Feira dos Agricultores Ecologistas em Porto Alegre comemora 17º aniversário
2006-10-24
Ponto de passagem obrigatório para milhares de porto-alegrenses nas
manhãs de sábado, a Feira dos Agricultores Ecologistas do Bom Fim
está comemorando seu décimo sétimo aniversário.
O aniversário ocorreu neste sábado (21/10). E foi uma comemoração
tradicional. Teve bolo, todos cantaram o parabéns a você, palmas,
balões coloridos e muita alegria. Principalmente, a alegria dos
consumidores que querem afastar de sua alimentação o veneno e ajudar
a inserir socialmente os pequenos agricultores, marginalizados pelas
monoculturas.
Mas, nas faces dos seus fundadores, o que se viu, foi a alegria de
uma das maiores feiras de produtos ecológicos do mundo, estar
plenamente reconhecida pelos consumidores de Porto Alegre.
Entre os que lideraram a comemoração estava a nutricionista Herta
Wiener, uma polonesa de 82 anos, que cortou o bolo de aniversário.
Herta foi uma das sócias-fundadoras da Cooperativa Coolméia (que
iniciou a feira) e aos sábados de manhã, sempre bem disposta, é
constantemente assediada por pessoas que buscam orientação nutricional.
Lá estava ainda o livreiro e ecologista Augusto Carneiro, também com
82 anos, e que explica pacientemente aos jovens sobre a necessidade
de se cuidar do meio ambiente. Carneiro é um dos precursores do
movimento ambientalista no Rio Grande do Sul.
Guerra contra os agrotóxicos
O que estimulou um grupo de jovens agricultores, em outubro de 1989 a
abrir a feira com produtos ecológicos foi a guerra contra os
agrotóxicos. O Rio Grande do Sul vinha de uma bem sucedida luta para
banir os venenos que eram usados de forma indiscriminada nas
lavouras. A tão propalada “Revolução Verde” começava a mostrar seu
fracasso. Agricultores que utilizavam poderosos venenos nas
plantações, adoeciam. Muitos tinham que abandonar o trabalho, que era
a única fonte de sustento da família. Em 1978 era fundada a
Cooperativa Coolméia. Em 1982, a mobilização da sociedade gaúcha
garantia a aprovação da Lei dos Agrotóxicos, uma das maiores
conquistas obtidas até então pelos ambientalistas do Rio Grande do
Sul.
Começaram a surgir alguns pequenos núcleos de produtores no interior
do Estado que não utilizavam agrotóxicos. Segundo a agrônoma Glaci
Campos Alves, esses agricultores sabiam que a Coolméia tinha um ponto
de venda na rua João Telles, em Porto Alegre. “Crescia o número de
agricultores que diziam estar plantando sem agrotóxicos”, relembra
ela. “A Pastoral da Terra defendia a agricultura limpa. Tínhamos
informações de um movimento de produtores ecologistas fora do Brasil.
Os pioneiros resolveram, então, juntar-se. Foram instaladas 14 bancas
na Rua José Bonifácio, lideradas por vegetarianos, produtores da
Serra (principalmente de Farroupilha) e Pastoral da Terra”.
A Feira dos Agricultores Ecologistas, acrescenta Glaci Alves, foi
construída por consumidores que possuíam uma visão macro. “Nossa
intenção”, destaca, “era de que a feira fosse um ponto de troca de
produtos e de informações. Infelizmente não conseguimos êxito total,
pois o movimento urbano ecológico se dispersou”. O próprio consumidor,
segundo ela, perdeu espaço, já que nem todos conseguem estacionar
junto à feira, dificultando o deslocamento. “Mas, apesar dos
problemas”, complementa ela, “nossa feira ecológica é a mais antiga
do Brasil e serviu para inspirar a criação de muitas outras. Temos
recebido muitas excursionistas de outros países que dizem ser esta a
maior feira do mundo só com produtos ecológicos”.
Primeiro aniversário
As lembranças do consumidores são muitas. O publicitário Erani
Mongelos, lembra do primeiro aniversário da Feira. Apontando para uma
das pistas da rua José Bonifácio, ele conta: “Tenho bem presente a
recordação que essa quadra foi fechada e colocaram sete mesas com um
bolo, onde comemoramos o primeiro aniversário. O bolo, que era muito
gostoso, foi distribuído entre os freqüentadores”.
O número de bancas, naquela primavera de 1990, era bem inferior ao de
hoje. Segundo os organizadores, calcula-se que passem cerca de cinco
mil pessoas todos os sábados pela manhã na Feira dos Agricultores
Ecologistas da Rua José Bonifácio.
A comemoração, neste sábado, teve, além do bolo, o sorteio de diversas
cestas aos consumidores. Cada compra dava direito a um tíquete. Cinco
tíquetes, podiam ser trocados por um cupom, que concorria a 17 cestas
com produtos doados pelas 40 bancas que participam da primeira quadra
da Rua José Bonifácio (considerada a quadra totalmente orgânica).
Eram 17 cestos, sorteados pela jornalista e animadora, Cláudia Dreier,
através da rádio poste. Os cestos estavam divididos em seis
categorias: de mudas nativas, de flores, cesto de ceia, do desjejum,
do almoço e do lanche intelectual.
Um lindo sol de primavera completou o cenário de um aniversário que
não deve ser esquecido.
(Por Juarez Tosi, EcoAgência, 22/10/2003)
http://www.ecoagencia.com.br/index.php?option=content&task=view&id=1903&Itemid=2