Crescem as vendas de marfim na África Austral
2006-10-30
Continua a preocupação entre organizações ambientalistas em torno das vendas de marfim na África Austral, depois que a Convenção sobre Comércio Internacional de Espécies Ameaçadas de Fauna e Flora Silvestres (Cites) concedeu ao Japão o status de comprador de reservas. A medida aconteceu apesar da decisão da Cites em rejeitar um pedido desse país e da China para realizar uma compra excepcional de 60 toneladas de marfim armazenadas em Botswana, Namíbia e África do Sul.
A Secretaria da Cites, em Genebra, é administrada pelo Programa das Nações Unidas para o meio Ambiente (Pnuma), com sede em Nairóbi. “Nos preocupa que a Cites dê sua benção ao Japão”, disse à IPS Jason Bell-Leask, diretor para a África austral do Fundo Internacional para o Bem-Estar Animal (IFAW). “No Japão é difícil distinguir entre marfim legal e ilegal. Não acreditamos que o Japão tenha feito o suficiente para impedir o comércio (proibido) de marfim”.
“As reservas existentes deveriam ser destruídas e não deveriam ter nenhum valor comercial, pois isso incentiva a caça ilegal”, disse Bell-Leask, chamando a África Austral a seguir o exemplo estabelecido pelo ex-presidente queniano Daniel Arap Moi (1978-2002) nos anos 90. Arap Moi “As queimou, o que reduziu a caça e aumentou a quantidade de turistas no Quênia”, afirmou. Os temores sobre colocar mais marfim no mercado refletem as conseqüências de uma decisão de 1997 por parte da Cites para permitir uma venda de reservas de marfim de Botswana, Namíbia e Zimbábue. Desde então, foram confiscados 13.333 presas de elefantes, cifra que representa apenas a ponta do iceberg, destacou o IFAW.
“A anterior venda excepcional para o Japão colocou os mercados de marfim da Ásia fora de controle”, disse Grace Ge Gabriel, diretora regional do IFAW para a Ásia, em uma declaração escrita do inicio do mês. “Com cerca de 17 toneladas de marfim sob investigação, todas confiscadas em portos asiáticos no ano passado, é absurdo inclusive considerar permitir outra venda a qualquer país”. Segundo Lawrence Anthony, fundador da Earth Organization (Organização Terra), entidade sem fins lucrativos com sede na África do Sul, “No Oriente Distante há um enorme mercado para o marfim; há milhares de empresas que ganham a vida a partir desse elemento. Não fecharão suas portas logo, mas tentarão permanecer no negocio”.
Muitos destes negócios produzem artefatos de marfim, como esculturas, jóias e selos com nomes. “Há muito marfim ilegal no mercado. Basta olhar o Congo, onde milhares de elefantes foram sacrificados somente na última década”, acrescentou Anthony em uma referência à República Democrática do Congo, devastada pela guerra. “O marfim é uma fonte de financiamento para todas as organizações duvidosas, que podem ser políticas ou militares”. Especialista em elefantes africanos, Anthony também é conhecido por salvar leões e um urso cego do zoológico de Bagdá pouco depois da invasão norte-americana no Iraque, em 2003.
Anthony acaba de fechar um acordo com o Exército de Resistência do Senhor, uma organização rebelde de Uganda, para salvar quatro rinocerontes brancos e outras espécies-chave ameaçadas que estão sob seu controle. Os rinocerontes estão no vizinho Parque Nacional Garamba, da República Democrática do Congo, ocupado por esse grupo. Nesse lugar, em 2004 havia mais de 30 rinocerontes, cujos chifres também são muito procurados no Oriente Médio e Oriente Distante, mas, essa quantidade diminui, segundo a Earth Organization. A população animal foi dizimada por organizações armadas que perambulam pelo oriente da RDC.
Na China, os chifres de rinoceronte são usados na medicina tradicional para baixar a febre, e no Oriente Médio para fabricar cabos para punhais. Em certas partes da África querem o fim das vendas de marfim. Outros estão menos decididos sobre este assunto. Mas, um fracasso em resolver o problema de maneira satisfatória é um mau sinal, tanto para a África austral quanto para o resto do continente. “A África austral cobiça 70% da população de elefantes da África, que soma 450 mil. Antes dos anos 80 eram um milhão. Foram mortos por caçadores que queriam suas presas”, afirmou Bell-Leask.
(Por Moyiga Nduru, IPS, 27/10/2006)
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