Estudo divulgado ontem em Londres adverte para a alta da temperatura no planeta. O aquecimento global deverá custar ao mundo até US$ 9,6 trilhões até o próximo século, devido aos efeitos da desnutrição, do aumento do nível dos oceanos, das tempestades e de outros danos ambientais, segundo indica estudo encomendado pelo governo britânico. "As mudanças climáticas vão afetar os elementos básicos da vida para todas as pessoas do planeta: o acesso à água, a produção de alimentos, a saúde e o meio ambiente", disse Nicholas Stern, economista-chefe do governo de Tony Blair, em relatório de 600 páginas divulgado ontem em Londres.

O estudo adverte que a comunidade internacional deve atuar já contra a mudança climática se quer evitar um verdadeiro "desastre" para a economia mundial, que poderia cair até 20% por culpa da alta das temperaturas do planeta. As medidas para limitar radicalmente as emissões de CO podem trazer benefícios para a economia mundial em torno de US$ 2,5 trilhões ao ano, assinala o documento. Já o mercado de tecnologias limpas poderia representar por sua vez um volume anual perto de US$ 500 bilhões e talvez muito mais para o ano de 2050 se forem tomadas as medidas necessárias.

O relatório adverte que com uma alta das temperaturas de 3 a 4 graus centígrados, o aumento do nível dos mares transformará a dezenas e até centenas de milhões de pessoas em vítimas das inundações que se produzem cada ano. As descobertas, endossadas por Blair, compõem os esforços do governo britânico para fazer com que o presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, retome as conversações globais sobre o meio ambiente. Em 2001, Bush recusou-se a assinar o Protocolo de Kyoto, que restringe as emissões resultantes da combustão do petróleo, do carvão e do gás natural, responsabilizadas pelos danos causados ao clima da Terra.

"Até agora, o governo Bush suspendeu as negociações em torno do aquecimento global por quase sete anos e o que o relatório do governo britânico mostra é que não podemos esperar mais", disse o diretor da consultoria National Environmental Trust, Philip Clapp. Os países da União Européia (UE), juntamente com o Japão e a Rússia, implementaram o Protocolo de Kyoto, de 1997, que determinava que os países ricos e industrializados reduzissem as emissões decorrentes da queima de combustíveis fósseis até 2012. Os EUA, origem de 25% da poluição mundial, mantém conversas com a UE sobre possíveis cortes que contornem o Protocolo de Kyoto.

O chamado Relatório Stern é o mais recente a fazer soar o alarme das autoridades governamentais sobre os custos da não-adoção de medidas na esfera do meio ambiente. Ele aponta a necessidade da implementação de uma mudança nos impostos e leis britânicas a fim de combater as mudanças climáticas, moldando as políticas que o governo trabalhista endossará.

O Fundo Mundial para a Natureza (WWF) pediu ontem às delegações dos 198 países que se reunirão na Cúpula Mundial do Clima em novembro em Nairóbi que acelerem as negociações para aprovar um documento que substitua o Protocolo de Kyoto. O ministro da Fazenda do Reino Unido, Gordon Brown, o favorito para assumir o cargo de primeiro-ministro quando Blair se aposentar, aderiu ao apoio dado pelos grupos ambientais ao relatório. As companhias aéreas e as centrais de serviços públicos deverão ser as empresas mais prejudicadas pela imposição de limites à poluição. Nem Stern nem Blair discutiram impostos específicos a serem empregados para restringir as emissões, dizendo que essas questões serão anunciadas por Brown durante a divulgação do orçamento. Impacto na AL.

A América Latina é particularmente afetada pelas variações do clima, já que a economia da região depende dos recursos naturais, segundo o relatório. Em um pequeno trecho sobre a região, o documento ressalta que as condições de vida e os meios de sustento de milhões de pessoas podem ser afetados devido às variações climáticas. Segundo o texto, a produção de milho nos países andinos e na América Central pode cair em média 15% até 2055. O relatório lembra que a região amazônica é o lar de cerca de um milhão de membros de 400 grupos indígenas diferentes e é fonte de renda e de provisões farmacêuticas para milhões de pessoas.

O estudo afirma que ignorar a mudança climática da Terra pode ter conseqüências "desastrosas" para a economia e pode gerar 200 milhões de refugiados. Os países mais pobres serão os primeiros e os mais prejudicados pela mudança climática.
(Gazeta Mercantil, com informações de Bloomberg News e EFE, 31/10/2006)
http://www.gazetamercantil.com.br/integraNoticia.aspx?Param=14%2c0%2c1%2c277623%2cUIOU