Na parceria do Programa Sintonia da Terra, que vai ao ar todas as sextas-feiras, às
8h15min, na Rádio da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (www.ufrgs.br/radio), a
EcoAgência Solidária de Notícias Ambientais reproduz o comentário do engenheiro agrônomo
Jacques Saldanha, dentro do quadro Ecologia na Prática, que foi ao ar no programa do último
dia 27 de outubro. Ele aponta problemas ambientais decorrentes da revolução química,
iniciada na Alemanha na metade do século XIX.
“Agradeço o convite do Sintonia da Terra pois é fundamental nós darmo-nos conta de que
estamos vivendo um momento que parece bem difícil, dramático sob certo aspecto, mas também
é um momento radioso.
Quando nós mudamos o uso de coisas naturais para artificiais em todo o planeta, a partir da
II Guerra Mundial, as pessoas que estavam fazendo aquilo não tinham noção do que estavam
mudando. Era sempre apresentado pelos países do primeiro mundo, principalmente pelos
Estados Unidos, que tudo isso era progresso, era evolução. Assim, as pessoas, com sua
boa-fé, acabaram substituindo todas as moléculas naturais pelas moléculas artificiais.
Com o passar dos anos, nas décadas de 60 e 70, começou-se a imaginar que o problema de
saúde no mundo e de várias doenças que apareciam estava muito mais conectado com os
agrotóxicos ou com o lixo das indústrias, seja fumaça, esgoto ou sólido que não era bem bem
destinado, do que o consumo e os produtos gerados pela indústria sintética de nosso
dia-a-dia.
A partir dos anos 90 começou-se a perceber que, na verdade, a grande tragédia do mundo não
eram determinadas moléculas. Era simplesmente a troca das moléculas naturais, ou seja,
substâncias comuns na natureza, cuja finalidade havia sido descoberta pelas tradições, por
substâncias que imitavam as naturais, mas eram absolutamente artificiais. Artificial
consiste naquilo que não é natural, o que a natureza não reconhece. Com o passar do tempo,
na década de 90, com o uso indiscriminado dessas moléculas no mundo, começaram-se a
perceber muitos problemas de saúde, principalmente na área hormonal.
Em 1991, uma médica nos EUA descobre que muitas dessas moléculas (por exemplo as usadas em
detergentes, como anti-oxidantes, em plásticos, para amaciar determinadas resinas plásticas
e outras) têm a capacidade de imitar o hormônio feminino, mudando a condição completa de
toda nossa harmonia, tanto no gênero feminino, quanto no masculino.
Nesse caso estão incluídas as panelas de teflon, cujo uso é seríssimo. Em 2004 e 2005, a
grande empresa fabricante desse produto nos EUA foi obrigada a ressarcir a população em
torno de uma unidade de produção em US$ 600 milhões. Ela foi obrigada a criar um fundo de
saúde de US$ 280 milhões para poder ressarcir todos os custos das pessoas que moravam perto
dessa fábrica. Quando vamos ao supermercado, praticamente todas as panelas são de teflon.
Nos produtos utilizados para amaciar esse filme plástico, que embrulha quase todos os
produtos no mercado, também existem substâncias que imitam o hormônio feminino.
Hoje estamos nesse impasse. As pessoas ficam muito preocupadas quando recebem essas
informações, mas não se dão conta de que é muito simples. Basta mudarmos tudo o que é
artificial para tudo o que é natural.
Nós vivemos em um país, o Brasil, onde todas essas moléculas naturais são comuns a todos
nós. Precisamos darmo-nos conta de que há 500 anos, quando o Brasil foi invadido pelos
europeus, o objetivo era buscar materiais que eles não tinham. A partir de 1500, as
colônias continuaram a existir por todo o planeta justamente para que os europeus tivessem
as matérias-primas que eles não possuíam. Só por volta de 1850, quando os alemães
conseguiram fazer em laboratório uma molécula que imitava o azul natural, muda a história e
surge química artificial.
Naquela época eles não imaginavam que essas moléculas artificiais acabariam não sendo
digeridas, metabolizadas, transformadas pela natureza.
Hoje é muito fácil. Quando vamos ao supermercado e olhamos um produto, a primeira coisa a
ser feita é verificar se esse produto é natural.
Caso não entendamos o que está escrito o melhor é não comprarmos. Se eu não sei o que é, eu
não compro. Primeiro vou me informar para saber o que é aquilo. Isso é fundamental e é
muito fácil, pois no supermercado também existem todos os produtos naturais. No lugar de
comprar uma lata de milho ou ervilha, opte por produtos em vidro.
Como sabemos que nas latas existe um produto de uma lâmina que libera uma substância que
imita o hormônio feminino e que contamina o alimento a tal ponto que esse produz câncer de
mama, conforme pesquisas científicas, é muito simples: não compramos mais em lata e sim em
vidros. No caso do requeijão, por exemplo, muitas empresas estão querendo adotar embalagens
plásticas.
Existe uma cooperativa de Pelotas que apresenta o produto dizendo: requeijão com o gostoso
sabor do copo de vidro. Existe uma percepção dos empresários e embaladores de que há uma
diferença entre plástico e vidro.
Uma das substâncias mais perigosas que existem é o nonilfenol. Quando olhamos muitos
produtos de limpeza no supermercado damo-nos conta de que está escrito nonilfenol ou um
termo substituto: tensoativo não inônico. Não que todo tensoativo não iônico seja
nonilfenol, mas a maioria deles é. Tal produto foi apresentado em 1991 e causou impacto em
todo mundo, pois as pessoas não acreditavam no que ele era capaz de fazer. Há dois anos ele
foi proibido em toda comunidade européia e os países europeus deixaram de utilizar a
molécula de nonilfenol.
Logicamente que, sendo proibido na Europa, e como não temos a noção desse perigo por aqui,
em todos os nossos produtos aparece o nonilfenol.
Hoje em dia existe material informativo sobre essse assunto. Há o saite
www.nossofuturoroubado.com.br e o livro chamado Nosso futuro roubado. Ele está esgotado,
mas precisamos pressionar a editora LP&M para que ela reedite-o.
Há muita informação disponível em português. Não temos mais o direito, como foi com os meus
pais e com a minha geração, de estarmos usando as coisas que a gente imagina que a
indústria está nos trazendo o que há de melhor. Chegou o ponto de dizermos não e voltarmos
a utilizar aquilo que nossos avós, nossos bisavós utilizavam e que sim era o melhor”.
Acesse também o saite
Nosso Futuro Roubado para
obter outras informações sobre esse tema.
(Transcrição da jornalista Cláudia Dreier, EcoAgência de Notícias, 02/11/2006)
http://www.ecoagencia.com.br/index.php?option=content&task=view&id=1931&Itemid=2