Brasil precisa assumir responsabilidade como grande emissor de gases-estufa, defendem especialistas
2006-11-06
Apesar de não ter de cumprir metas de redução de emissão de gases agravantes do efeito estufa, o Brasil poderia assumir uma posição mais avançada e adotar metas próprias. Esta é a opinião de um dos ambientalistas da Organização Não-Governamental Greenpeace, Carlos Rittl. Ele defende a adoção dessas metas para países em desenvolvimento, como o Brasil, prevista na Proposta de São Paulo para a segunda etapa do Tratado de Quioto, que procurar controlar o aquecimento global.
“O que a gente espera é que da reunião em Nairobi, a gente tenha uma demonstração de empenho de todos os países do mundo. Dos desenvolvidos em ampliar consideravelmente sua contribuição; de países como o Brasil, que hoje é um grande emissor, é um país em desenvolvimento, em aumentar sua contribuição, assumir sua responsabilidade de uma forma mais ampla e dar uma contribuição maior”.
Para Rittl, o governo brasileiro precisa ampliar a política de combate ao desflorestamento e queimadas na Amazônia, que, segundo o Greenpeace, são as maiores causas de emissão de gases de efeito estufa no Brasil. “A gente tem que fazer com que essa diminuição na taxa de desmatamento seja sistemática e freqüente, para que a gente consiga eliminar este problema do país. E fazer também com que a gente assuma um compromisso de desenvolver nossa matriz energética de uma maneira limpa e equilibrada, usando energias renováveis modernas, como as energias do sol ou dos ventos, coisas que estão disponíveis em nosso país, e a gente aproveita muito pouco.”
Rittl afirma que o Brasil deve assumir a responsabilidade de ser grande emissor de gases-estufa no planeta. “Certamente, nossa contribuição histórica é diferente da dos países desenvolvidos, mas a responsabilidade diferenciada não significa falta de responsabilidade.”
O professor visitante do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (USP), Luiz Gylvan Meira Filho, participante do Projeto Basic, concorda que há um descompasso entre o discurso oficial e a ação. “Fala-se muito sobre ações na Amazônia, do combate ilegal da extração ilegal de madeira, mas efetivamente não há um programa de governo que inclua uma meta para limitar da taxa de desflorestamento da Amazônia”, afirma.
“Veja aqui no Brasil. O Brasil sempre foi um defensor da Convenção-Quadro e do Protocolo de Quioto. Se você olhar na realidade, as políticas que vêm sendo implementadas na área de energia, no último leilão de energia foram aprovadas usinas térmicas à carvão - importado, porque o Brasil tem pouco carvão - enquanto que sob o ponto de vista de mudança de climas, é mais interessante construir usina hidrelétrica, não usina térmica, muito menos a carvão. Daí, você tem uma diferença entre o discurso e a ação. A maior causa da emissão de gases de efeito estufa no Brasil é o desflorestamento da Amazônia, mas efetivamente não há um programa de governo que inclua, por exemplo, uma meta para limitar da taxa de desflorestamento da Amazônia”, afirma Meira Filho.
(Por Renato Brandão, Agência Brasil, 05/11/2006)
http://www.agenciabrasil.gov.br/noticias/2006/10/25/materia.2006-11-05.7306520503/view