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2006-11-01
Furacões, maremotos, secas, pandemias, guerras civis e internacionais, ataques terroristas: embora tudo isto ocorra ao longo da história humana, sua atual escala, intensidade e freqüência deixam a impressão de que o mundo está saindo do seu eixo e fugindo ao controle. Para agravar está sensação de vertigem, alguns ávidos meios de comunicação amplificam cada acontecimento desse tipo com informações sobre cenas de devastação que causam desânimo, como as de localidades arrasadas, sobreviventes de algum desastre, expressões de aflição de vítimas que vêem como as posses de toda sua vida se perdem para sempre.

É a era da incerteza, que requer um estado de ânimo completamente diferente do existente até agora. Com suas duas guerras mundiais, as revoluções russa e chinesa, e a Grande Depressão, o século XX deu penosas lições em matéria de transições traumáticas. O que faz com que no século XXI a incerteza seja ainda maior são as imprevisíveis interações entre tantas tendências que mudam no mundo surgidas ao mesmo tempo: esgotamento ambiental, dívidas pessoais e nacionais insustentáveis, aumento da desigualdade econômica, guerras civis e desordens sociais, ameaças à saúde e à segurança pessoal e pública, paralisação do processo político e ascensão das teologias que pregam o fim do mundo.

Em resposta à crescente incerteza vimos reações retrógradas e repressivas por parte de líderes políticos temerosos da mudança e respostas nascidas da rígida adesão a obsoletas visões do mundo, o que leva à adoção de políticas homicidas e autodestrutivas. O ponto desta resistência à mudança cruza através de fronteiras culturais e ideológicas que vão desde a Casa Branca até a Coréia do Norte, de Israel e Irã até o Vaticano. Também vemos um aumento do extremismo de muitos tipos religiosos, ideológico, cultural – em verdadeiros seguidores de todas as crenças, cuja militante intolerância só faz reforçar a militância de seus adversários. Ao mesmo tempo, vemos o crescimento das teologias apocalípticas, que renunciam a todo futuro viável na Terra em troca de uma salvação seletiva em uma eventual vida além-túmulo. Embora não esteja baseada na realidade, a fé em tal dispensa divina pode levar a um comportamento de fim do mundo que em si mesmo precipite a concretização das profecias sobre o dia do juízo final.

Quanto mais resistirmos em nos adaptar à mudança inevitável, mais extremas deverão ser as medidas necessárias e o mais provável será que sejam decretadas de modo autoritário e não por meios democráticos. Mas é igualmente possível contar com uma aterrissagem suave, que não apenas preserve, mas melhore realmente a democracia e o meio ambiente, reduza a desigualdade e reforme a economia. É certo que respostas mais adequadas à radical incerteza existente já estão a caminho, porém continuam amplamente fora da tela do radar dos políticos, dos meios de comunicação e do público. Os atores principais nesta mais positiva transformação incluem não apenas os progressistas idealistas, mas também os acadêmicos com critérios avançados, os burocratas conscientes do bem público, os pesquisadores e acadêmicos e, inclusive, alguns conservadores tradicionais.

Ao enfrentar uma crescente instabilidade são muitos os que estão se tornando incapazes de resolver de maneira pragmática os problemas, bem com de superar suspeitas de velha data em relação a outros para se associar diante da necessidade comum em alianças que antes pareciam impossíveis. Os catalisadores para tais respostas construtivas partem freqüentemente, embora não exclusivamente, do setor cívico, das organizações não-governamentais (ONG) que tanto proliferaram em enorme número em todo o mundo durante as últimas décadas.

As ONGs têm consigo a paixão e o compromisso básico para tirar o melhor daqueles que se encontram em posições centrais para realizar as mudanças necessárias. Através da utilização da Internet e de mecanismos avançados de comunicação por redes eletrônicas, os participantes de cada setor, seja público, privado, cívico, institucional ou individual, estão colaborando em meios altamente influentes para conceber estratégias com as quais enfrentar qualquer desafio importante que surgir.

O que está faltando desta profusão de meios para a solução dos problemas é a crucial consciência publica sobre estas atividades, a fim de inspirar outros a lançarem suas próprias iniciativas. Necessitamos urgentemente de um intercâmbio de informação e de inovações que permitiria aos que têm interesses semelhantes trabalhar para enfrentar os mesmos desafios. Desse modo seriam compartilhadas percepções, experiências e se criaria um espaço criativo comum para utilizar os imensos poderes da Internet e de outros meios de comunicação novos e velhos para acelerar a passagem da inovação social para a evolução cultural.

Devido á convergência de crises em todas as direções, não podemos nos permitir empregar gerações para desenvolver estratégias efetivas com as quais enfrentar os atuais desafios. A incerteza é melhor abordada não com o pavor ou com a escapista resistência rígida ou com a aquiescência passiva, mas com o compromisso de buscar na colaboração com todos a solução dos problemas, com a criação conjunta de respostas mais humanas e efetivas para cada um dos desafios que enfrentamos em nível local, regional, nacional e global
(Por Mark Sommer, Envolverde, 01/11/2006)
http://www.envolverde.com.br/materia.php?cod=24109&edt=1

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