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2006-10-26
Como restringir a demanda de energia e estabilizar a temperatura global sem sacrificar conforto e produtividade? Uma tentativa de resposta parte da organização não-governamental Fundação Vida Silvestre da Argentina (FVSA) que apresenta uma fórmula na medida do país para reduzir até 30% o consumo energético em 2020. Essa proposta permitiria evitar a construção de cinco a oito centrais térmicas de geração de eletricidade e economizar dezenas de milhões de metros cúbicos de gás natural, segundo seus autores, os quais estima, que no total seriam economizados aproximadamente US$ 6,5 bilhões. Por outro lado, as medidas de eficiência recomendadas supõem um desembolso muito menor, de US$ 250 milhões a US$ 350 milhões em 15 anos.

Trata-se de colocar no mercado produtos de baixo consumo, tornar mais eficiente a produção e conscientizar sobre o problema. Marcelo Acerbi, diretor de Conservação e Desenvolvimento Sustentável da FVSA, disse à IPS que “o ideal seria que a proposta se cristalizasse na forma de uma iniciativa de lei de eficiência energética para dar certa obrigatoriedade às medidas. “Queremos incidir na política publica com este informe”, ressaltou. Para atender a demanda em 2020 seguindo a mesma política atual e o mesmo ritmo alto de crescimento que se registra desde 2001, a oferta energética deveria aumentar 87%.

O governo do presidente Néstor Kirchner, diante dessa perspectiva, anunciou este ano a construção de novas centrais térmicas, mais investimentos em hidrelétricas e o prolongamento da vida útil das centrais nucleares, além de instalar novos reatores. “Para a Argentina, reduzir o desperdício de energia é muito mais rentável do que construir novas termelétricas”, explicou na apresentação de segunda-feira o engenheiro Carlos Tanides, coordenador do trabalho da FVSA, patrocinado pelo Fundo Mundial pela Natureza (WWF).

Dentro da campanha conhecida como “PowerSwitch" (Mude de Energia), a WWF propôs estudar os alcances do uso energético eficiente em 16 países, concentrando-se fundamentalmente no setor elétrico. Além da Argentina, também acontece no Brasil, México, Estados Unidos, Japão e Rússia, entre outras nações. A idéia é promover a conscientização sobre as potencialidades desta política. Entretanto, funcionários do governo argentino convidados para a apresentação às vésperas do informe não compareceram. “Consultamos alguns e nos deram suas opiniões, mas embora o setor público não se interesse, vamos insistir”, afirmou Acerbi.

O informe, intitulado “Reduzir emissões economizando energia”, insiste que o uso eficiente dá lugar para estabilizar emissões de gases causadores do efeito estufa produzidos pela queima de combustíveis fosseis na obtenção de energia. Com a economia, equivalente ao consumo anual de aproximadamente sete milhões de automóveis, a Argentina produzirá 70 milhões de toneladas de dióxido de carbono em 2020, mesmo quantidade que a produzida em 2005. As emissões desses gases contribuem para a mudança climática.

Ao contrário do capítulo argentino da organização ambientalista Greenpeace, que promove principalmente o investimento em energias alternativas (eólica, solar e outras), a FVSA concluiu que usar a menor quantidade delas para obter o mesmo serviço promete ser a resposta mais efetiva a curto e médio prazos para a mudança climática. No documento são propostas tecnologias mais eficientes para a produção e o consumo de energia, melhores projetos e práticas e maior investimento em educação e conscientização do consumidor residencial e industrial, a fim de evitar desperdício. “A alternativa não é aumentar a oferta, mas reduzir a demanda”, afirmou.

“O cenário projetado pela FVSA não implica um sacrifício ou diminuição do serviço proporcionado pela energia, mas baseia-se em tecnologias disponíveis no mercado (embora não necessariamente na Argentina)” para usar de forma mais eficiente o serviço energético. Como exemplo, o informe assinala que uma lâmpada fluorescente compacta permite quatro vezes mais luz do que uma lâmpada incandescente da mesma potência. Entre as propostas, a FVSA afirma que o consumo residencial poderia cair entre 24% e 26% até 2020 se forem feitas campanhas pelo consumo racional e aplicadas medidas como etiquetas em eletrodomésticos informando quais consomem menos ou os padrões de eficiência mínima.

Estes últimos estão vigentes em países onde já é maciça a colocação dessas etiquetas há alguns anos e, então são exigidos valores de consumo máximos dos produtos. Também há tecnologia que evita o consumo durante a espera desnecessária de vídeo-cassete, secretárias eletrônicas automáticas, DVDs ou forno de microondas. “O consumidor ignora que se deixar seu celular carregando mais tempo do que o necessário está desperdiçando energia”, alertou Acerbi. “O mesmo ocorre com eletrodomésticos que poderiam ser desligados quando não são usados ou deixados no modulo apagado”, acrescentou.

Para o setor industrial é proposta uma economia entre 11,6% e 14,3% até 2020 através da eficiência dos motores. A respeito do consumo comercial são propostas medidas para reduzir o consumo em quase 20% em 14 anos. Separar circuitos, instalar interruptores ou aproveitar a luz natural na construção são algumas das recomendações.
(Por Marcela Valente, da IPS, 24/10/2006)
http://www.envolverde.com.br/materia.php?cod=23891&edt=1

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