Com a evolução tecnológica, os agrotóxicos passaram a ser mais solúveis em água, possuir baixa capacidade de adesão e ser mais voláteis. Essas inovações, que eram baseadas na manipulação de compostos químicos, criaram substâncias cada vez mais tóxicas, persistentes e eficientes para combater as pragas, o que aumentou a preocupação dos profissionais de saúde pública com a contaminação dos sistemas hídricos. Nesse sentido, Marcelo Veiga, da Fundação Oswaldo Cruz, e colegas resolveram analisar a possibilidade de contaminação por agrotóxicos nos sistemas hídricos superficiais e subterrâneos utilizados para consumo humano direto na região da cultura do tomate do Município de Paty do Alferes, no Rio de Janeiro.
De acordo com artigo publicado na edição de novembro de 2006 dos “Cadernos de Saúde Pública”, “a cultura do tomate em Paty do Alferes é plantada estaqueada e utilizando-se encostas bastante inclinadas. As características geomorfológicas da região quando associadas a um solo pobre e intemperizado favorecem a contaminação dos sistemas hídricos. A elevação da declividade favorece o processo de deflúvio superficial, enquanto a erosão do solo e a falta de cobertura vegetal favorecem o processo de lixiviação dos agrotóxicos”.
No estudo, foram selecionadas 135 amostras para análise, correspondendo a uma coleta mensal durante cinco meses de baixa intensidade pluviométrica no período de março a setembro de 2004, em cada um dos 27 pontos previamente selecionados. A equipe verificou que nos meses de abril, maio, julho e setembro não houve valores acima do permitido pela legislação. Contudo, em dois desses meses, maio e setembro, houve contaminação detectável, ou seja, acima do limite de detecção do método. “Os resultados apresentados neste estudo mostraram que 70% dos pontos de coleta selecionados apresentaram contaminação detectável, o que validou a hipótese de que os agrotóxicos quando aplicados na agricultura podem contaminar os sistemas hídricos superficiais e subterrâneos", afirmam os pesquisadores no artigo.
Dessa forma, eles sugerem a adoção de algumas medidas como a proteção das fontes de água subterrâneas e superficiais; a gestão e o manuseio dos agrotóxicos em áreas de produção rural; a regulação estatal; a educação ambiental; e a adoção de práticas que minimizem os danos ao meio ambiente e a saúde humana. Os especialistas destacam, no entanto, que “qualquer proposta de intervenção deveria passar por programas de educação visando à mudança de comportamento do trabalhador rural com relação ao manejo e utilização do agrotóxico. Para isso, seria necessário que qualquer ação seja planejada de forma participativa, envolvendo de forma sinérgica a comunidade e o poder público local em todo o processo decisório”.
(Agência Notisa, disponível em
Ecoangência, 23/10/2006)