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2006-11-09
Autoridades e habitantes desta cidade do Cazaquistão estão cada vez mais preocupados com um projeto oficial para a construção de uma central de energia atômica. Esta nova preocupação turvou, ao menos no momento, outros temores que afligiam os moradores da região, com a contaminação do lago de Balkhash com metais pesados e sulfurosos procedentes das operações da associação industrial Balkashtsvetment.

O governo do Cazaquistão, um dos maiores produtores de urânio, pretende construir uma usina nuclear em Balkhash como primeiro passo para desenvolver essa industria no país. Mas autoridades e moradores são contrários ao projeto, cujo custo chega a cerca de US$ 2 bilhões. “A cidade precisa de energia. A questão da construção da usina foi definida em âmbito nacional”, disse ao Ásia Water Wire o prefeito local, Kazhumurat Tokushev. Até o final do ano, uma equipe de trabalho especial do governo deverá decidir se a usina será construída no lago ou em outro local, segundo o diretor-geral do Centro Nuclear Nacional do Cazaquistão, Kairat Kadyrzhanov. A decisão final dependerá de muitos fatores, como os sentimentos dos moradores, afirmou. O não-governamental Movimento para a Reativação da Região de Balkhash, com sede nessa cidade, tem a certeza de que a central nuclear será construída onde hoje existe um centro de energia térmica inacabado, perto do lago.

Em 1997, o instituto de pesquisa e desenho Atomenergoproject, com sede na cidade russa de São Petersburgo, fez um estudo de viabilidade para a construção da usina. A pesquisa foi feita graças a um acordo entre a Companhia Nacional de Indústria e Energia Atômica do Cazaquistão e o instituto russo. “Apesar de ter sido construída inicialmente para ser um centro de energia térmica, foi dito que ao final se transformaria em uma usina nuclear”, afirmou Daut Shishov, subdiretor do Movimento para a Reativação da Região de Balkhash.

Prevê-se que essa instalação terá três reatores tipo VVER-640, com capacidade de 1.900 megawatts e um novo desenho com dispositivos melhorados de segurança. Mas como qualquer tecnologia, sua absoluta segurança não está garantida, reconheceu o Ministério de Energia Atômica da Rússia. Shishov, um dos poucos partidários do projeto atômico de Balkjhash, disse que o desenvolvimento nuclear não pode ser freado. Alem disso, ressaltou que a região poderá utilizar o ganho que gerar a venda de energia para atender outras necessidades, com a reprodução do esturjão.

Mas enquanto Shishov afirma que podem ser encontradas formas para que a central seja segura, o diretor do Movimento, Kadylkhan Tokshymanov, considera o contrário, e alerta para possíveis casos de corrupção. “As usinas de energia nuclear podem ser construídas em paises ricos, onde tudo é feito de acordo com os projetos, e as pessoas não roubam”, disse Tokshymanov. “Mais da metade do dinheiro destinado para a construção de centrais atômicas nos paises pobres sofre malversação, o que reduz a segurança”, acrescentou, dizendo, ainda, que “o Cazaquistão é uma nação bastante pobre”.

Cazaquistão e Rússia assinaram no mês passado acordos para criar três empresas conjuntas de energia nuclear, com a mesma participação de capital autorizado. Essas empresas extrairão urânio no Cazaquistão, o enriquecerão na região russa de Irkutsk e desenvolverão projetos vinculados com centrais com reatores de pequena e média capacidade. “Existe uma carência de energia elétrica em áreas ao sul do lago Balkhash”, disse tokshymanov, admitindo que a Rússia, que produz e vende reatores nucleares, pressionou o governo local para que aprovasse o projeto. A usina utilizará água do lago Balkhash, que terá impacto em seus níveis habituais.

No fórum ecológico internacional Balkhash 2000, realizado na cidade de Almaty, ambientalistas alertaram que a central atômica poderia causar uma grave contaminação da água e do ar na região. “Estou decididamente contra as usinas nucleares, sobretudo no Cazaquistão, que tem muitos recursos energéticos, incluindo abundantes reservas de petróleo, gás natural e carvão”, disse o diretor do movimento ambientalista local Tabigat e ex-candidato presidencial, Mels Eleusizov. “O país também está bem dotado de sol e vento”, que são recursos energéticos, acrescentou. “Não permitiremos que construam a usina. Se for necessário, informaremos ao país e pressionaremos o Estado para a realização de um referendo”, afirmou.
(Por Marina Kozlova, IPS, 08/11/2006)
http://www.envolverde.com.br/materia.php?cod=24377&edt=1

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