Sociedade mobiliza-se contra Usina Mauá
2006-10-24
Moradores de comunidades que seriam afetadas pela construção da Usina Hidrelétrica (UHE) Mauá, índios Kaingáng e representantes da sociedade civil organizada reuniram-se neste sábado (21/10) em Telêmaco Borba, para discutir os impactos do empreendimento e definir novas estratégias de defesa do Rio Tibagi. Eles avisam que a luta não acabou por conta do leilão da usina, realizado no último dia 10, em que Copel e Eletrosul saíram vitoriosas.
João Maria Miranda, 56 anos, dono de uma pequena roça de feijão, foi ao encontro promovido no Sindicato Rural de Telêmaco junto com dez pessoas da família, entre crianças, jovens e idosos. Membros da comunidade ribeirinha do Rio Tibagi, vislumbram a perda de suas casas e de seu sustento, caso o projeto da UHE Mauá seja levado a cabo. “Vivo a 20 metros do rio. A usina vai inundar tudo o que temos. E não acredito nesta história de indenização. Em muitos lugares onde foram construídas usinas, as famílias não receberam nada”, afirmou.
A mesma descrença foi declarada pelo sitiante e inspetor escolar Deolindo Pereira da Costa, o Kiko, 45 anos, que mora e trabalha na comunidade de Lajeado Bonito, em Ortigueira. “Em pânico” desde que soube pelos jornais do plano de construção da usina, ele tem sido um dos mais ativos na mobilização contra a UHE. “Além do Tibagi, tem mais quatro rios que serão afetados: Imbaú, Barra Grande, Lajeadinho e Arroio Grande. E não tem nenhum estudo feito em cima deles”, cobrou. Segundo Costa, sua comunidade está dividida em relação à usina e os favoráveis são, em geral, os mais pobres. “Eles acreditam que vão melhorar de vida. Falta informação.”
O biólogo e coordenador da ONG Liga Ambiental, Tom Grando, contestou o argumento de que a hidrelétrica irá gerar emprego. “É uma ilusão. A construção de usinas não emprega mão-de-obra local, mas sim barrageiros que circulam o país fazendo esse tipo de serviço, gente especializada. Uma vez construída, uma usina não precisa ter mais do que 10 funcionários. A operação é feita à distância”, destacou.
O secretário-executivo da Comissão Pastoral da Terra, Rogério Nunes, viajou de Curitiba para a reunião e disse que a CPT pretende entregar cópias de uma cartilha sobre o Tibagi e a UHE Mauá para arcebispos da região. “A idéia é que o conteúdo chegue até os padres e que estes possam motivar as comunidades a participar da discussão. Vale lembrar que em 2004 a Campanha da Fraternidade teve como tema Água, Fonte de Vida”, recordou. O consórcio formado por Copel e Eletrosul ainda precisa obter licença de construção e operação. Segundo a CPT, seis ações contra o projeto tramitam na Justiça.
(Por Vanessa Navarro, Folha de Londrina, 23/10/2006)
http://www.bonde.com.br/folha/folhad.php?id=24334LINKCHMdt=20061023