Funcionando desde dezembro de 2004, a Barragem São Miguel tem garantido o abastecimento de
água sem cortes no município, mesmo no verão. Conforme a Companhia Riograndense de Saneamento
(Corsan), o sistema deve assegurar água para a cidade pelos próximos 15 anos. Mesmo sem
problemas de reserva, lideranças locais e o Ministério Público (MP) estão mobilizados para
que seja cumprido o projeto original da barragem, de 1996, dobrando a capacidade de
acumulação de água.
De olho num futuro próximo, a proposta seria aumentar em sete metros o barramento e
desapropriar mais 60 hectares às margens do lago, proibindo loteamentos. Hoje, o volume
represado, de 2,9 milhões de metros cúbicos, equivale ao consumo de quatro meses dos 102 mil
habitantes.
- Não temos falta de água no momento, mas não podemos aguardar o caos. A cidade está
crescendo, ninguém inventou uma máquina de fazer água, e a São Miguel é nossa única barragem.
Temos de nos precaver de um estresse freático (fenômeno de secamento de vertentes) - ressalta
Luiz Augusto Signor, presidente da Associação Bento-gonçalvense de Proteção ao Ambiente
Natural (Abepan).
Segundo o superintendente da Companhia Riograndense de Saneamento (Corsan) da Serra, Roque
Reichert, a proposta original da barragem teria sido alterada porque os municípios de Carlos
Barbosa e Garibaldi, que seriam beneficiados pela barragem, encontraram soluções de
abastecimento locais. Ele nega que a modificação tenha ocorrido em função da redução de
recursos - a obra custou R$ 10 milhões e começou a ser construída em 1997.
- Hoje, não há decisão por parte da Corsan de ampliar a represa porque não é uma necessidade
imediata, mas será uma obra importante no futuro - pondera.
Signor contrapõe, afirmando que não há que se aguardar um colapso para tomar uma atitude:
- Começamos a nos mobilizar porque queremos nos antecipar ao problema.
O que é pleiteado
Despoluição e regularização de construções nos 30 quilômetros do curso de água que abastecem
a Barragem São Miguel
Criação de legislação específica para proteção das áreas da bacia de captação dos municípios
de Bento Gonçalves, Farroupilha e Garibaldi
Fiscalização contra especulação imobiliária nas proximidades de arroios e barragem
Elevação da Barragem São Miguel em sete metros
Desapropriação de mais 60 hectares às margens do lago para ampliação do alagamento e aumento
do volume de água como reserva técnica
Preocupação sobre mananciais
Além das questões relativas à barragem, as lideranças bento-gonçalvenses querem a proteção
dos mananciais que abastecem a cidade e passam antes por Farroupilha e Garibaldi. Para a
próxima segunda-feira está agendada a primeira reunião com promotores do Ministério Público
das duas cidades em Bento. Prefeituras e comunidades serão convocadas a trabalhar pela
despoluição dos cursos de água.
O MP supervisionará as articulações jurídicas e políticas para garantir a execução das ações
de acordo com as responsabilidades de cada município. Conforme a prefeitura de Bento, uma das
primeiras providências para proteger da poluição as águas dos arroios é projetar uma estação
de tratamento de esgoto. Hoje, o esgoto dos bairros mais populosos da cidade é despejado nas
águas do Arroio
Barracão.
Até o primeiro semestre de 2007, a Corsan deve concluir o estudo, orçado em R$ 700 mil. A
execução da obra, que deve ficar no bairro Barracão, ficará a cargo da prefeitura e demandará
cerca de R$ 12 milhões, segundo o secretário municipal de Meio Ambiente, Volnei Tesser. De
acordo com ele, sua pasta está organizando mutirões de limpeza de mananciais e campanhas de
conscientização.
(
Pioneiro, 20/10/2006)