Falta de gás põe em risco uso de usinas térmicas
2006-10-25
A confiabilidade das usinas térmicas foi posta à prova no início de setembro, quando o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) solicitou a operação de 13 usinas, mas apenas oito foram efetivamente ligadas. Conforme o Estado revelou à época, as outras cinco estavam indisponíveis por falta de gás natural. Segundo relatório da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), de 5,3 mil megawatts (MW) demandados, só 1 mil MW foram entregues.
A Petrobrás, que fornece gás natural às termelétricas, alega que tinha problemas técnicos para entregar o combustível a algumas usinas, situação que se comprometeu a resolver até o final do ano. De fato, no planejamento mensal da operação de outubro, o ONS determina o despacho nas usinas Norte-Fluminense e Ibirité, na região Sudeste, e não há restrições para a operação das turbinas.
A estatal, no entanto, reconhece que tem apenas 12 milhões de metros cúbicos de gás por dia contratados junto ao setor elétrico. Este volume, segundo estimativas do mercado, é suficiente para gerar 2,4 mil MW, menos da metade das necessidades da primeira semana de setembro. Para o coordenador do programa de planejamento energético da Coppe/UFRJ, Luiz Pinguelli Rosa, a Petrobrás não poderia mesmo ter gás para todas as usinas, já que parte delas não tem contrato de venda de energia para este ano.
Em setembro, o ONS foi obrigado a despachar usinas mais caras, como a térmica de Santa Cruz, no Rio, movida a óleo, com um custo de R$ 293,62 por megawatt-hora (MWh). Em Minas Gerais, o operador ligou a usina de Igarapé, também a óleo, a um custo de R$ 460,93 por Mwh, já que a usina de Ibirité não estava disponível. A operação de Igarapé, diz relatório da Aneel, custou R$ 22 milhões ao sistema elétrico nacional.
As chuvas das últimas semanas devem amenizar a crise, apontam especialistas, uma vez que as térmicas devem operar nos próximos meses apenas por razões de estabilidade do sistema elétrico. Mas a Aneel pretende saber com que blocos de energia o País poderá contar na hora em que for necessário. Após a audiência pública de sexta-feira, o assunto deverá ser apreciado em reunião interna na semana que vem antes de decisão final.
(Por Nicola Pamplona, O Estado de S. Paulo, 24/10/2006)
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