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2006-11-07
O Brasil inicia hoje (7/11) uma união de esforços em busca de avanços na tecnologia de fusão nuclear. Será lançada, às 9h, no Instituto de Física da Universidade de São Paulo (USP), em São Paulo, a Rede Nacional de Fusão (RNF), coordenada pela Comissão Nacional de Energia Nuclear (Cnen), unidade do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT). A Rede reúne inicialmente 80 pesquisadores de 16 instituições nacionais que desenvolvem pesquisas na área.

Apontada com uma alternativa energética limpa e com capacidade de suprir grandes demandas de energia, a fusão nuclear controlada teve sua viabilidade demonstrada pela comunidade científica internacional na década de 90. No entanto, ainda são necessários vários aperfeiçoamentos técnicos que possibilitem seu uso como fonte energética. Com a RNF, o Brasil pretende desenvolver tecnologias próprias e ingressar no esforço internacional que busca viabilizar o uso da fusão nuclear em larga escala.

Os reatores nucleares usados em todo o mundo geram calor através da fissão nuclear, ou seja, a divisão por reação em cadeia dos núcleos dos átomos. O calor gerado aquece um sistema hidráulico, produzindo vapor que movimenta turbinas geradoras de eletricidade. É o caso das usinas Angra 1 e Angra 2, no Rio de Janeiro.

A fusão nuclear funciona de uma forma diferente. A geração de calor não se dá pela divisão, mas pela fusão de núcleos atômicos, principalmente de deutério e trítio. A intensidade de calor gerada é tão intensa quanto na fissão, com a vantagem de não produzir rejeitos radioativos de longa vida. Centrais nucleares de fusão poderão tornar-se elementos importantes no futuro panorama energético internacional. Sem impactos significativos ao meio ambiente, poderão produzir eletricidade diretamente ou através de uma cadeia baseada na utilização de hidrogênio e de células de combustível.

A viabilidade científica da fusão nuclear controlada foi demonstrada nos anos 90 com equipamentos denominados tokamaks. Os primeiros experimentos bem-sucedidos foram realizados na Europa, com o tokomak JET (Joint European Torus); e nos Estados Unidos, com o tokamak TFTR (Tokamak Fusion Test Reactor). Ambos baseiam-se em um dispositivo de confinamento magnético de plasmas termonucleares, originalmente concebido por cientistas russos.

Um dos grandes desafios da comunidade científica internacional atualmente é aplicar essa tecnologia no abastecimento energético. Os maiores avanços concentram-se no projeto de um protótipo de reator de fusão nuclear denominado International Thermonuclear Experimental Reactor (ITER), que será construído na França. O projeto é resultado de um programa de colaboração internacional que reúne Comunidade Européia, Rússia, Japão e Estados Unidos. Recentemente, mais três países juntaram-se a eles: China, Coréia do Sul e Índia. Há cerca de três anos, os países integrantes projeto ITER (palavra que em Latim tem o sugestivo significado de o caminho), vêm considerando o ingresso de outros países, em particular do Brasil, sendo este um dos motivos para a criação da RNF.

A pesquisa da fusão nuclear vem sendo desenvolvida no Brasil por diferentes grupos há cerca de trinta anos. A RNF pretende coordenar e ampliar essas atividades, estabelecer prioridades e gerenciar as colaborações internacionais. Está prevista a criação de um Laboratório Nacional de Fusão, a ser implantando na estrutura da Cnen. Com isso, espera-se desenvolver capacitação científica e técnica necessária para adotar esta fonte de energia no Brasil, caso venha a se tornar economicamente viável.

O gerenciamento científico da RNF, incluindo a definição e aprovação de projetos e estabelecimento de políticas científicas, diretrizes e prioridades, será executado por um Comitê Técnico-Científico formado por representantes das instituições associadas e presidido pelo presidente da Cnen, Odair Dias Gonçalves.
(Por Gustavo Sousa Jr., Agência MCT, 06/11/2006)
http://agenciact.mct.gov.br/index.php/content/view/42084.html

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