Nova ordem é plantar árvores para combater o efeito estufa causado pelo gás carbônico
2006-11-07
Uma nova onda verde toma conta do mundo e também do Brasil. São pessoas e empresas dispostas a amenizar o aquecimento global do planeta, o famoso efeito estufa. A defesa dessa causa tem sido encampada por diversas celebridades internacionais. Entre elas, há quem se declare “carbon free”. Trocando em miúdos, significa lutar pela neutralização da emissão de gás carbônico (CO2) na atmosfera. Apesar do nome complicado, a idéia é simples. Equivale a plantar árvores para combater o excesso de carbono no ambiente. Cada cidadão produz, em média, 22 toneladas anuais de CO2, um dos seis gases responsáveis pelo efeito estufa. Por meio de uma “calculadora ambiental”, é possível somar quanto uma pessoa lança desse gás no ar em função de suas atividades. A partir daí, estima-se o número de mudas que ela terá de plantar. No Brasil, quem pratica essas ações pode dizer que está neutralizado. Lá fora são “carbon free”, tal qual se declaram as populares bandas Coldplay e Foo Fighters e o ator Leonardo DiCaprio.
Esse movimento começou na Europa e vem ganhando adeptos em várias nações. Ainda mais agora que os riscos do aquecimento estão cada vez mais propalados. Na segunda-feira (30/10), o economista inglês Nicholas Stern, especialista em mudanças climáticas, apresentou relatório em que alerta que os custos mundiais para combater o problema serão de cerca de 1% ao ano do Produto Interno Bruto global. Os ambientalistas apontam que o Brasil é o quarto país no ranking dos que mais liberam gases causadores do efeito estufa.
No País, quem faz o cálculo de árvores a plantar são empresas de consultoria ambiental, como a MaxAmbiental, e a organização não-governamental The Green Initiatives. Dentro dessa iniciativa, existem dois grupos que abraçam a idéia: os ecoconscientes – ou seja, aqueles que acreditam realmente mudar a condição do planeta por meio de ações diretas – e as empresas que almejam receber um selo verde de certificação ambiental. Pelo lado corporativo, essas medidas são traduzidas como bom marketing empresarial. Afinal, o público vê com bons olhos quem investe nessas causas. “O selo ambiental é como um ISO, um certificado de qualidade”, afirma Roberto Strumpf, da ONG Green Initiatives.
Segundo os defensores da idéia, qualquer atividade é passível de neutralização. A primeira etapa é escolher o alvo da ação e contatar quem faça o projeto. O músico Francisco Maciel decidiu neutralizar o CD de sua banda Txai. O processo começou com a identificação da matéria-prima utilizada na produção do disco, como alumínio e policarbonato. Depois, um especialista calculou a quantidade de CO2 emitida pelas máquinas de impressão e pelos caminhões que distribuiriam o CD pelo País. Resultado disso é que, para um lote de três mil álbuns, o músico teria de plantar 210 árvores nativas. O plantio está sendo realizado em um sítio em São Carlos, no interior paulista. “Ninguém dá dinheiro para florestas e o mais catastrófico é que não existe nada a ser feito a curto prazo”, acredita Maciel.
Pelo lado das empresas, o processo envolve ainda o número de empregados. Irmã de Strumpf, a empresária Ana neutralizou sua loja Garimpo/Fuxico, que tem dez funcionários. Computada a emissão anual de CO2 pela equipe, descobriu-se que seria necessário plantar 304 árvores, o que já foi cumprido. Outra companhia a adotar o conceito foi a fabricante de carpetes Interface. Seus 23 mil funcionários anotam mensalmente os quilômetros rodados e as viagens de avião realizadas. O projeto, que teve parceria da S.O.S Mata Atlântica e auditoria da Pricewaterhouse Coopers, estima o plantio de 25 mil árvores. Até agora 6,5 mil mudas foram destinadas às margens do rio Tietê, em Piracicaba (SP).
Eventos também podem ser neutralizados. O grupo carioca O Rappa contratou a CarbonoNeutro, divisão da MaxAmbiental, para zerar o carbono propagado durante um show realizado em junho, em São Paulo. Foram contabilizadas 7,63 toneladas de gás carbônico emitidas pelos 17 músicos envolvidos na apresentação e o público, em um raio de 30 quilômetros entre o palco e seus arredores. Para equalizar esse prejuízo, 37 árvores foram plantadas em Resende (RJ).
A vinda recente ao Brasil do ex-vice-presidente americano Al Gore para o lançamento de seu livro Um dia depois de amanhã também foi neutralizada com o plantio de dez mudas. Al Gore é o maior garoto-propaganda da luta contra o efeito estufa, mas não está sozinho. O ator George Clooney neutralizou o lançamento de seu filme Syrianna e Brad Pitt pagou US$ 10 mil para criar uma floresta no Himalaia. Além de tudo, ser carbon free tem lá seu charme.
(Por Kátia Mello, Revista Istoé, 07/11/2006)
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