Poucas coisas no mundo parecem tão indefesas quanto as florestas. Para muitas pessoas, elas não valem nada, a menos que possam derrubar suas árvores para vender a madeira ou criar áreas cultiváveis. As florestas tropicais desaparecem ao ritmo de 5% por década, destruindo hábitats e liberando 3 bilhões de toneladas de CO2 por ano, 20% das emissões causadoras de efeito estufa de todo o mundo.
A maioria das florestas tropicais está em países pobres, e por isso conferir-lhes valor monetário pode ser a melhor forma de salvá-las. Os esforços nesse sentido estão em alta. No encontro da ONU sobre mudanças climáticas - a Conferência das Partes (COP-12), que começa hoje no Quênia -, espera-se que o Brasil proponha a criação de um fundo para recompensar os países em desenvolvimento que conseguirem reduzir sua taxa de desflorestamento. É uma mudança de posição: até 2005, o governo brasileiro resistia à idéia de receber dinheiro para manter suas árvores intactas.
A plano brasileiro depende da boa vontade dos potenciais contribuintes. A única penalidade para os países que trapacearem será a perda de incentivos futuros. Alguns crêem que seria melhor trocar certificados de "desmatamento evitado" no mercado de créditos de carbono, onde os poluidores de países ricos pagariam aos demais para reduzir as emissões.
O valor econômico de derrubar árvores varia amplamente, segundo novo estudo do Banco Mundial. O hectare de pastagem na Amazônia vale ao menos US$ 200. Pelo atual preço dos voláteis créditos de carbono, a mesma área de floresta densa preservada valeria cerca de US$ 7,5 mil, segundo Kenneth Chomitz, que liderou o estudo. Portanto, os ganhos com áreas desmatadas são muitas vezes menores do que o custo para o planeta da derrubada de árvores ou do carbono lançado com sua queima. Assim, faz sentido para os países ricos poluidores pagarem, via mercado, pela preservação das florestas.
Os céticos dizem que "jogar" as florestas nos mercados mundiais de carbono reduziria preços e, em conseqüência, reduziria o incentivo para os países ricos usarem fontes de energia menos poluidoras - a não ser que as metas de emissão fossem endurecidas, o que também reduziria o mercado de carbono. Outros dizem que os países deveriam ser pagos por fornecer "eco-serviços", como biodiversidade, e não só por evitar a destruição. Mesmo se o impacto do "dinheiro em troca de preservação" for de curto prazo, a estratégia valeria a pena: daria tempo para o desenvolvimento de combustíveis não-fósseis.
Qualquer que seja o caso, o Brasil mostra progressos. O desmatamento nos doze meses até agosto caiu 30%, para 13 mil quilômetros quadrados. No ano móvel anterior, o declínio foi similar. Em parte, a tendência foi ajudada pela queda de preços de produtos agrícolas como a soja. Mas a ONG Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam) também credita a melhora a ações mais duras do governo federal. Mas tudo fortalece o Brasil para convencer os países de que pode entregar, o que eles dizem desejar - florestas intactas.
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Valor Econômico, 06/11/2006)