Depois de mais de um ano de polêmica, o raio no qual é proibido o plantio de soja
transgênica no entorno da Floresta de Mato Castelhano, no norte do Estado, foi reduzido de
10 quilômetros para 500 metros. As novas normas constam em Medida Provisória (MP) e decreto
publicados ontem no Diário Oficial da União e também valem para outras unidades de
conservação.
A alteração atende quase totalmente às reivindicações dos agricultores, mas recebeu
críticas de ambientalistas ligados ao Greenpeace. Segundo a Associação dos Produtores
Rurais do Entorno da Floresta de Mato Castelhano (Profloma), a redução do raio de proteção
diminui a zona tampão entre áreas conservadas e lavouras de 26 mil hectares para 1,3 mil. O
número de agricultores atingidos pelas restrições passa de 1,5 mil para cerca de 80, ainda
segundo dados da entidade.
- Estamos comemorando, mas essa luta não termina. Já estamos trabalhando em um possível
mandado de segurança para os produtores que ficaram dentro dos 500 metros possam plantar
sem ser penalizados. Muitos já começaram o plantio - revela o assessor jurídico da
Profloma, Ioberto Banunas.
Para o Greenpeace, a decisão "é uma afronta ao princípio da precaução e não poderia ter
sido tomada sem uma consulta à sociedade".
- A soja transgênica, como ocorre com a convencional, é dependente de agrotóxicos. É óbvio
que, se pulveriza agrotóxico em uma área próximo à floresta, vai penetrar no sistema da
área protegida, e isso terá um impacto. Por isso, defendemos formas de exploração
diferentes nas zonas tampão - argumenta Ventura Barbeiro, agrônomo do Greenpeace.
Apesar do decreto presidencial fixando uma zona tampão de 500 metros de raio do plantio de
soja transgênica, a MP que abriu caminho para isso deixa uma brecha para alteração das
regras. Diz que o plano de manejo das áreas de conservação pode dispor sobre o cultivo de
organismos geneticamente modificados (OGMs). O chefe do escritório regional do Instituto
Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama) em Passo Fundo, Márcio Lucca, afirma que o órgão deve
renovar em dois anos o plano da Floresta de Mato Castelhano.
Entenda a polêmica
> A Lei de Biossegurança, de maio de 2005, fixou distância mínima de 10 quilômetros das
áreas protegidas para plantio de transgênicos
> A legislação gerou atrito entre o Ibama e produtores que plantavam soja transgênica nos
entornos da Floresta de Mato Castelhano
> Nas negociações, o Ibama propôs assinatura de um termo de ajuste de conduta com o qual os
agricultores se comprometeriam a reduzir a área de cultivo na zona tampão em 20% a cada
ano. O termo ainda está sob análise do Ministério Público Federal
> Sem termo, os produtores plantaram soja no entorno da Floresta na última safra, e o Ibama
não multou
> Ontem (01/11), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva publicou medida provisória e
decreto estabelecendo um raio de 500 metros da floresta para plantio de soja transgênica e
de 800 a 5 mil metros, para o algodão transgênico
(Por Sebastião Ribeiro,
Zero Hora, 02/11/2006)