Águas do Amazonas já correram ao contrário, diz estudo
2006-10-25
Se você perguntasse a um dinossauro qual o sentido das águas do Rio Amazonas, ele teria respondido, de leste para oeste - o oposto do fluxo atual. Essa é a conclusão tirada da análise de antigos depósitos minerais, sepultados na Bacia Amazônica.
O antigo fluxo para oeste era provocado por uma elevação do solo - que já não existe mais - localizada perto da foz do rio. Essa elevação havia sido criada pela separação entre América do Sul e África e a criação do Oceano Atlântico, durante o Cretáceo, entre 65 milhões e 145 milhões de anos atrás. Mais tarde, com a elevação dos Andes, o rio não teve outra opção além de passar a correr para o novo mar.
"Aconteceu de forma que o Amazonas atual pôde tirar vantagem da localização do leito de um rio e de uma bacia oceânica antigos", disse o pesquisador americano Russell Mapes. Cientistas brasileiros e americanos já haviam sugerido uma teoria de reversão parcial do fluxo dos rios da Bacia do Amazonas, mas nada nessa escala, de acordo com Mapes.
A evidência da reversão vem sob a forma de fragmentos do mineral zirconita, e de sinais da direção do fluxo antigo, preservados na estrutura das camadas de sedimento.
Zirconitas são minerais de grande duração, dotados de "relógios" naturais de urânio, que segue decaindo desde a formação original da rocha. Como resultado, zirconitas podem revelar a existência, no passado, de montanhas e, até, de continentes perdidos.
As zirconitas estudadas por Mapes, Drew Coleman e pelos brasileiros Afonso Nogueira e Angela Maria Leguizamon Vega se destacam porque parecem não ter se originado nos Andes. São tão antigas - de até 2,1 bilhões de anos - que devem ter se formado em montanhas que foram erodidas pelo Amazonas primitivo.
As descobertas da equipe serão apresentadas por Mapes na quarta-feira, dia 25, no Encontro Anual da Sociedade Geológica dos EUA.
(O Estado de S. Paulo, 24/10/2006)
http://www.estadao.com.br/ciencia/noticias/2006/out/24/168.htm