metros. Nas duas usinas ainda há reserva técnica para que o lago baixe mais cinco metros. A usina de Itá está com 4,6 metros abaixo do nível na crista da barragem e suporta perder ainda 1,4 metro. Para o gerente das usinas, Elinton Chiaradia, a situação é preocupante. O Estado começa a entrar num período caracterizado por menos chuvas. Assim, as usinas podem enfrentar a fase de seca com reservatórios comprometidos.
O reflexo será notado no próximo mês, com a redução das verbas recebidas pela compensação do uso de recursos hídricos, paga proporcionalmente ao território alagado dos municípios. Em outubro de 2005, foram repassados R$ 1,9 milhão. Este ano, a geração baixou 48% e o valor recuou para R$ 1 milhão. O prefeito de Aratiba, Gilberto Luiz Hendges, começou a cortar despesas para se adaptar.
- Vai ser um baque. Só Aratiba deixa de receber R$ 300 mil - conta.
(Por Marielise Ferreira,
Zero Hora, 10/11/2006)