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2006-10-25
População pede aos políticos soluções para Santa Maria não virar um grande lixão e melhorar a qualidade de vida "Os cardumes de lambaris subiam e desciam por estas pedras. A gente se juntava e ia pescar, toda a gurizada. Isto aqui era um balneário. Logo ali, tinha um açude, com vertente. Tinha tanta traíra que a gente dava de pau nelas".

A afirmação, radiante, é de Antão Moreira, com a autoridade de quem já viveu meio século ao lado do Arroio Cancela, na zona leste de Santa Maria. Antão plantou uma barreira verde para impedir que a água desbarranque sua casa e impeça que a água podre entre em seu pátio a cada enxurrada. Em menos de 35 anos, os peixes que ele pescava se transformaram em lixo, fezes, lata, plástico e uma série infindável de resíduos que a população da cidade atira deliberadamente ao arroio por falta de alternativa ou, simplesmente, porque assim se acostumou a fazer.

- Não tem um ser vivo aqui agora. Também, a cidade foi crescendo, botaram casa e esqueceram do esgoto - reflete Antão, apontando para o córrego que corta a cidade recebendo resíduos das casas, prédios, lojas e oficinas.

O diagnóstico traçado por Antão é o mesmo que especialistas em meio ambiente fizeram do chamado "passivo ambiental", que nada mais é do que a relação de problemas ambientais que o município e, também, a região central do Estado, possuem e as autoridades governamentais têm extrema dificuldade em resolver. Por isso, é chamado de "passivo".

São problemas recorrentes e interligados que figuram como promessas a cada eleição. Enchem a boca dos políticos e a esperança dos moradores. Mas nunca se resolvem.

- É o tempo do tapinha nas costas. Eles tinham de ter mais dignidade. Isto aqui está abandonado. Eles pensam que estão enganando o cara. Na última eleição, andavam por aqui de bota de borracha, prometendo colocar canos. Mas não aconteceu nada - afirma Luís Airton Bibiano, 37 anos, com os pés próximos ao cano que derruba o esgoto de sua casa para dentro do Cancela.

Desiludido, Luís plantou árvores na encosta para proteger sua casa. Mas o lixo emaranhado na cerca de arame denuncia que o nível da água em época de cheia traz um tormento para os moradores do local.

- A gente tomava banho aqui. A cidade cresceu, o lixo aumentou. E aí? Vamos reclamar para quem? - indaga Luís, que há 15 anos mora na beira do Cancela.

Crescimento desordenado cria espiral de degradação
O caso do Arroio Cancela é um exemplo do que acontece por toda a cidade. O crescimento desordenado e rápido criou um espiral de degradação (veja quadro ao lado) que se repete pela região e pelo Estado. Mesmo sendo sinônimo de problema social, os cuidados com o ambiente onde os eleitores vivem e votam esteve qause ausente desta campanha. Nem depois do acidente que provocou uma grande mortandade de peixes no Rio dos Sinos.

- Não levam em conta áreas de preservação. Os órgãos competentes são incompetentes. Não há integração para acompanhar o crescimento da cidade e conhecer a legislação para gerenciar - afirma Marcos Cartana, arquiteto e membro da ONG Integracidade.

A ciranda da morte
- Os problemas ambientais nascem da ocupação desordenada do espaço urbano e rural e de atividades que degradam o ambiente e pioram a qualidade de vida da população
- A cidade cresce para cima das áreas verdes, impulsionada pela especulação imobiliária, produzindo mais lixo, esgoto, espaço impermeabilizados (ruas, prédios)
- O problema é a falta de planejamento. Por exemplo, são criados loteamentos sem esgoto, que acaba sendo lançado nos cursos de água
- Os rios, que poderiam ser uma opção de lazer, viram esgotos a céu aberto, auxiliando na propagação de doenças, inibindo o turismo, provocando alagamentos e prejuízos

Yeda Crusius (PSDB)
- Dar caráter estratégico a Sema no planejamento e coordenação das políticas ambientais a partir das diretrizes estabelecidas pelo Consema e DRH
- Ampliar a participação de municípios no Siga-RS e integrá-los ao processo dos comitês de bacias hidrográficas
- Criação de uma agência ambiental, com caráter executivo, que agregue as funções de planejamento, monitoramento e pesquisa, coordenando as ações de todo o sistema de proteção e desenvolvimento ambiental gaúcho
- Institucionalizar o Balcão Único de Licenciamento para ser uma janela única de contato entre cidadãos e empresas que buscam licenciamento com órgãos ambientais - Centralizar na Sema toda a fiscalização ambiental - hídrica-florestal - para quem já dispõe de licenciamento
- Valorizar o quadro técnico, com definições de funções e qualificações, e reavaliar a política de subcontratação
- Realizar convênio com o corpo de voluntários militares inativos, para desenvolver o serviço de guarda-parques nas 22 unidades de conservação

Olívio Dutra (PT)
- Fortalecer a Sema, integrando os programas ambientalmente sustentáveis adotados em todas as áreas de atuação do Estado
- Revigorar o Conselho Estadual do Meio Ambiente, os Conselhos Municipais de Meio Ambiente
- Apoiar a formação de cooperativas de trabalho para a reciclagem da coleta seletiva e geração de renda
- Promover e apoiar ações de planejamento urbano, com atenção especial para o controle de cheias, controle de doenças e arborização
- Integrar a política de saneamento ambiental com as políticas de saúde, meio ambiente, recursos hídricos, agrárias, povos indígenas e quilombolas, desenvolvimento econômico, emprego e renda, habitação e reforma urbana
- Programas de preservação, recuperação, uso e manejo adequado dos recursos naturais em todos os municípios
- Implementar programas de educação ambiental em todas as instituições públicas - Promover a agroecologia e fomentar novas tecnologias compatíveis com preservação

Saída para o lixão
Dez entre dez ambientalistas da cidade apontam o problema do lixão da caturrita como a pior ameaça ao ambiente em Santa Maria e região. O local, inadequado, condenado, superlotado, invadido, pilhado é uma bomba ambiental de efeito retardado.

Se tudo der certo no edital que a Secretaria de Proteção Ambiental vai publicar até o fim desta semana, a área da Caturrita pára de receber resíduos sólidos até o fim deste ano.

- O depósito da Caturrita é um problema histórico. O novo edital vai prever, além da coleta, um novo destino para o lixo. Terá de ser uma alternativa licenciada pela Fepam. Hoje, a operação não é adequada - afirma Ester Fabrin, secretária de Proteção Ambiental.

Apesar da boa notícia, o assunto lixão e sua novela de 20 anos ainda deixam de cabelo em pé que trabalha por melhores condições de vida para a população. O que alegam os ambientalistas é claro e cristalino, como a água. O dinheiro público investido reverte para toda a sociedade em qualidade de vida, saúde, lazer e ar puro.

Difícil é conseguir que os políticos profissionais tratem o problema ambiental como uma das tão faladas "prioridades" da campanha.

- O poder público não encara a questão como prioridade. Não sei se é descomprometimento ou falta de informação - afirma Marta Regina Lopes Tocchetto, química e especialista na gestão de resíduos.

- É fácil falar no saco de lixo. É preciso inverter a pirâmide investindo em educação. Estamos decidindo que mundo e que cidade queremos para os nossos filhos. Há uma lei, mas há muita impunidade - avalia o presidente do comitê de gerenciamento da bacia do Rio Vacacaí-Mirim, Sérgio Martini.
(Por Carlos Dominguez, Diário de Santa Maria
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