América Latina, um exemplo de solução de problemas energéticos, diz Iglesias
2006-10-23
Do gás e do petróleo até o sol e o vento, a variedade de recursos energéticos da América Latina a transformam num exemplo para se resolver alguns dos problemas mundiais, afirmou np sábado, em Madri, o secretário-geral ibero-americano, Enrique Iglesias, que destacou a atuação do Brasil nessa questão.
"Temos uma abundância e variedade de recursos como nenhum outro continente do mundo, não somente o petróleo, o gás, o carvão ou a hidroeletricidade, como também a biomassa, o sol e o vento", afirmou Iglesias em uma mesa redonda sobre os desafios do século XXI em termos de energia, com a qual encerrou seus trabalhos na V Conferência anual do Clube de Madri.
Essa variedade de recursos energéticos poderá converter a região "num pequeno exemplo que resolva alguns dos problemas (...), como uma forma de cooperar com o resto do mundo", afirmou o titular da Secretaria Geral Ibero-americana (SEGIB), horas antes de viajar ao Uruguai, onde, de 3 a 5 de novembro, participará na XVI Cúpula Ibero-americana.
"A América Latina pode e deve constituir um caso especial no enfoque energético, tanto a nível da região, como nas relações da região com o resto do mundo", considerou Iglesias, que por 17 anos dirigiu o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). O dirigente uruguaio mencionou cinco "pilares" nos quais poderá se basear uma futura ajuda latino-americana em termos de energia vinculada ao desenvolvimento.
"A América Latina está em crescimento e isso supõe que precisaremos de energia. Quarenta por cento da população da região, ou seja, 200 milhões de habitantes, são de pobres. Mas a democracia está funcionando, há uma variedade importante de recursos energético e a região tem talvez a maior experiência histórica em termos de cooperação regional", assinalou.
"Estes cinco pilares formam a base do que poderá ser uma resposta à questão energética, útil para a América Latina e para o resto do mundo", enfatizou. "A América Latina tem condições especiais para colocar em andamento um balanço energético diversificado, que nos permita criar uma certa segurança energética, baseada na cooperação e nos mecanismos democráticos".
Iglesias destacou, por exemplo, o papel inovador do Brasil nesta questão com a fabricação de etanol, uma experiência que ele classificou de "inteligente", e não esqueceu do desenvolvimento do biodiesel, que - assegurou - é uma "combinação virtuosa entre energia e desenvolvimento agrícola".
O Brasil é o maior produtor e exportador de etanol combustível (álcool de cana-de-açúcar), que hoje atende a 80% dos novos carros vendidos no país. O etanol, renovável, visa a reduzir a dependência dos combustíveis fósseis. O etanol é um combustível confiável, afirmou o secretário adjunto da Convenção Marco da ONU sobre a Mudança Climática, Feng Gao, que enfatizou que, em 2005, 88% da eletricidade consumida no Brasil se originou da energia hidráulica.
"Tomara que o debate energético possa encontrar em nossos 550 milhões de habitantes e nos países que compõem essa população um exemplo de políticas internas balanceadas e que respeitam o meio ambiente", confiou Iglesias. "Mas, ao mesmo tempo, ver se somos capazes de levar adiante uma política que nos permita um programa de segurança energética baseado nesta vocação de cooperação, tentando conter os riscos políticos", concluiu o titular da SEGIB.
(AFP, 21/10/2006)
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