Agrotóxicos foram criados para uso bélico, diz Sebastião Pinheiro
2006-11-10
Porto Alegre, RS - Na última sexta-feira (03/11), o quadro Ecologia na Prática, do programa Sintonia da Terra, que vai ao ar todas as sextas-feiras, às 8h15min, na Rádio da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (www.ufrgs.br/radio), trouxe o comentário de Sebastião Pinheiro. O ecologista falou sobre a origem dos produtos e a reação da comunidade gaúcha aos agrotóxicos:
Poucas pessoas sabem que os venenos utilizados na agricultura, hoje denominados agrotóxicos e no passado, defensivos agrícolas, não foram criados para a agricultura ou para o agricultor, mas sim como poderosas armas químicas de uso bélico destinadas à arte da guerra.
Posteriormente, os países industrializados desenvolveram um mercado para esses produtos que passaram a estar ao alcance do agricultor através de ensino, propaganda, experimentação e até mesmo uma necessidade forjada. Hoje o mercado de agrotóxicos é um negócio fantástico pois movimenta 60 bilhões de dólares ao ano, lucros concentrados em apenas uma dúzia de empresas. Tais cifras mostram o poder dessas empresas e o interesse em manter seus negócios.
Podemos nos perguntar quais os malefícios dos venenos. Qualquer pessoa ou ser vivo intoxicado pode receber alta médica, mas não está curado. Não existe cura para o impacto de um agrotóxico. A pessoa carregará seqüelas do veneno durante toda sua vida, dure ela mais 10, 20 ou 50 anos. Esses malefícios, dos quais se desconhece a dimensão completa, vão desde câncer, morte por infecção aguda, até infecções crônicas como hipertensão, leucemia e uma série de seqüelas.
O maior problema que os cientistas estão descobrindo hoje é um fenômeno chamado alteração hormonal ou disrupção endócrina. A alteração hormonal, regulando um hormônio para mais ou par menos, está alterando todos os seres vivos e isso é gravíssimo. Imagine um veneno, cuja dimensão total ainda é desconhecida, aplicado sobre os seres humanos e sobre o ambiente. O agrotóxico tem impactos negativos muito graves e só iremos conhecer todos os malefícios de três a cinco gerações após deixarmos de utilizá-los.
Em 1987, a Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos determinou que fosse buscada uma nova agricultura, livre de venenos. Porém ainda hoje, estou vindo da América Central e do México, vemos escolas de ensino nas áreas rurais mostrando que a tecnologia do agrotóxico é imprescindível. Desconhece-se o que determina a Academia de Ciências do pais mais rico do mundo, onde se busca outra prática agrícola. Podemos dizer que há uma luta entre a propaganda pró-veneno e a consciência anti-veneno. Nessa pugna está a cidadania, estamos todos nós, está a juventude procurando trazer elementos para coibir ouso de agrotóxicos.
O nosso país já foi o terceiro consumidor mundial de agrotóxicos e hoje ocupa a sexta posição. Na década de 1960, o Rio Grande do Sul consumia 33 por cento do total nacional, resultando numa desgraça, uma verdadeira hecatombe. Pessoas morriam e intoxicavam-se, animais e rios perdiam suas vidas, sofria o ambiente e a natureza. Isso levou a uma grande luta de técnicos e de pessoas da população em geral para a conscientização contra o uso de venenos no Estado. Hoje, o território gaúcho reduziu para 16 por cento do consumo nacional. Podemos dizer que o Rio Grande é hoje o principal centro de expansão uma rede contra o uso de venenos na agricultura. Somos um dos centros mais importantes do planeta ao propiciar uma nova agricultura, limpa, na qual venenos e agrotóxicos não têm espaço.
O programa Sintonia da Terra é uma parceria entre a Rádio da Universidade, Núcleo de Ecojornalistas do Rio Grande do Sul e EcoAgência Solidária de Notícias Ambientais.
(Transcrição da jornalista Cláudia Dreier, EcoAgência de Notícias, 09/11/2006)
http://www.ecoagencia.com.br/index.php?option=content&task=view&id=1943&Itemid=2