A dificuldade em obter financiamento coloca em risco um projeto idealizado pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), com apoio da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos). Pesquisadores pretendem identificar a possibilidade de entrada da gripe das aves no Brasil pelo Sul do continente. O monitoramento e coleta de material junto a aves da Antártica deveria começar em novembro, mas faltam recursos para a pesquisa.
A peregrinação dos pesquisadores da Unicamp e da Unisinos para garantir a execução do projeto Sistema de Detecção Extra-continental da Influenza Aviária já incluiu ministérios da Agricultura, da Saúde e da Ciência e Tecnologia. A previsão inicial era de que com R$ 1,5 milhão seriam desenvolvidos os estudos por dois anos. Agora, os pesquisadores estimam que, com R$ 600 mil, conseguem dar início ao trabalho.
Para reduzir os custos, seria necessário que o Programa Antártico Brasileiro arcasse com as despesas de logística e o Ministério da Agricultura, com os gastos relativos à análise de material - feito no Laboratório de Análises Agropecuária (Lanagro). O ministério já manifestou apoio ao trabalho.
Encabeçada pela Unicamp, a pesquisa envolve profissionais de áreas distintas como a matemática, a biologia e a ciência da computação. Os pesquisadores pretendem investigar a hipótese de que o vírus H5N1 chegue ao país pelo Sul, por meio de rotas de migração de aves da Antártica. O biólogo e especialista em ornitologia da Unisinos Martin Sander explica que a possibilidade só poderá ser comprovada ou descartada se puderem coletar material.
- Se detectarmos que aves que chegam ao Brasil têm o vírus, poderemos montar um plano de controle. Se constatarmos que não têm, ótimo, pois estaremos tranqüilizando a cadeia produtiva. Mas para saber se é verdade ou não, a ciência precisa pesquisar - argumenta.
Para o secretário executivo da Associação Gaúcha de Avicultura (Asgav), José Eduardo dos Santos, mecanismos que favoreçam as defesas sanitárias são bem-vindos.
- Estamos em alerta desde que foram detectados casos de gripe das aves no mundo. E é sempre melhor investir em ações preventivas do que em ações de reparação - avalia.
Coleta está prevista para novembro
Para dar andamento ao projeto, que inclui a coleta de secreção da cloaca e da faringe de 400 a 500 espécies de aves da Antártica, o ideal seria a realização de duas viagens. A primeira expedição, que já está ameaçada pela falta de verba, ocorreria entre novembro e dezembro e, a segunda, entre janeiro e fevereiro.
Mesmo que os pesquisadores consigam viajar apenas no início do ano que vem, o gestor do Grupo de Influenza Aviária da Unicamp, Joel Meyer, afirma que será possível iniciar o monitoramento.
(Por Carla Dutra,
Zero Hora, 27/10/2006)