Com a inesperada ausência do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e em meio à delicada crise diplomática em que estão mergulhados os governos da Argentina e do Uruguai, começa hoje, em Montevidéu, a 16ª Cúpula Ibero-Americana, cujo tema será "Migração e Desenvolvimento".
Oconflito entre argentinos e uruguaios, desencadeado pela construção de duas fábricas de celulose na cidade uruguaia de Fray Bentos, na fronteira com a Argentina, contaminou o encontro, que reunirá cerca de 20 chefes de Estado e de governo dos países ibero-americanos. As estrelas da reunião serão o rei Juan Carlos, da Espanha, o primeiro-ministro espanhol, José Luis Rodríguez Zapatero, os presidentes da Venezuela, Hugo Chávez (em plena campanha eleitoral) e da Bolívia, Evo Morales e, segundo informações ainda não confirmadas oficialmente, o líder interino de Cuba, Raúl Castro - irmão do presidente Fidel Castro.
A disputa entre os governos dos presidentes Néstor Kirchner e Tabaré Vázquez estragou a festa dos uruguaios, que gastaram cerca de US$ 500 mil em obras para melhorar a infra-estrutura de Montevidéu. Manifestantes das cidades argentinas de Gualeguaychú e Colón, que exigem a suspensão das obras de construção das duas fábricas de celulose, anunciaram sua decisão de bloquear, durante a cúpula, duas das pontes que unem os dois países.
- Eu disse isso desde o começo, com as pontes bloqueadas não há diálogo - foi a resposta do presidente uruguaio. Com esse pano de fundo, o presidente argentino desembarcará hoje na capital uruguaia sem a menor intenção de tentar aproximar suas posições das do colega uruguaio. Embora o conflito bilateral não seja parte da agenda oficial da cúpula, o assunto certamente será discutido pelos participantes.Tanto os manifestantes como o governo Kirchner insistem em afirmar que as fábricas provocariam um gravíssimo dano ao meio ambiente na região.
Negociadores de todos os países começaram a redigir ontem o documento final, que será analisado hoje pelos chanceleres. O drama dos imigrantes ilegais será um dos pontos mais importantes da declaração dos presidentes. Somente na Espanha, estima-se que vivem mais de 3,7 milhões de imigrantes ilegais. Deste total, mais de 1 milhão são latino-americanos. No ano passado, o governo espanhol regularizou a situação de 600 mil estrangeiros.
(Por Janaína Figueiredo,
O Globo, 02/11/2006)