A Floresta Nacional de Caxiuanã, localizada a 400 km de Belém do Pará, recebeu ontem (31/10) uma equipe de 60 pessoas, entre pesquisadores e bolsistas de iniciação científica. Integrantes de diversas instituições de pesquisa do Brasil, como o Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG) e o Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia (Inpa), ambas instituições ligadas ao Ministério da Ciência e Tecnologia, as universidades de São Paulo (USP) e Federal do Pará (UFPA), entre outros, integram o experimento Cobra Pará - Caxiuanã Observations in the Biosphere, River and Atmosphere of Pará.
Vinculado ao projeto LBA (Experimento de Grande Escala da Biosfera-atmosfera na Amazônia), iniciativa internacional de pesquisa liderada pelo Brasil, o Experimento Cobra irá realizar, durante 15 dias, uma série de atividades para analisar os fluxos de gás carbônico (CO²) no ecossistema da floresta. A Estação Científica Ferreira Penna do Museu Goeldi servirá como base de apoio para os pesquisadores. A iniciativa é inédita na Floresta Nacional de Caxiuanã.
Clima
A produção excessiva de CO² é um dos principais responsáveis pelo aumento de temperatura da Terra, consequência do chamado efeito estufa. Compreender o fluxo de CO² na floresta amazônica pode ser a chave para se criar alternativas de controle do clima não só de nossa região, mas de todo o planeta. Renato Silva, pesquisador da Universidade Federal do Pará e um dos integrantes do Cobra, ressalta a importância da iniciativa: "não existem estudos amplos sobre a relação entre a Amazônia e o clima do planeta, o que torna o Cobra um experimento importantíssimo".
Para Leonardo Sá, pesquisador da Coordenação de Ciências da Terra do Goeldi, "a idéia geral é de que as florestas atuam como consumidores de carbono. Entretanto, já foram detectadas áreas da floresta Amazônica em que isso não ocorre, como em Santarém (PA), ou seja, os fluxos de CO² da Amazônia são mais complexos do que se imagina".
As atividades que serão realizadas em Caxiuanã ajudarão a entender, de maneira geral, qual o papel da Amazônia no clima do mundo. Para isto, serão feitas atividades de medição e análise de CO² no ecossistema da floresta de Caxiuanã, divididos em dois ambientes: florestas e rios.
Serão observados os fluxos de CO² do solo para as árvores e dos rios para a atmosfera, contando inclusive com o auxílio de balões, específicos para esse tipo de trabalho. Quando o Experimento Cobra for concluído, já será possível conhecer alguns resultados dos dados coletados em Caxiuanã, mas, outros, precisarão de mais algum tempo para uma análise mais específica.
Os fluxos de gás carbônico e suas implicações no clima amazônico afetam os que dependem do ecossistema da floresta, desde as populações ribeirinhas até os animais e plantas. "Quando se trata do fluxo de carbono e seus efeitos na floresta, cada região da Amazônia tem suas peculiaridades, incluindo a Baía de Caxiuanã onde, por exemplo, a temperatura média da água é de 32ºC, ao contrário de outras áreas da floresta amazônica", destaca Leonardo Sá.
Os resultados do Experimento Cobra trarão uma série de benefícios. No campo dos estudos meteorológicos, por exemplo, será possível compreender melhor a origem dos ventos noturnos da Baía de Caxiuanã, o que pode auxiliar as comunidades locais na navegação. Além disso, a partir do conhecimento mais preciso de como funcionam os fluxos de CO² na floresta e suas conseqüências climáticas, será possível realizar previsões do tempo mais precisas para a região amazônica.
(Por Tiago Araújo, Museu Goeldi, disponível na
Agência MCT, 31/10/2006)