Comunidade no Pará reage à exploração ilegal de madeira e ateia fogo em carregamento
2006-11-06
Moradores da região do rio Uruará, no município de Prainha, sudoeste do Pará, atearam fogo na tarde da última quinta-feira (2/11) a uma balsa com 200 a 500m3 de madeira. Outras duas balsas foram retidas pelos locais na comunidade ribeirinha de Santa Cruz. A iniciativa foi motivada como protesto pela extração ilegal de madeira e falta de fiscalização na área. Segundo fontes do Ibama, das 12 madeireiras que atuam na região, apenas duas têm plano de manejo aprovado pelo instituto.
"Não queremos que as madeireiras saiam daqui. Queremos emprego", diz Rosália, moradora da Vila de Santa Maria do Aruará, "mas queremos que elas atuem dentro da lei, sem devastar a floresta". Segundo fontes locais, cerca de 400 pessoas permanecem acampadas na comunidade Santa Cruz e prometem atear fogo novamente a qualquer balsa que tente atravessar o rio.
O Greenpeace realizou um sobrevôo a pedido das comunidades e fotografou mais de mil quilômetros de estradas clandestinas, além de desmatamentos irregulares. "A história se repete: a exploração ilegal de madeira continua abrindo portas para a grilagem e o desmatamento. Se nada for feito rapidamente, não restará florestas para as comunidades", lamenta Marcelo Marquesini. Elildo Carvalho Junior, técnico do Ibama que acompanhou o trabalho, considera o quadro alarmante: "O que constatamos foi uma farra das madeireiras. Vimos clareira, pátio, estrada, caminhão... tudo fora das áreas dos planos de manejo".
Segundo o técnico, o Ibama prepara uma operação para confrontar toda a atividade madeireira na região, que deve ocorrer nos próximos dias.
História antiga
A possível operação já não é sem tempo, segundo o presidente da Câmara dos Vereadores do município de Prainha, Manoel da Costa Ferreira. Os vereadores encaminharam as primeiras denúncias ao Ministério do Meio Ambiente em 2001, quando constataram abertura de estradas clandestinas. "Na época até vieram alguns fiscais pra cá, mas não há um trabalho contínuo de controle", fiz Ferreira. O vereador teme um conflito violento de graves conseqüências, caso as autoridades não controlem definitivamente a situação.
O bloqueio iniciado ontem não foi a primeira medida tomada para conter e denunciar a extração criminosa de madeira. No começo de outubro, cinco balsas foram retidas pelos moradores no mesmo ponto no rio Uruará. O clima ficou tenso quando a polícia militar foi acionada pelos madeireiros para garantir a passagem da carga. Não adiantou. As balsas permaneceram retidas quando ficais do Ibama constataram a ausência do documento de origem de produto florestal (DOF).
O carregamento pertenceria à madeireira Heger, uma das que não tem autorização para operar. Dois dias depois, foram apresentados DOFs em nome de uma outra madeireira, essa sim com plano de manejo, mas constatada a fraude, o Ibama apreendeu definitivamente as toras. Nenhum representante da Heger se dispôs a falar até o fechamento desta matéria.
Os comunitários entrevistados por esta reportagem atribuem a ausência de soluções definitivas ao pagamento de propinas por parte das madeireiras aos fiscais. "Não duvido que haja um esquema de conivência, infelizmente" confessa Elildo Carvalho, que não trabalha no departamento de fiscalização.
Solução à vista
Na região que hoje compreende a atividade ilegal, deverá ser criada a Reserva Extrativista Renascer. Segundo Carvalho, a despeito de eventuais casos de corrupção, o Ibama não dispõe de recursos e pessoal para atender a todas as denúncias. "Tenho certeza que esses problemas vão diminuir uma vez que a Resex esteja criada. Qualquer problema que existir, o Ibama não vai poder se recusar a atender. Além disso, haverá a presença constante de representantes do instituto", garante. A previsão é que dentro de 4 meses todos os laudos necessário estejam concluídos, faltando portanto apenas o decreto presidencial.
(Por Carolina Derivi, Amazonia.org.br, 03/11/2006)
http://www.amazonia.org.br/noticias/noticia.cfm?id=225791