O Nordeste está se tornando o maior produtor de matéria-prima para a fabricação de biodiesel no Brasil. Dos 603.599 hectares plantados até o começo deste segundo semestre em todo o País, 444.837 estavam concentrados nessa região. No Sul, região que ocupa a segunda posição, havia 88 hectares de área cultivada. Além de grande produtora de mamona – oleaginosa mais cultivada no Nordeste para a fabricação de biodiesel –, essa região também desponta na comercialização do biocombustível. Dos 840 milhões de litros vendidos nos quatro leilões de biodiesel realizados pela Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), 319 milhões de litros têm origem no Nordeste. Ao todo, a região Sul, segunda colocada, vendeu 160 milhões de litros.
Para conseguir bons resultados com o biodiesel, em todos os estados do Nordeste são encontradas experiências com o plantio de mamona ou outra oleaginosa para a produção do novo combustível. Normalmente, a cultura é consorciada com o feijão.
Na Bahia, por exemplo, foram plantados 110 mil hectares com mamona na safra 2005/2006. A expectativa é que nesta safra 2006/2007 sejam cultivados 160 mil hectares. Essa produção pode gerar 80 milhões de litros de óleo. Cerca de 20 mil famílias de agricultores baianos plantam a oleaginosa.
De acordo com Érico Sampaio, coordenador do Programa de Biodiesel da Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado da Bahia (Fetag-BA) e diretor-presidente da Cooperativa de Produção e Comercialização da Agricultura Familiar do Estado da Bahia (Coopaf), seu estado é responsável por 90% da produção nacional de mamona.
Na opinião de Sampaio, o biodiesel veio para fazer concorrência com a indústria ricinoquímica, que utiliza a oleaginosa para produzir cosméticos, por exemplo. “Com a maior demanda de mercado pela mamona, pode haver aumento do preço do quilo dessa oleaginosa”, avalia. “É necessário investir em genética para que a mamona brasileira alcance maiores índices de produtividade e o Brasil volte a ser líder mundial no plantio da oleaginosa”, pondera Sampaio. Além da mamona, os agricultores familiares da Bahia já começam a trabalhar com outras culturas como alternativa à produção do biodiesel, como algodão e girassol.
Mamona no Ceará
Com 10 mil famílias plantando mamona, o Ceará conta com cerca de 20 mil hectares cultivados com essa oleaginosa. José Wilson de Souza Gonçalves, diretor de Política Agrícola da Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado do Ceará (Fetraece), lembra que em 2005 o Nordeste teve a quinta pior seca de sua história, dificultando o desempenho da produção. Ele conta que a mamona já foi uma das principais culturas do Nordeste e considera a política de utilização da mamona na produção de biodiesel fundamental para a agricultura familiar.
“Essa política contribui com a diversificação de culturas, dando sustentabilidade e complementando a renda das famílias. Além disso, é uma alternativa de produção que sobrevive ao semi-árido nordestino”, ressalta ele.
Mais de cinco mil agricultores familiares de 40 municípios do Piauí plantam mamona em consórcio com o feijão. “Nós queremos produzir porque é uma cultura que ajuda a aumentar a renda do agricultor”, afirma Manoel Simão Reinaldo Gomes, secretário de Política Agrícola da Fetag-PI.
Cerca de quatro mil famílias estão plantando mamona em Pernambuco já com garantia de compra da matéria-prima por uma usina de biodiesel. Em dois anos de experiência do Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel, o estado produz uma média de 400 quilos de mamona por hectare. Para Wedson Galindo, assessor de Política Agrícola da Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado de Pernambuco (Fetape), o desafio agora é aumentar a produtividade.
Rio Grande do Norte aposta no programa
Os agricultores do estado se destacam por outro viés: o investimento na produção de sementes de qualidade. Existem atualmente 253 famílias de 76 comunidades envolvidas nesse processo. A área plantada é de 452 hectares. Em 2005, foram produzidos 700 quilos de sementes selecionadas para serem distribuídas em todo o Nordeste. “Nós apostamos no Programa Nacional do Biodiesel”, declara José Gilberto da Silva, assessor técnico da Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado do Rio Grande do Norte (Fetarn).
A Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado do Maranhão (Fetaema), em parceria com Universidade Estadual do Maranhão (UEMA), trabalha na capacitação e conscientização dos agricultores familiares para o cultivo da mamona. Simultanemante, em conjunto com o Banco do Nordeste do Brasil (BNB), a entidade está implantando seis pólos de plantação de mamona consorciada com feijão caupi para fazer teste de sementes. Os pólos são: Baixada Maranhense, Cerrado, Cocais, Chapadas, Pré-Amazônia e Litoral.
Nessas áreas, Fetaema e BNB pretendem verificar a adaptabilidade das sementes para, depois, pedir o zoneamento dos municípios. Eliete Carvalho, da Secretaria de Política Agrícola da Fetaema, diz que o interesse dos agricultores familiares pela plantação de mamona é perceptível. “Eles consideram essa produção uma alternativa para aumentar a renda familiar”, afirma ela.
A área cultivada com mamona na Paraíba cresce ano a ano. Em 2004, foram plantados 667 hectares em nove municípios. Em 2005, passaram a 1.642 hectares em 50 municípios. “A expectativa é de que a área cultivada aumente ainda mais”, afirma Geane Lucena, assessora de Política Agrícola da Fetag-PB. No estado, mais de 300 agricultores plantam mamona.
Alagoas e Sergipe mobilizados
Em Alagoas e Sergipe, as respectivas Federações de Trabalhadores na Agricultura atuam na mobilização dos produtores. Genivaldo de Oliveira, secretário de Política Agrícola da Fetag-AL, informa que em Alagoas cerca de 100 agricultores estão plantando mamona.
“Queremos mostrar que a mamona pode representar renda extra para as famílias”, pondera José Carlos de Jesus Santos, secretário de Política Agrícola da Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado de Sergipe (Fetase). Em parceria com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), a Fetase estuda qual oleaginosa será incentivada no estado, entre mamona, amendoim ou algodão.
(Ministério do Desenvolvimento Agrário, disponível em
Envolverde, 27/10/2006)