Estudo revela aumento do envenenamento por agrotóxicos
2006-11-09
O envenenamento por agrotóxicos atingiu mais de 14 mil pessoas em 2003, causando 238 mortes. Dez anos antes, houve 6 mil ocorrências, com 161 mortes. O crescimento expressivo das intoxicações foi identificado em estudo realizado pelo Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas (Sinitox), coordenado pelo Centro de Informação Científica e Tecnológica (Cict) da Fiocruz.
Segundo Rosany Bochner, coordenadora do Sinitox, no período abordado pela pesquisa (1993-2003) o crescimento considerável do consumo de agrotóxicos no País transformou esses produtos na terceira maior causa de intoxicação, atrás apenas dos medicamentos e animais peçonhentos.
“Os números podem ser muito maiores, porque os casos registrados são, geralmente, de intoxicação aguda, com sintomas imediatos. É difícil captar a intoxicação crônica, que se manifesta a longo prazo”, disse Rosany.
O Sinitox dá assistência à população, em casos de intoxicação, em 36 centros espalhados em 19 Estados, com coordenação operacional da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). O estudo foi realizado a partir das informações obtidas nesses centros. O resultado não dá conta de todas as ocorrências, já que não há centros em todos os Estados, e a notificação não é obrigatória.
No estudo, o Sinitox trabalhou com 17 agentes tóxicos divididos em quatro categorias: de uso agrícola, uso doméstico, uso veterinário e raticidas. No período analisado, os casos de envenenamento por raticidas cresceram 54% na região Sul, 206% no Centro-Oeste e 350% no Norte do País. No Nordeste, os agentes tóxicos que mais registraram crescimento foram os de uso agrícola, com uma alta de 164%. No Sudeste, os acidentes aumentaram principalmente com produtos veterinários: 309%.
O Sinitox aponta para a relação entre faixa etária e os quatro tipos de intoxicação. As crianças com idade entre 1 e 4 anos são as maiores vítimas de envenenamento por agrotóxicos de uso doméstico (28,7%), por produtos veterinários (21%) e por raticidas (23,9%). Já os adultos jovens, na faixa de 20 a 29 anos, são os mais acometidos pelas intoxicações por produtos de uso agrícola (23,2%).
Rosany acredita que o consumo exagerado de agrotóxicos é a razão fundamental para o aumento em todos os casos, aliado ao crescimento demográfico e ao mau uso dos produtos. No campo, segundo a pesquisa, o risco de intoxicação é o dobro do registrado nas áreas urbanas. “Sabemos que o trabalhador do campo não está preparado para lidar com esses agentes tóxicos de alta letalidade, pois tem baixa escolaridade, más condições de trabalho e não é orientado”, disse.
O caso mais grave, segundo Rosany, é o do produto conhecido popularmente como “chumbinho”, utilizado indevidamente como raticida. “O chumbinho é o grande fantasma hoje. Trata-se de um agrotóxico de uso agrícola que, há alguns anos, começou a ser utilizado como raticida. É péssimo para essa finalidade, mas acabou criando um mito que tem matado muita gente”, diz.
(O Estado de S. Paulo, 08/11/2006)
http://www.estadao.com.br/ciencia/noticias/2006/nov/08/192.htm