Geléias, doces, sucos, compotas, polpas e óleos de cozinha de frutas exóticas da Caatinga brasileira como pequi, umbu e maracujá do mato (mais esverdeado e azedo que o maracujá tradicional) serão apresentados em uma feira na cidade italiana de Turim, que começa nesta quinta-feira (26/10). Apesar de pouco conhecidos em boa parte do Brasil, os frutos têm aumentado sua popularidade nos países europeus: cerca de 15% dos derivados de umbu feitos por uma cooperativa baiana tem como destino a França, um mercado conquistado em 2004, durante a mesma feira. Nesta edição, o grupo planeja expandir os negócios para a Áustria e Itália.
A cooperativa CoperCUC (sigla que une as iniciais de Curaçá, Uauá e Canudos, municípios onde estão as comunidades participantes) reúne 200 famílias envolvidas na coleta e na fabricação dos derivados principalmente de umbu, mas também de maracujá do mato, manga e goiaba. São fabricadas anualmente 75 toneladas de produtos beneficiados, o que aumenta em até dez vezes o valor das frutas — um saco com 40 quilos de umbu é vendido para atravessadores por, no máximo, R$ 15, enquanto a mesma quantidade transformada em geléias e outros itens pode ser comercializada por até R$ 150, segundo o gerente-geral da cooperativa, Egnaldo Gomes Xavier.
A entidade é formada por 13 unidades coletivas de produção (cada uma em uma comunidade diferente) e por uma fábrica, responsável por finalizar e embalar grande parte dos produtos. Cerca de 65% deles são comprados pela Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) e direcionados aos projetos sociais do governo na região. Outros 20% são vendidos em mercados de Salvador e Feira de Santana e em exposições em São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Porto Alegre e Curitiba. O restante da produção (15%) é exportado para a França.
O comércio com o mercado francês começou em 2004, quando houve a primeira edição do Terra Madre – Encontro Mundial entre as comunidades do alimento, no Palácio do Trabalho de Turim. Participaram do evento 5 mil pessoas de 150 países do setor agroalimentar. Na ocasião, a pedido dos compradores estrangeiros, a cooperativa passou a fabricar um doce de umbu diferente, com 25% a menos de açúcar. A iguaria tornou-se, no Brasil, a versão light do produto. “Eles pediram um produto menos doce e, como o umbu não é tão azedo, resolvemos criar essa nova linha”, conta Xavier. A novidade, segundo ele, vai ser apresentada na feira, que pode abrir outros dois possíveis mercados. “Já fizemos contato com compradores da Áustria e da Itália e agora [no evento] vamos apresentar os produtos e esperamos fechar negócio”.
Este é o mesmo sucesso que espera ter a comunidade de Cacimbas, no município cearense de Jardim. Cerca de 400 famílias da região foram beneficiadas pelo Projeto de Manejo de Ecossistema do Bioma Caatinga, do Ministério do Meio Ambiente, do GEF (Fundo para o Meio Ambiente Mundial) e do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). Elas foram orientadas a utilizar o pequi, uma fruta típica da região, para produzir óleo de cozinha de forma mais eficiente. “Ajudamos a dar mais sustentabilidade à produção [que antes era feita de forma caseira] e a montar uma unidade de beneficiamento da matéria-prima, que desse mais qualidade e higiene ao produto. A atividade era também muito local e eles foram orientados a buscar novos mercados”, diz Francisco Campello, coordenador do projeto pelo GEF.
Atualmente, a comunidade produz quatro toneladas de óleo de cozinha por ano, o suficiente para aumentar a renda das famílias em até um salário mínimo por mês. “Com o trabalho, eles também passaram a ter mais uniformidade no ganho”, frisa o coordenador. Segundo ele, a feira em Turim será importante para que a atividade se consolide. “É um momento para percebermos que espaço a gente pode conquistar no mercado justo de produtos não-madeireiros e abrir uma frente de comércio para os produtos da Caatinga e, inclusive, para a produção de novas atividades”, diz.
As duas experiências serão apresentadas durante o evento, como projetos bem-sucedidos de agricultura sustentável. A feira reunirá agricultores, produtores e acadêmicos de vários países, para debater formas de utilizar matérias-primas locais para melhorar as condições ambientais e sociais das comunidades. Serão mostradas iniciativas da Etiópia, Filipinas, Armênia, Gabão, Tanzânia, Uzbequistão e Bósnia, entre outras.
(Por Talita Bedinelli, da PrimaPagina para Agência PNUD Brasil, 25/10/2006)