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2006-10-24
A concentração de metais pesados no fundo de uma parte da Represa Billings, em São Paulo, está até 102 vezes acima do nível máximo recomendado. Dentre essas substâncias contaminantes, destaca-se o cobre. "A quantidade desse metal supera em muitas vezes a indicada pelo Conselho Canadense do Ministério do Meio Ambiente (CCME), órgão de proteção ambiental aceito pela comunidade acadêmica que estabelece limite de teor desses metais e de outros componentes tóxicos no sedimento", afirma Carolina Fiorillo Mariani.

Em seu mestrado, realizado no Instituto de Biociências (IB) da USP, a bióloga avaliou a presença de seis metais pesados (cobre, cádmio, zinco, chumbo, níquel e cromo) nos sedimentos do Reservatório do Rio Grande, que faz parte do Complexo Billings. "Os sedimentos funcionam como um compartimento de registro histórico do que acontece no local", explica.

Separado da represa na década de 80 devido ao despejo das águas do Rio Pinheiros, altamente poluidoras, o reservatório está localizado na Região Metropolitana de São Paulo e é aproveitado para abastecimento público e até como local de recreação.

A bióloga coletou amostras de 29 locais do Rio Grande para conhecer a disposição espacial desses metais - um importante diferencial do estudo. "Essa amostragem é considerada muito grande se comparada com o que se costuma fazer", afirma.

Contaminação
As maiores concentrações de metais foram encontradas próximas à barragem, uma região baixa cujo menor fluxo de água favorece a sedimentação. As concentrações também foram mais altas onde desemboca o Rio Ribeirão Pires. O esgoto proveniente do município de mesmo nome e a proximidade com indústrias e mineradoras são possíveis causas para a forte contaminação.

No caso específico do metal que mais marcou presença nas análises, Carolina aponta como causa potencial o tratamento das águas do local realizado pela Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp). "Sabe-se que a Sabesp já usou sulfato de cobre para combater a proliferação de algas, organismos que acabam dando gosto à água e podem até contaminá-la com toxinas". A bióloga ressalta que não há como saber ao certo que tipo de algicida é usado, pois a Companhia não divulga essa informação.

Além da quantidade de metais pesados, a pesquisadora analisou outros fatores. A presença de sulfeto, por exemplo, pode garantir que os metais não fiquem livres na água. Em um ambiente anaeróbico (sem oxigênio) os metais reagem com ele, formando um composto insolúvel que se precipita e fica depositado no fundo do reservatório.

Mas apesar de ter notado a forte presença dessa substância, a bióloga descobriu que o teor de metais variou conforme o de matéria orgânica. Esse dado chama a atenção porque as possibilidades de destino de metal associado a ela podem ser muitas. Por meio da alimentação, por exemplo, esses metais podem ser incorporados por um pequeno organismo, acumulados e transferidos para um peixe que dele se alimenta, podendo acabar numa mesa de jantar.

Contribuições
A pesquisa de Carolina deixa alguns alertas relacionados à atenção dada à Represa Billings pelos órgãos competentes. Segundo a pesquisadora, a Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (Cetesb) - órgão que faz o monitoramento da represa - coleta água em apenas dois pontos. "Não é possível acreditar que tão poucas amostras possam retratar a situação da represa", afirma. Entre as 29 amostras coletadas houve uma variação muito grande quanto aos fatores e às respectivas concentrações.

A bióloga chama a atenção também para o teor excessivo de metais pesados. "Como o equilíbrio entre água e sedimentos é muito sensível e imprevisível, é difícil ter um controle da localização dos metais no reservatório". E o alerta vai também para o modo como a Sabesp faz o tratamento - que pode contribuir para contaminar ainda mais a água.
(Por Aline Moraes, Agência USP, 24/10/2006)

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