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2006-10-20
Um estudo recém-concluído mostra, concretamente, como o aquecimento da Terra está afetando o Brasil. Por causa do aumento da temperatura mundial, as massas de ar frio que chegam ao País pelo Rio Grande do Sul estão deixando de se formar numa área fixa do mar da Antártida e passando a se originar algumas dezenas de quilômetros a leste.

Parece pouco, mas faz toda a diferença. As massas polares que nascem no novo local são muito mais geladas e não chegam ao Brasil com a mesma freqüência. Quando vieram, foram elas as responsáveis pelo verão mais frio das últimas três décadas no Rio Grande do Sul. Quando deixaram de vir, provocaram o inverno mais quente.

Em fevereiro de 2004 (verão), a temperatura esteve 1,2°C abaixo da média dos últimos 30 anos para o mês. Em julho de 2005 (inverno), 3,5°C acima da média. As temperaturas médias foram de 22,5°C no verão e de 17,2°C no inverno.

O estudo foi realizado por cientistas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) em estações meteorológicas montadas em três diferentes pontos da Antártida. O trabalho foi apresentado neste ano em congressos científicos nos Estados Unidos e na Austrália. Neste mês, foi um dos temas centrais de um simpósio na Universidade de São Paulo (USP).

Equilíbrio
A cada estação, o ar da atmosfera tende a se equilibrar seguindo as leis da termodinâmica. No verão do Hemisfério Sul, por causa da maior intensidade dos raios solares, predominam as massas de ar quente, que sopram do equador para os pólos (sentido norte-sul). No inverno, a intensidade dos raios solares é menor e, em razão disso, são mais fortes as massas de ar frio, que sopram dos pólos para o Equador (sentido sul-norte).

As massas polares que afetam o Brasil não vêm exatamente do continente antártico, mas do Oceano Austral (ou Oceano Antártico). Se partissem do continente, seriam extremamente geladas e secas, como as que atingem o Canadá. As massas polares originadas no oceano são mais amenas e úmidas.

As massas “brasileiras” nascem, mais especificamente, no Mar de Bellinghausen, a oeste da Península Antártica. Isso, porém, está sofrendo alterações. O aumento da temperatura do planeta, principalmente pelo aumento dos gases poluentes, está alterando a dinâmica da atmosfera e fazendo com que os ventos fiquem cada vez mais fortes. No caso, os ventos mais potentes vêm do Oceano Pacífico e empurram a origem das massas para o Mar de Weddell, no outro lado da península.

As massas de ar que nascem em Weddell são mais frias porque lá há mais mar congelado que em Bellinghausen. Elas - ainda não se sabe o motivo - não chegam ao Brasil nas mesmas épocas que as massas polares tradicionais. “A tendência é que a influência de Weddell sobre o País seja cada vez mais marcante. A variação climática deverá ir a extremos”, diz o professor da UFRGS Francisco Aquino, que, com o apoio do Inpe, realizou a pesquisa para sua tese de doutorado.

Os efeitos, segundo ele, serão sentidos principalmente na agricultura. “Quem planta depende do regime de temperatura. O calendário agrícola terá de ser revisto.”
(Por Ricardo Westin, O Estado de S. Paulo, 19/10/2006)
http://www.estado.com.br/editorias/2006/10/19/ger-1.93.7.20061019.6.1.xml

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