Mudanças climáticas globais, inclusive para a indústria automobilística
2006-10-26
A revista alemã Der Spiegel publicou no dia 17 de outubro uma notícia que quiçá tenha chamado a atenção de várias pessoas, governos e empresas ao redor do planeta. O título da matéria foi “Extremos climáticos transformam a Alemanha” (Klima-Extreme verändern Deutschland) e falava sobre uma simulação científica do clima no futuro, realizada pelo instituto de pesquisa ambiental do governo alemão (Umweltbundesamt).
A simulação tomou como base dados colhidos pelo instituto e previu um aumento de até 3,7°C na temperatura média do planeta até 2100, verões quentes e secos, além de chuvas torrenciais na Alemanha. O Instituto Alemão de Pesquisas Econômicas (DIW) calcula que nos dez últimos anos, somente na Alemanha, as medidas necessárias para remediar as conseqüências das mudanças climáticas já somaram €16,5 bilhões, com gasto futuro estimado em €27 bilhões até 2050.
De acordo com o artigo, não é mais realista falar do teto de 2°C de aumento, estabelecido pela Alemanha e pela União Européia, visto a redução nas emissões de dióxido de carbono demasiadamente grande que seria necessária até 2020. O artigo termina comentando a perplexidade dos cientistas sobre como motivar a participação dos países em desenvolvimento nesta área.
Para Wolfgang Cramer, do Instituto de Pesquisas Climáticas de Potsdam, em entrevista concedida à revista alemã, "nós já demonstramos por tempo demais a essa gente que se pode dirigir a mais de 200 km/h nas rodovias [da Alemanha]. Agora, temos que demonstrar que a vida em casas energeticamente eficientes é possível".
Apesar do Brasil não figurar entre os maiores emissores de gases de efeito-estufa do planeta, ainda possuímos uma noção de modernidade urbana fortemente centrada no automóvel de passeio. No Distrito Federal, por exemplo, a frota de automóveis licenciados cresceu 29% entre 2000 e 2005, segundo o DETRAN-DF. Juntamente com a quantidade de automóveis crescem também a poluição do ar, a poluição sonora e os acidentes, sendo o pedestre a vítima em 37% das mortes no trânsito no DF. A sede da capital brasileira, no seu atual paradigma de desenvolvimento urbano, não tem servido de forma alguma como modelo para o Brasil.
Apesar de ter sido planejado e ser a sede do poder político nacional, o Distrito Federal se tornou em pouco tempo um lugar para carros, motos, vans, angustiantes engarrafamentos, altos níveis de poluição do ar e poluição sonora. O transporte coletivo em regime de concessão é de baixíssima qualidade e não apresenta nenhuma inovação sequer para atendimento eficiente aos usuários, muito menos em termos de tecnologias mais sustentáveis.
Apesar da pressão política inclusive dos sindicatos, o Estado brasileiro deverá rever o papel da indústria automobilística no desenvolvimento urbano nacional, tendo em consideração este cenário de decrescente qualidade de vida e de mudanças climáticas globais. A simples instalação de filtros nos escapamentos dos carros não mais é suficiente para uma vida urbana de qualidade. Fazem-se urgentes medidas para a diminuição do uso de automóveis de passeio, melhorias de vias para pedestres e ciclistas, aliadas ao fortalecimento do transporte coletivo altamente deficiente na grande maioria das cidades brasileiras.
Trens de superfície e bondes elétricos modernos podem contribuir bastante para o transporte urbano no Distrito Federal e em várias outras localidades do Brasil. O incentivo à locomoção em bicicletas, através de ciclovias de uso prático para a ida de casa ao trabalho ou à escola, por exemplo, é fundamental para estimularmos a convivência entre os cidadãos e o sentimento de comunidade em qualquer cidade. Calçadas e ciclovias de qualidade poderiam beneficiar nossa crescente população idosa e deficientes físicos, além de melhorar o potencial turístico de várias cidades brasileiras.
Através de ações preocupadas com a redução do número de carros e dos níveis de poluição do ar e de poluição sonora, o Estado brasileiro poderá demonstrar ao mundo que o desenvolvimento no Brasil está ligado à sustentabilidade econômica e ambiental.
(Por Eduardo Wirthmann Ferreira, Envolverde, 25/10/2006)
http://www.envolverde.com.br/materia.php?cod=23919