90% da soja plantada em SC é transgênica
2006-11-07
Nunca se plantou tanta soja transgênica no Estado. A Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Santa Catarina (Faesc) calcula que 90% das sementes que estão sendo jogadas no chão são geneticamente modificadas. E a área plantada está em alta, por causa dos baixos preços do milho. A expectativa da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) é de que sejam cultivados 373,5 mil hectares 10% a mais que no ano passado.
O vice-presidente da entidade, Enori Barbieiri, acredita que a maior parte dos agricultores catarinenses vai optar por sementes certificadas, já que o custo, segundo ele, é insignificante, perante os benefícios obtidos. Quem optar por semente certificada está pagando R$ 0,30 em royalties por quilo adquirido.
Outro fator que favorece o plantio de sementes certificadas é que, ao contrário do que ocorre no Rio Grande do Sul e do Paraná, os agricultores catarinenses não terão acesso a financiamentos oficiais se optarem por plantar as sementes salvas, aquelas produzidas em casa, sem nenhuma certificação, ou contrabandeadas. A medida visa a coibir as sementes piratas que vieram da Argentina há mais de cinco anos.
O produtor que optar por plantar as salvas fica obrigado a pagar royalties à multinacional detentora da tecnologia, a norte-americana Monsanto, no momento da comercialização da safra. Nesse caso, o valor cobrado é de 2% sobre a produção vendida. Pela cotação de ontem, em Chapecó, seria R$ 0,57 por quilo. "Vai haver fiscalização constante", diz o delegado do Ministério da Agricultura em Santa Catarina, Francisco Castelli.
O agricultor Paulo Rosina, do interior de Chapecó, produziu as sementes e está custeando a lavoura com recursos próprios, sem depender de financiamento federal. "A semente é a mesma que no ano passado rendeu até 3.300 quilos por hectare", relembra. A produtividade média catarinense na última safra foi de 2.409 quilos por hectare, segundo o Centro de Estudos de Safras e Mercado (Cepa/Epagri).
O engenheiro-agrônomo da Cooper Rural, em Xanxerê, Edilson Palavro, disse que na região do Alto Irani (Oeste do Estado) a expectativa é de um aumento de 30% na área plantada de soja. Ele avalia que pelo menos 15% - 85 mil hectares - já foram plantados. Cerca de 70% da soja é geneticamente modificada. "O custo de produção é mais baixo que o milho e os produtores possuem sementes próprias", justifica.
A situação se repete em Ouro Verde, município pioneiro no plantio da soja geneticamente modificada. O secretário da Agricultura, Moacir Mottin, calcula que a área plantada deve crescer 10%, atingindo 7.500 hectares, e diz que 90% da soja é geneticamente modificada em razão da redução nos custos de cultivo. "A maioria dos agricultores produziu a própria semente", afirma Mottin.
Preços, por enquanto, animam
Os bons preços da soja estão deixando os produtores animados, mas a situação pode piorar nas próximas semanas. Nas últimas semanas, o preço vem se elevando. O engenheiro-agrônomo e analista de mercado da Epagri/Cepa, Simão Brugnago Neto, diz que a boa demanda por parte das indústrias esmagadoras e a firmeza das cotações internacionais continuaram proporcionando suporte para novas altas no preço da soja, mas esta situação pode ser apenas passageira.
Em Santa Catarina, os preços mais comuns ofertados aos produtores de Chapecó, que já haviam subido de R$ 25,50 no início de outubro para R$ 27,50 na semana passada, evoluíram para R$ 28,50 nesta semana.
"O quadro da oferta edemanda, entretanto, continua sinalizando para um suprimento americano e mundial bastante folgado, o que pressupõe serem as altas deste momento quase que exclusivamente fruto de movimentos especulativos. Por isso, exceto por algum problema com a safra da América do Sul, tudo indica que as cotações voltarão a sofrer pressão de baixa, possibilidade que poderá ser negativa para os preços no início da comercialização da nova safra brasileira", explica.
A expectativa é que sejam colhidas 896,4 mil toneladas, 10% a mais que na última safra. O rendimento, entretanto, pode ficar comprometido pela utilização sementes transgênicas não-certificadas - contrabandeadas ou produzidas em safras anteriores. A queda pode ser superior a 20%, alerta é do pesquisador José Roberto Rodrigues Peres, gerente-geral da unidade de transferência de tecnologia da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária.
Os reflexos negativos não são só esses. O pesquisador também enumera a desestruturação do negócio brasileiro, a redução na produtividade, a degeneração genética das cultivares e o conseqüente enfraquecimento da indústria nacional de sementes.
Peres disse que este ano a Embrapa e parceiras investiram R$ 8 milhões na produção de sementes certificadas. A empresa fechou 1.378 contratos para licenciar a produção de material certificado. "Estes parceiros, que incentivam programas de pesquisa com certeza ficarão desestimulados para novos investimentos, avalia Peres.
Redução no custo atrai agricultores
Um dos principais atrativos para o plantio de soja transgênica é a redução nos custos de produção, uma vez que é necessário passar menos herbicidas e pesticidas. Foi um dos motivos que levou Ademir Rosina, do interior de Chapecó, a cultivar o grão geneticamente modificado. "Em cada hectare, se economizam R$ 100, ou 20% do custo total da produção."
Ele e seu pai, Paulo, decidiram investir mais na soja cultivada no interior de Chapecó. Na semana passada, pai e filho concluíram o plantio em uma área de 17 hectares. Outros 33 hectares vão ser plantados nos próximos dias, assim que for concluída a colheita do trigo cultivado para a produção de sementes.
Seguindo as perspectivas de mercado, Ademir Rosina reduziu em mais de 60% a área de milho e vai aumentar a lavoura de soja em mais 20 hectares. O plantio está ocorrendo de forma escalonada. A colheita ocorre no final de março.
Vizinho dos Rosina, o agricultor Valmor Zanrosso, 38 anos, vai plantar soja transgênica em 40 hectares. Metade da área vai receber sementes próprias e a outra metade, sementes certificadas. O saco de 40 quilos adquirido em uma cooperativa custou R$ 36. "É uma variedade nova que eu pretendo experimentar", explica.
Zanrosso contou que cultiva transgênicos com sucesso há quatro anos. A principal vantagem, segundo ele, são os menores custos com o uso de defensivos agrícolas. "Em alguns casos uma única aplicação resolve a situação. O custo com o veneno chega reduzir 80%. A lavoura fica até 15% mais barato", confirma.
(Por Luciano Alves, Diário Catarinense, 07/11/2006)
http://an.uol.com.br/2006/nov/07/0des.jsp