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2006-10-23
Um dos maiores mananciais de água doce subterrânea do planeta, o aqüífero Guarani está sendo contaminado aos poucos na região de Lages, na Serra catarinense. A situação mais preocupante está no bairro Santa Cândida, onde a maioria das casas não tem coleta adequada de esgoto.

Nove residências exigem maior atenção, pois estão localizadas sobre a rocha, num contato praticamente direto com o aqüífero. O local é um dos pontos de recarga, o que permite a penetração do esgoto no solo até chegar ao aqüífero.

De acordo com Katja Volkert, engenheira agrônoma da Secretaria de Meio Ambiente da Prefeitura de Lages, faltam recursos para a retirada das famílias do local. A Prefeitura afirma que aguarda repasse de verba do Fundo Nacional de Saúde (Funasa) para construção da rede coletora de esgoto, que atingiria todas as cerca de 50 casas do bairro. "O novo plano diretor da cidade impede que novas famílias se instalem na área."

O aposentado José Reinaldo Pereira, 66 anos, foi um dos primeiros moradores do bairro. Há 28 anos vive na região. Lembra que quando chegou foi contratado justamente para quebrar pedras e que acabou ficando. "Não gostaria de sair daqui, mas se for preciso aceitarei", diz Pereira.

O professor da Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc), Silvio Luís Rafaeli Neto, presidente do comitê de gerenciamento da bacia hidrográfica do rio Canoas, destaca que a transferência das famílias é uma boa alternativa, mas que as ações estão distantes de sair do papel. "Já é difícil combater a contaminação das águas superficiais, imagine as subterrâneas", constata.

"Temos de unir universidades, poder público e comunidade para preservar nossos recursos hídricos", destaca. Ele lembra que o comitê do rio Canoas está elaborando projeto para o uso das águas da região e a questão do aqüífero deverá ser abordada.

O agrônomo Natal Magnanti, consultor técnico da ONG Centro Vianei de Educação Popular, acredita que o impacto pode ser minimizado com a adoção de medidas sanitárias, como a criação de uma rede de esgoto no local. "O maior problema são os dejetos humanos que podem ser eliminados com o banheiro seco (dejetos são desviados para decomposição em reservatório), tecnologia já disponível", comenta Magnanti. O custo para instalação de cada banheiro é de cerca de R$ 2 mil.

Extração de areia criticada por especialista
Para completar o quadro de risco para o aqüífero Guarani na região de Lages, uma empresa de extração de areia no bairro Santa Cândida desperta crítica de especialistas. Licenciada junto à Fundação de Amparo e Tecnologia ao Meio Ambiente (Fatma) e ao Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), a empresa retira areia do arenito botucatu para utilizar na construção civil.

Jaime Antonio de Almeida, professor de gênese, morfologia e classificação do solo da Udesc, ressalta que a extração da areia no local pode contribuir para a erosão do solo, uma vez que a área tem declive acentuado. "A região deveria ser considerada de preservação permanente por ser área de encosta", frisa Almeida.

Já segundo o gerente regional da Fundação do Meio Ambiente (Fatma), Cosme Polese, a atividade não oferece riscos de contaminação ao aqüífero. "Estamos em constate monitoramento da área."
(Por Luiz Augusto, A Notícia, 23/10/2006)
http://an.uol.com.br/2006/out/23/0ger.jsp

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