Privatizar a Amazônia para preservá-la é uma idéia terrível, afirma Al Gore
2006-10-20
Al Gore é hoje a maior estrela mundial entre os ativistas ambientais. Ex-vice-presidente dos Estados Unidos e candidato derrotado por George W. Bush nas eleições de 2000, o democrata agora viaja pelo mundo realizando palestras e alertando sobre os riscos do aquecimento global. Para quem espera truculência ou arrogância de um político americano, Gore surpreende. Ele desdenha da estratégia de compra de terras na Amazônia por investidores estrangeiros, com vistas à preservação da floresta: "Acho essa uma idéia terrível. Sabe por quê? Porque enfurece os brasileiros. E nós não podemos sustentar isso", disse à reportagem do Amazonia.org.br.
Tem razão quanto aos sentimentos nativos. No início desse mês, matéria do jornal Daily Telegraph sobre um suposto plano do governo britânico para transformar a Amazônia em uma grande área privada repercutiu mal em terras brasileiras. O ministro inglês do meio ambiente, David Miliband, apressou-se em negar a tese do jornal e disse ter sido “mal interpretado”. Por aqui, o Itamaraty e o Ministério do Meio Ambiente se esmeraram em garantir por meio da imprensa que uma proposta como essa não seria sequer avaliada pelo governo.
A conservação de florestas figura entre as peças-chave para o combate às mudanças climáticas. Sendo a Amazônia a maior floresta tropical do mundo, era de se esperar que o maior porta-voz dos riscos do aquecimento global fosse partidário de qualquer plano para manter suas árvores em pé. Mas a condenação categórica de Al Gore indica que, se a Amazônia pode servir ao bem-estar da humanidade, é primordial ter o Brasil como parceiro, não como adversário. No que se refere às relações internacionais, a soberania do país não parece ser fácil de contornar.
A declaração foi feita durante coquetel que antecedeu a entrega do prêmio "Eco 2006", da Câmara Americana de Comércio, no auditório do Ibirapuera, em São Paulo. Gore foi o convidado especial e encantou com sua palestra a platéia de executivos e ambientalistas. Bem-humorado, saiu-se com piadas como "Sou um político em recuperação. Estou por volta do sétimo passo", e ainda o jargão já consagrado, "Eu costumava ser o futuro presidente dos Estados Unidos".
O palestrante não hesitou em reconhecer seu país como principal poluidor do planeta. Entre imagens e gráficos apresentados para ilustrar a crise climática, uma fotografia de satélite do estado de Rondônia em 95 e outra em 2001 revelavam o grave desmatamento. "Isso se deve principalmente às queimadas", disse ele, "mas nós (EUA), não podemos ensinar nenhuma lição a vocês (brasileiros). Somos muito mais irresponsáveis com queimadas".
Al Gore aproveitou para promover o documentário "Uma verdade inconveniente", em cartaz em São Paulo, no qual apresenta verdades sobre os problemas ambientais do mundo. Para ele, vivemos uma emergência planetária de grande escala, a primeira da história, mas a crise também poderá ser primeira oportunidade para que o mundo tenha um propósito moral comum.
(Por Carolina Derivi, Amazonia.org.br, 19/10/2006)
http://www.amazonia.org.br/noticias/noticia.cfm?id=224372