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2006-11-01
A questão crucial neste ano é o Iraque, e a questão mais importante da década pode ser o risco que a proliferação nuclear resulta na incineração de Wall Street pelos terroristas. Ambos os tópicos estão incitando debates úteis nessa temporada de eleições. Porém, uma das questões mais importantes neste século não está gerando discussões sérias nas campanhas. E, ao invés de um ritmo certo, vamos ver o experimento químico no qual todos estamos fazendo parte.

Se você pensa na superfície da Terra como uma grande proveta, ela está, em sua maior parte, cheia dágua. Ela é levemente alcalina, e é isso que cria um lar hospitaleiro para peixes, recifes de coral, e plâncton – e, indiretamente, em uma posição alta da cadeia alimentar, para nós. Porém, os cientistas descobriram que o dióxido de carbono que nós estamos emitindo no ar não apenas provoca o aquecimento da atmosfera e aumenta o nível dos oceanos, como produz ácido carbônico (que é produzido através da absorção do gás carbônico pelo oceano) – a mesma substância encontrada em refrigerantes.

Isso faz com que o oceano fique um pouco mais ácido, prejudicando a capacidade de certos moluscos de produzir conchas, que, como os recifes de coral, são feitos de carbonato de cálcio. Um artigo recente explicou a indignação de ser um molusco em dissolução em um oceano ácido. “Colo um pedaço de giz (carbonato de cálcio) em um copo com vinagre (um ácido suave) se você precisar de uma demonstração da preocupação geral: o giz começará a se dissolver imediatamente”.

As águas mais ácidas podem significar o fim, ao menos em latitudes mais altas, de algumas variações de moluscos. Isso poderia desequilibrar a cadeia alimentar, possivelmente matando muitos peixes e baleias, e piorando as condições de vida humana. “Já houve alguns eventos grandes na história geológica nos quais o ciclo do carbono mudou dramaticamente”, afirmou Scott Doney, cientista do Woods Hole Oceanografic Institution, em Massachusetts. Um deles foi um alerta abrupto que aconteceu há 55 milhões de anos em conjunção com a acidificação dos oceanos e das extinções em massa. A maioria dos cientistas não acredita que nós estamos caminhando na direção desse episódio aconteça novamente. Porém, muitos se preocupam, pois nós estamos correndo perigos desconhecidos.

“Seja em 20 ou 100 anos, eu acho que o ecossistema marinho será dramaticamente diferente no final desse século, e isso levará a eventos de extinção”, acrescentou Doney. “Esse é o único planeta habitável que nós temos”, afirmou ele. “O mal que estamos fazendo agora só será sentido pelas gerações seguintes”. Portanto, esse deveria ser uma das maiores questões políticas do século – o vandalismo que nós estamos fazendo com nosso planeta devido a nossa recusa em conter os gases do efeito estufa, apesar de o assunto ter sido pouco debatido até o momento.

As mudanças na química dos oceanos é apenas uma de muitas conseqüências da emissão de carbono. As evidências também crescem quanto aos perigos mais familiares: geleiras derretendo, mudança nos padrões pluviais, aumento do nível dos mares e furacões mais poderosos. No ano passado, a Organização Mundial de Saúde liberou um estudo indicando que a mudança resulta em mais 150.000 mortes e mais 5 milhões de doenças por ano, causando a difusão da malária, diarréia, desnutrição e outros problemas.

O derretimento das geleiras e a corrosão dos moluscos não são tão sensacionalistas como escândalo dos estagiários no Congresso, ou tão urgentes como a guerra do Iraque. Porém elas também são escandalosas. Nós não temos responsabilidade maior do que sermos guardiões de nossos planetas, e nós, ao invés disso, estamos acabando com ele.
(Por Nicholas D. Kristof, The New York Times, 31/10/2006)
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