Pelo menos quatro plantas daninhas já se mostram resistentes ao herbicida glifosato, utilizado sobre a soja transgênica Roundup Ready, ambas produzidas pela multinacional Monsanto. Em nota técnica enviada aos produtores da região Norte do Rio Grande do Sul e publicada na imprensa, especialistas afirmam que as ervas daninhas corriola, buva, poaia-branca e trapoeraba já são tolerantes ao glifosato e requerem a utilização de herbicidas específicos. No Rio Grande do Sul, foram identificados biótipos de azevém e buva resistentes ao glifosato.
A nota é assinada pelo pesquisador da Embrapa Trigo, Leandro Vargas, pelo pesquisador da Fundacep, Mario Bianchi, e pelo professor da Universidade de Passo Fundo, Mauro Rizzardi. De acordo com o engenheiro agrônomo Leandro Vargas, o uso repetido do glifosato está levando à seleção de plantas resistentes ao herbicida. Ele considera supreendente, no entanto, que plantas resistentes tenham surgido em tão pouco tempo. "Nós partimos de quatro anos atrás, quando passamos a usar o glifosato extensivamente no soja RR, com nenhuma espécie resistente. E neste tempo já estamos com quatro espécies resistentes. É provável que essa situação se agrave se continuarmos a usar o glifosato de forma inadequada, ou seja, todo o ano, repetidamente, três ou quatro vezes durante o ciclo da soja", afirma.
O pesquisador da Embrapa Trigo, de Passo Fundo, avalia que a descoberta de plantas resitentes ao glifosato é pontual e não representa mais um sinal dos altos de custos de produção e dos prejuízos ambientais causados pela soja transgênica. No entanto, ele recomenda o uso de uma carga ainda maior de agrotóxicos para o combate às ervas daninhas. "Continue utilizando o glifosato, mas que se faça rotação do glifosato com outros herbicidas, com herbicidas que tenham mecanismos de ação diferentes. E que o produtor fique atento: se ele observar que o glifosato não esta controlando determinada espécie, imediatamente ele entre com outro herbicida, com outro mecanismo de ação e controle aquela espécie", diz.
Opinião diferente tem o gerente de recursos genéticos do Ministério do Meio Ambiente, Rubens Nodari. Ele afirma que a introdução da soja transgênica aumentou a carga de agrotóxicos utilizadas na lavoura. De acordo com Nodari, de 1998 a 2004, o consumo de glifosato no Rio Grande do Sul saltou de 3,8 milhões de quilos para mais de 19 milhões de quilos. Além do uso repetido de glifosato ter gerado plantas resistentes, o especialista relata que a soja transgênica já está se tornando erva daninha para outras culturas. Esse é um dos fatores apontados pelo pesquisador que demonstram o fracasso da soja transgênica. "No Paraná, agricultores estão tendo que usar agora herbicidas que estavam deixados de lado, como o é o caso de dois herbicidas a base de 2-4-D, porque algumas plantas de soja acabam se tornando ervas daninhas de outras lavouras. Como muita gente usa herbicidas a base de glifosato para o plantio direto, na cultura após a soja, o uso desse herbicida não resolve mais o controle de plantas de soja que são voluntárias. Na colheita da soja sobra grãos, esses grãos germinam e atrapalham a cultura que vem em seguida. Então, existem custos adicionais, e hoje muitas empresas estão pedindo registro para produtos antigos para o controle de soja transgênica que cresce fora de época. É um conjunto de problemas com essa tecnologia, que não foram suficientemente estudadas na época da liberação dessa tecnologia. Os próprios agricultores já estão conscientes da experiência, e eles mesmo são testemunhas da viabilidade ou não", diz.
Para Rubens Nodari, em vez de utilizar mais agrotóxicos, os agricultores devem optar pela transição ao modelo agroecológico de produção. "Sempre é possível ir para a agroecologia. É claro que no primeiro ano é muito difícil. Mas existe um conjunto de princípios que devem ser utilizados. A agroecologia é um conjunto de processos, o primeiro deles é que você não coloque insumos internos, ou seja, tem que usar basicamente o próprio sistema. A rotação de culturas é um mecanismo muito interessante para o controle de ervas daninhas. O segundo princípio é o policultivo. Naquelas áreas em que você tem uma quantidade maior de infestação, é possível ter o controle cultivando alguma planta que iniba o crescimento daquela. E assim por diante. No primeiro ano, pelo fato de o agricultor não estar familiarizado com o novo processo agroecológico, ele pode sentir dificuldade ou não atingir resultados esperados. Mas a partir do terceiro ano, os custos de produção tornam-se extraordinariamente mais baixos, a economicidade das lavouras tem sido igual ou superior ao convencional. Depois que ele consegue recuperar a fertilidade do solo, a lucratividade é bem maior no sistema agroecológico. Mas no primeiro ano realmente será mais trabalhoso, e eventualmente vai exigir até mesmo o controle mecânico das ervas daninhas", recomenda.
(Por Luiz Renato Almeida, Agência Chasque de Notícia, disponivel em
Ecoagência, 10/11/2006)