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2006-10-25
As crescentes demandas mundiais de energia aumentam perigosamente as emissões de gases causadores do efeito estufa, e, embora haja novos investimentos em fontes “limpas”, estão sendo ignoradas tecnologias já existentes para reduzir o consumo energético.

A energia é crucial para o desenvolvimento econômico em um mundo onde cerca de 1,6 bilhão de pessoas carecem de acesso à eletricidade. Enquanto meios de comunicação e governos se centraram em se prover de modo mais verde e limpo – biocombustíveis, vento, sol e hidrogênio –, importantes melhorias na eficiência energética poderiam reduzir drasticamente as emissões de gases que causam o efeito estufa, economizar dinheiro e proporcionar um espaço necessário para melhorar e desenvolver novas fontes de energia.

Alguns cientistas estimam que, para evitar a perigosa mudança climática, as emissões mundiais de gases causadores do efeito estufa têm de ser reduzidas em torno de 60% (em relação aos valores de hoje) até 2050. Projeta-se que a demanda mundial de energia aumente 50% até 2030, e que isso faça crescerem 52% as emissões de dióxido de carbono relacionadas com a energia, informou a Agência Internacional de Energia em seu Panorama Mundial de Energia 2005, considerado o informe definitivo sobre energia global. Esse caminho energético é insustentável, alerta a agência, exigindo maiores mudanças.

“A necessidade de reduzir notoriamente as emissões de gases que causam o efeito estufa significa uma revisão drástica de como produzimos energia”, disse Christopher Flavin, presidente do não-governamental Instituto Worldwatch, uma organização ambiental norte-americana. “Enfrentamos a maior transformação econômica desde a Revolução Industrial. Poucas pessoas foram capazes de dimensionar o alcance e a amplitude das mudanças”, disse Flavin ao ser entrevistado. Será necessário encontrar, em escala maciça, maneiras alternativas de gerar energia com pouca, ou nenhuma, emissão de dióxido de carbono, melhorar a eficiência e usar menos energia em geral. “Isto está começando a ocorrer em termos de energia eólica, solar e de biocombustíveis, que crescem em uma proporção de dois dígitos e agora geram cerca de 10% da energia mundial”, disse Flavin.

Entretanto, a eficiência energética na América do Norte foi adiada desde a crise petrolífera dos anos 70. A União Européia é uma exceção: ali, inclusive antigos edifícios de apartamentos são iluminados com lâmpadas compactas fluorescentes de baixo consumo, equipadas com detectores de movimento ou temporizadores para acenderem somente quando necessário. Em contraste, as lâmpadas estão acesas 24 horas todos os dias da semana em corredores e escadarias, bem como escritórios e armazéns, de toda a América do Norte. Neste verão boreal, os países da UE, que em matéria de energia já são eficientes em dobro com relação aos Estados Unidos ou ao Canadá, anunciaram um plano de ação para reduzir em mais 20% as necessidade de consumo até 2020.

“É mais fácil e mais barato melhorar a eficiência energética do que produzir mais energia”, assegurou Nathan Glasgow, consultor do Instituto Rocky Mountain, com sede no Estado norte-americano do Colorado. As oportunidades de melhorar a eficiência energética são quase infinitas, disse Glasgow em uma entrevista. O Instituto, presidido pelo guru energético Amory Lovins, projetou programas para grandes e pequenas empresas que diminuíram drasticamente o uso de energia e economizaram milhares de milhões de dólares. Converter carvão em uma central elétrica norte-americana em energia que acenda uma lâmpada incandescente tem eficiência de apenas 3%, segundo pesquisadores do Instituto Rocky Mountain.

As usinas elétricas alimentadas a carvão gastam 70% da energia que geram em forma de calor e as linhas de transmissão perdem outros 10%. O calor residual de centrais norte-americanas que funcionam com carvão equivale a 20% mais de energia do que a usada por todo o Japão, escreveu Lovins. Tais ineficiências representam centenas de milhares de milhões de dólares nos Estados Unidos e mais de um bilhão ao ano globalmente. Entretanto, os governos preferem construir novas centrais elétricas ou investir em novas tecnologias, como as células de combustível de hidrogênio, apesar de já existirem ferramentas para melhorar notoriamente a eficiência energética, disse Glasgow.

A lâmpada compacta fluorescente é uma delas. Utiliza entre 70% e 80% menos de eletricidade, dura entre de dez e 13 vezes mais do que uma incandescente, e custa entre US$ 2 e US$ 5. “Lâmpadas fluorescentes são usadas mais na China do que nos Estados Unidos”, afirmou Flavin. Índia, China e outros países enfrentam um mundo muito diferente na medida em que se industrializam, no qual há menos petróleo e uma necessidade de reduzir a poluição e as emissões de gases, disse. “Eles sabem que seu caminho de desenvolvimento será diferente e que poderia ser gerado um salto adiante na criação e adoção de novas tecnologias”, acrescentou.

Esse caminho significa usar menos energia enquanto continuam crescendo economicamente, explicou Stephan Barg, alto conselheiro corporativo do Instituto Internacional para o Desenvolvimento Sustentável, com sede na cidade canadense de Winnipeg. “A eficiência não tem a ver com fazer menos, mas com obter os serviços que desejamos com menos energia”, disse Barg ao ser entrevistado. Ironicamente, Estados Unidos e Canadá podem ter mais problemas para fazer este ajuste do que os países em desenvolvimento. “O modo como organizamos nossas cidades na América do Norte, com insustentável expansão urbana, dificulta as melhorias em matéria de eficiência energética”. Durante a crise dos anos 70, estes dois países desenvolveram fortes programas de eficiência energética, mas a maioria caiu em desuso, concluiu.

O governo canadense financiou o desenvolvimento de um projeto de moradias energeticamente supereficientes na década de 70, chamadas R-2000. Contudo, somente algumas milhares foram construídas, porque custam 5% mais. “Se o Canadá tivesse adotado o R-2000 como padrão de construção de moradia, seriamos um país muito mais eficiente em matéria de energia”, assegurou. Até agora, os atuais governos dos Estados Unidos e do Canadá se negaram a ordenar padrões mais elevados nesse sentido ou a estabelecer políticas nacionais de eficiência energética, como fizeram os países europeus. A humanidade responde a crises urgentes, mas ignora as de longo prazo, disse Barg. “Com a mudança climática estamos chegando a uma crise global. A pergunta mais importante é se seremos capazes de responder a tempo. Os políticos e o público não compreendem a urgência do problema da mudança climática”, lamentou.

Links externos

Instituto Worldwatch
http://www.worldwatch.org/

Panorama Mundial de Energia
http://www.worldenergyoutlook.org

Instituto Rocky Mountain
http://www.rmi.org/

Instituto Internacional para o Desenvolvimento Sustentável
http://www.iisd.org/
(Por Stephen Leahy, Terramérica, disponível em Ecoagência , 24/10/2006)

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