Entidades querem formar corredores ecológicos para impedir avanço do desmatamento no MT
2006-11-06
A formação de corredores ecológicos acompanhando a região chamada “arco do desmatamento” é uma estratégia em que apostam ambientalistas na luta contra a devastação da maior floresta tropical do mundo, a Amazônica. A implementação dessas áreas em Mato Grosso é fundamental para a consolidação do projeto Corredores Ecológicos, do Ministério do Meio Ambiente (MMA). Porém, apesar de existirem iniciativas no Estado nesse sentido, elas ainda são consideradas incipientes pelos que defendem a idéia.
Os corredores ecológicos são áreas estratégicas que permitem a conectividade entre diferentes porções de ecossistema, partem do princípio de que o entorno das unidades de conservação (UCs) também devem receber proteção especial, para que essas não se tornem blocos isolados pelo avanço da destruição florestal. O objetivo é garantir a movimentação de espécies animais em áreas diversas e, consequentemente, conter o desmatamento.
Em Mato Grosso já existem formações do tipo, que fazem conexões interestaduais. Ambientalistas apontam o Corredor Ecológico Meridional da Amazônia, que atualmente tem um bloco extenso de 19,5 milhões de hectares, como uma ferramenta indispensável para brecar a devastação que ameaça a floresta. Ele começa em UCs do Pará, passa por terras mato-grossenses, segue em Rondônia e termina no Acre, acompanhando o “arco”. Nessa formação existem também áreas indígenas e militares.
A contribuição mais importante do Estado para o corredor foi a criação do Parque Nacional do Juruena este ano, elo fundamental entre as regiões, com 1,164 milhão de hectares (ver matéria). O Parque Nacional conecta-se diretamente à terra indígena Kaiabi, ao Parque Estadual Igarapés do Juruena e a outras unidades interestaduais. Outras oito UCs mato-grossenses no norte e noroeste também são importantes na contenção da destruição, mas nem todas foram incorporadas à formação ou estão conectadas a outras porções de ecossistema ainda.
Somadas às áreas do Parque e das unidades da região são 1.898,984 hectares protegidos naquela região mato-grossense. Isso sem contar as áreas indígenas e militares, em tese preservadas.
As UCs são divididas em dois tipos, de proteção integral ou de uso sustentável. Na formação dos corredores pode haver propriedades particulares e, nesse caso, a atuação da Secretaria de Estado de Meio Ambiente é fundamental para que a reserva legal amazônica, 80% da propriedade que não pode ser desmatada, seja definida em uma localização estratégica para conectar as Ucs e fiscalizada.
“Estamos realizando o trabalho de orientação junto aos proprietários rurais. Há um estudo em andamento para definir outras três novas unidades de conservação na região de Cotriguaçu, Cláudia e Nova Ubiratan”, afirmou o coordenador de Unidades de Conservação da Sema, Elder Antunes, dizendo não haver data para conclusão do processo.
O Ministério do Meio Ambiente realizou em Brasília, há cerca de 10 dias, discussões para redefinir as áreas prioritárias para a preservação no bioma amazônico. Com a materialização dos estudos e a posterior elaboração de um mapa será possível aprimorar o projeto dos corredores ecológicos em Mato Grosso.
“Criar as UCs e os corredores é um trabalho complexo, pois o ambiente é dinâmico. Exige estudos, que existem poucos, e recursos. A partir do mapa elaborado pelo MMA, poderemos traçar com mais precisão essas áreas de conexão. Sem elas, os animais ficam limitados a reproduzir-se com os parentes e a espécie corre o risco de extinção. No próximo ano, a implementação dos corredores deverá ser mais intensa”, afirmou o superintendente do Ibama em MT, Paulo Maier.
O embate com os interesses econômicos de madeireiros e produtores rurais que exploram a região é um dos maiores empecilhos que emperram a implementação das Ucs e dos corredores. “Nossas perspectivas não são muito boas. Mas a meta é conseguir estabelecer 50 milhões de hectares de Ucs na Amazônia até 2010. Ainda falta 60%, cuja preservação também depende da posterior implementação dos corredores. Uma meta ambiciosa”, afirmou o coordenador da ONG WWF-Brasil, Marcos Pinheiro.
(Por Keity Roma, Diário de Cuiabá, 05/11/2006)
http://www.diariodecuiaba.com.br/detalhe.php?cod=270886