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2006-10-31
O presidente da Comissão Européia (CE), Durão Barroso, manifestou ontem abertura para apoiar, em matérias como investigação e segurança, os estados-membros que optem por recorrer à energia nuclear. "Cabe a cada país decidir, mas a Comunidade pode dar um contributo àqueles que o desejarem", disse, no encerramento da conferência Estratégia Européia para a Energia, em Lisboa. O ministro da Economia, Manuel Pinho, já afastou essa possibilidade em Portugal.

Durante o lançamento da primeira pedra da fábrica de produção de painéis fotovoltaicos de Moura (ler texto em baixo), Manuel Pinho admitiu que o país tem de investir na diversificação das fontes energéticas, com enfoque nas renováveis. Quando questionado pelos jornalistas sobre se essa aposta significaria que o nuclear está completamente fora de questão em Portugal, o governante, citado pela Lusa, foi taxativo "Está".

Durante a conferência, Durão Barroso havia argumentado que "o debate sobre a energia nuclear não deve ser um tabu". O recurso a este tipo de energia é um dos quatro pilares identificados pelo presidente da CE para baixar as emissões de dióxido de carbono na União Europeia (UE). Maior eficiência energética, aposta nas fontes renováveis e mais utilização de hidrocarbonetos "limpos" são as outras propostas.

Há duas semanas, a CE lançou um plano de acção com vista a uma melhor eficiência do consumo e, em Janeiro, será apresentado um pacote global de medidas para o campo energético. Durão Barroso espera obter no Conselho Europeu da próxima Primavera um acordo geral sobre utilização de energia com baixa produção de carbono. Depois, cada estado-membro deve definir o seu próprio "cabaz energético".

No entanto, sublinhou, a diversidade interna não deve gerar divergências a nível externo. "Temos de falar com os nossos parceiros em todo o Mundo a uma só voz", afirmou, realçando a necessidade de uma política comum na UE. Por este motivo, considera "absurdo" e até "perigoso" manter 27 "minimercados" europeus de energia separados. "A Europa só terá vantagens se se mostrar unida", disse.

Durão Barroso afirmou já haver o "reconhecimento" da necessidade de uma política energética comum, e que "impressionou" a forma unida como os estados-membros encararam a última cimeira entre a Europa e a Rússia, há uma semana. O presidente da CE vê com bons olhos um nova parceria entre aquele país e a Europa, no domínio energético, no que considera ser uma "interdependência potencialmente vantajosa".

As relações comerciais com a Rússia foram, de resto, um dos únicos pontos em que as visões de Durão Barroso e José Sócrates não coincidiram, na totalidade. O primeiro-ministro, também presente, afirmou-se defensor de uma política energética comum na Europa, mas manifestou-se preocupado quanto ao "afunilamento excessivo" face à Rússia, a nível de fornecimento de energia.

José Sócrates defendeu que "a boa alternativa à concentração não deve ser um modelo atomista", de cada um por si, mas um "modelo multipolar com produção territorial dispersa", assente numa estratégia europeia comum. Só assim, disse, será possível haver crescimento para mercados fora da UE.

Investimentos
O ministro da Economia, Manuel Pinho, revelou ontem, na conferência, que estão previstos investimentos de 8 mil milhões (cerca de 5% do Produto Interno Bruto) para os próximos cinco anos, no sector da energia. Será ainda criado um Laboratório Nacional de Energia e Geologia e, segundo o ministro, estão a nascer vários projectos em parceria com as universidades.

Elogios ao ministro
Depois de um período menos feliz, em que foi alvo de duras críticas, o ministro da Economia teve um dia bastante positivo. A comissária europeia da Concorrência, Neelie Kroes, que falou na abertura da conferência, elogiou o trabalho feito por Manuel Pinho na abertura do mercado de energia, sobretudo na separação das infra- -estruturas de produção das de distribuição. Mais tarde, foi José Sócrates quem destacou o papel do ministro no "fim do folhetim da Galp".

Empresas divergentes
Num debate durante a conferência, os presidentes das empresas do sector energético português desentenderam-se quanto à situação actual do mercado. António Mexia, da EDP, e Nuno Ribeiro da Silva, da Endesa, entendem que já foram dados passos importantes na abertura do mercado. Joaquim Pina Moura, da Iberdrola, contrariou esta ideia, apontando os atrasos no Mibel e o peso excessivo da EDP.
(Por João Paulo Madeira, Lusa, 30/10/2006)
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